Meus tempos de Estudante
2° capítulo
... O ônibus deu partida, a neblina ainda encortinava o cenário, e lá atrás, encostado ao poste observando a marinete que se perdia na extensão da Avenida, meu velho pai se rendia a tristeza com a saída do seu filho de seu domínio em busca do sucesso. Naquele momento encostei a cabeça na poltrona, fechei os olhos para não ver através da janela aquele cenário bastante conhecido que aos pouco ia se perdendo na turgidez da distância. Logo adiante, a minha direita, avistei o Mandacaru, lugar de mundanas na Lagoa do Junco onde anos depois eu comporia ali a canção "Saudade". Em seguida as cidades de Dois Riachos e Cacimbinhas. O meu pensamento agora planava sobre o conteúdo da carta que o deputado, Padre Madeiros Neto havia escrito concedendo-me uma bolsa de estudo no Colégio Marista. Aproveitei o silêncio do meu interior para fantasiar os meus dias futuros naquele famoso colégio da capital alagoana. Eu iria estudar no meio de gente grande. Após chegarmos a Palmeira dos Índios o ônibus fez uma parada para o café no Restaurante Rodoviário. Permaneci no interior do veículo, pois não tinha competência para desemboçar algum dinheiro para a primeira refeição do dia, poderia fazer falta depois. Conformei-me, lembrei-me que já havia forrado o estômago em casa antes de viajar com cuscuz de milho ralado, feito pelas mãos santas da minha doce mãe acompanhado de café com leite e bolachão dormido comprado na bodega de Seu Oséias na véspera da minha viagem.
Por volta de onze horas o ônibus estava chegando à rodoviária de Maceió, no Bairro Levada a algumas dezenas de metros do Quartel da Polícia Militar. Despedi-me do Expresso no momento da entrega da passagem. Segui sem ter um rumo certo, não conhecia Maceió e tão pouco para qual lado ficava o Colégio Marista. Era um matuto na praça em busca do tesouro perdido nos anseios do desejo de estudar. Pedi informação, estava ficando sabido. De repente estou passando em frente ao Bar do Shoop, senti o cheiro de comida e logo o estômago reagiu com um tremendo "reboliço". Procurei me controlar degustando em pensamento como se estivesse saboreando aquela comida tão apetitosa. Apressei os passos, segui por uma das ruas do comércio, dobrei a esquerda e mais adiante à direita, onde encarei uma ladeira que me lavaria ao Colégio Marista lá no Farol. Minhas mãos estavam suadas, já não conseguia manter firme a mala com todos os meus pertences, aqui e acolá, enquanto seguia ladeira a cima, fazia uma parada para aliviar as dores nas costas. O suor minava em meu rosto, enquanto o meu sapato "Passo Doble" infernizava meus pés ameaçando engolir as meias. Não podia tomar um táxi porque não sabia o que viria pela frente. Lá do alto, quase no final da subida, olhei para trás, contemplei aquela beleza de cenário e me lembrei das minhas escaladas as Serras do Cruzeiro e do Cristo na minha querida Santana do Ipanema, era um mundo imitando o outro.
Já passava do meio dia quando finalmente consegui chegar ao local tão sonhado. Estava em frente ao Colégio Marista. Parei um instante, arriei a maleta no chão, do meu lado direito, abri-a e retirei o envelope contendo a carta. Respirei fundo, repuxei as meias e parti em direção a entrada...
(Continua no próximo capítulo).
Aracaju/SE, 28/07/2008
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