“Todos são realmente pessoas?
Quem são aqueles a quem chamamos de pessoas?”
(Anísio Teixeira/educador brasileiro)
O que realmente importa? Quais são os valores que deveriam ser constantes na vida humana? Como o sujeito pode no seu silêncio “falar” que está precisando de ajuda? Qual o papel da família na vida daqueles que se entregam aos enleios torpes de momentos de fuga da realidade?
Este tipo de questionamento faz muito sentido à vida humana, pois diz respeito diretamente à condição dos indivíduos da espécie homo sapiens. O entendimento dessas questões impele sobejamente ao entendimento que isso – a certeza de que as ações de autonegação e fuga da realidade – independem da condição econômica, social, cultural, da vertente política ou sincretismo religioso. Tem haver com o humano, exclusivamente com o humano. São inquisições, que quando feitas causam inquietações, dúvidas, levam a inferências que não são plausíveis aos desprovidos de sensibilidade e “crítica”. Esta ultima pautada em normas éticas de valoração do outro enquanto pessoa.
Àqueles que buscam alento nos becos escuros e tortuosos da existência almejando uma fuga ou mesmo um momento de alívio paras os problemas familiares, conjugais, dívidas, crises existenciais, dúvidas da alma, autonegação encontram justificativa para tal condição no medo. A psicologia descreve o medo como sendo a nossa falta de controle sobre o ambiente. O homem teme a quilo que desconhece...
O medo é comum à condição humana, está tão arraigado no indivíduo da sociedade pós-moderna que é como se estivesse na sua matriz genética. Ele possibilita a este indivíduo uma visão diferenciada da vida, do outro, do momento. Alguns acreditam que o medo é o que nos impulsiona a ações que normalmente não desenvolveríamos, outros já acham que é altamente nocivo, para outros o medo é salutar e tem suas benesses ao passo que possibilita o entendimento da importância de se analisar mais cuidadosamente as condições que se apresentam e o momento de cada uma delas.
Pode-se perceber a presença do medo sob os mais variados aspectos da vida humana. Alguns têm medo de água, do fogo, de cães, de baratas, de altura, de computador, de “ler e escrever”, dentre outros. Uns têm medo da solidão; crianças, por exemplo, têm medo do “escuro”; alguns adultos ao contrário, têm medo da sobriedade, pois esta apresenta e trás consigo o perigo da realidade às claras. Mais uma vez questões afloram e inquietam.
Mas por que será que as pessoas sentem tanto medo da realidade para chegar ao ponto de cruzar a tênue linha que existe entre a razão e a loucura? Como entender alguém que atenta contra a própria vida? Que motivos levam o individuo a não se perceber mais como pessoa? Quais as causas da autonegação?
É comum perceber que existem momentos aterradores (para quem passa por estes momentos, pois para quem está “de fora” tudo não passa de “fraqueza”, “falta de Deus”...) na vida de algumas pessoas, são momentos em que o ser humano se abandona, se nega e se entrega à uma força superior que desmembra a alma e a vontade...
Explicações meramente especulativas e alienadas dão conta de que tal condição fosse causada por “entidades”, ou ainda, pela falta de uma vertente filosófico/religiosa, para outros seria a ausência de uma certa condição moral, conhecida por vergonha*. Tais explicações são fruto de mentes fracas e desprovidas de circunspecção. São oriundas de indivíduos de “razão duvidosa”. São elementos que se consideram arautos da moral e dos bons costumes, pessoas que se vêm como representantes diretos da divindade. Na realidade são pobres... de caráter, discernimento, cultura e conhecimento. Mas, compreender, aceitar e compadecer-se do outro – aquele que causa risos nas “pessoas” com seu andar trôpego e cambaleante, o bêbado, o drogado – enquanto pessoa não é fácil, nem um pouco, nem um pouco mesmo!
Quantos “se foram” sem ter o respeito da família, dos filhos, dos amigos, da sociedade. E não importa se foram vencedores no passado, se viveram dignamente, no momento em que se entregaram ao vicio, todas as suas conquista caem por terra, todas as noites de sono trabalhando pela e para família perdem a importância, pois a partir desse momento (do vício) são vistos como derrotados. Passam pelo processo de coisificação, perdem a condição de pessoas, pois pessoas são aquelas que riem dos de andar trôpego.
*VERGONHA - Condição psicológica e uma forma de controle religioso, político, judicial e social, consistindo de idéias, estados emocionais, estados fisiológicos e um conjunto de comportamentos, induzidos pelo conhecimento ou consciência de desonra, desgraça ou condenação.
Dedico este texto a C.S.S.
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