Julho sempre era mais frio. Uma neblina arrastava os pensamentos para a terra dos meus ancestrais e tudo tinha um aroma de leite fresco. Lembro como hoje e lembrarei amanhã, do leite branquíssimo que eu levava com a dificuldade dos meus sete anos. Era uma grande responsabilidade, havia disputa escancarada dos mais novos, que perdiam o posto de carregadores de leite para aqueles com mãos mais fortes. Naquele dia, fui a escolhida e com muito orgulho observei a senhora gorda derramar o líquido branco na minha frente e no meu balde. Ela tinha um pesado andar e abria a porta com satisfação. Nela dizia: vende-se leite. Ainda sinto o forte cheiro em minhas mãos, aroma bom! Imagem boa, uma grande cachoeira para os olhos. Imaginava morar ali. Eram segundos de distração. No peito, o triunfo e nas mãos, o nervosismo. Os pés cambalearam nas ladeiras daquela cidade. Perto do cuscuz amarelo, o leite se fez. Missão cumprida! Fui brincar de queimada no meio das ruas de Santana...
Enviado por Lúcia Nobre
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