O samba está presente em minhas veias, a batida do tamborim, me faz relembrar histórias familiares, me leva ao passado, onde a primeira imagem que me vem pela frente é a do meu Tio Zuza , homem de estatura baixa , semblante sério , mas um eterno apaixonado por carnaval. Tio sempre presente na história de minha vida, gostava de carinho, prestativo, aparentemente muito sério, sempre calado, mas que se rendia aos meus carinhos. E foi com ele que aprendi o amor pelo carnaval, pelo samba, pela admiração a escolas de samba. Quando ouço a batida do tamborim, me reporto a antigos carnavais, onde desfilava em sua escola de samba, onde admirava seu poder de liderança, através de um simples apito e um tamborim, instrumento esse ritmado, determinante do início de todas outras batidas que o seguiam.
Ficava sempre a espera inicial do tamborim, que som maravilhoso e ritmado que ele escoava, ele transmitia a batida de um coração, iniciando de forma lenta, porém determinada e de repente era ele que determinava o ritmo a ser seguido. Instrumento muito pequeno diante aquele mundaréu de outros instrumentos, até maiores que ele, porém sem a força que ele possui. Samba para mim é como uma renovação, início de um processo determinante de alegria, de iniciação de festa e comunhão entre pessoas. Sempre ouvi falar que tamanho não é documento e meu Tio sempre me provou isso, com seu pequeno tamborim em punho, esse instrumento me confirmou essa ideia, porém me provou também que na vida sempre existi um líder, alguém que direcione nossas ações, que só após sua determinação ou direcionamento algo acontece.
Lembro até hoje daquele homem de estatura pequena, mas com um grande liderança, com seu tamborim em punho, era quem determinava a hora de se iniciar a festa. A última vez que ouvi seu som, foi na despedida de meu Tio Zuza, estávamos todos nos despedindo dele após sua partida e meu Tio Joãozinho, o retirou de uma sacola e no silêncio começou a toca-lo, fui pega de surpresa, mas dessa vez o som que saia do tamborim era de tristeza, compassado, que a cada toque machucava mais meu coração, foi saudoso. Foi triste. Foi despedida...Mas em 2017 fui a uma festa chamada de Reencontro e lá estavam várias pessoas, dentre elas meu primo Rossone , quando de repente ouvi um som bastante conhecido e quando dirigi meu olhar a ele, reconheci um instrumento em suas mãos e era ele, o antigo tamborim de meu Tio Zuza , me aproximei e me emocionei, ele estava com uma nova roupagem e me trouxe muitas recordações. O tamborim estava lá...mas seu dono, fisicamente não estava, mas tenho a certeza de que espiritualmente se fez presente, a direcionar aquele som compassado e único.
Saudades daquela batida...Saudades....
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