Nenhum ser humano pode dizer que vive sem que aprenda, sem que tenha aquilo que verdadeiramente nos distingue dos animais: Conhecimento! E o processo que é responsável pela aquisição deste conhecimento recebe o nome aprendizagem, e esse processo compreende infindáveis ações humanas...
Aprendemos a olhar, andar, falar, gesticular, escrever, ler, pintar, amarrar o cadarço, vestir a camisa, enfim, nós aprendemos até a sentir. Mas este mesmo processo de aprendizagem acontece de maneiras diferentes entre as pessoas, pois depende de estímulos externos, “geralmente” de pessoas mais velhas, pessoas mais próximas. Assim, o processo de construção do conhecimento só pode ser efetivado mediante outro processo que é de igual importância: o da leitura! Mas não se lê apenas livros ou revistas, ou jornais, antes, o mundo. Lemos sensações, situações, sentimentos, gestos, trejeitos, etc. o ato de ler o mundo nos permite viver entre as outras pessoas, entendendo e assimilando. Quanto ao ato da leitura propriamente dita, aquela que permite a decodificação de símbolos gráficos, esta está cai a cada dia, cada vez mais em desuso, haja vista “não haver realmente a necessidade de leitura” no mundo moderno, onde ao toque de um botão o mundo se abre em uma infinidade de respostas prontas, sem a necessidade de uma leitura, uma pesquisa em um livro ou em uma revista. Percebe-se que muito pouco se busca o recurso da leitura na sociedade moderna. O mais triste, ou o mais preocupante é que nesta mesma sociedade moderna o local onde menos se lê é justamente aquele onde mais este ato deveria acontecer: na escola. Pois é, pode parecer descabida esta minha Afirmação, – isso mesmo, Afirmação com “A” maiúsculo – de que a instituição responsável pela formação acadêmica seja este local desprovido de leitura. E os motivos são os mais variados. São professores(as) que não possuem o hábito da leitura – isso mesmo –, coordenadores(as) que preocupam-se apenas em fotografar projetos fadados ao fracasso em virtude da inoperância das instâncias que gerem a educação, assim como pelo descompromisso de alunos e professores, dentre outros. O Sistema Educacional Nacional decrépito e copista que impele alunos e alunas apenas a reproduzir em seus cadernos o que está no quadro, planeja ações de ingresso às universidades, -o(a) aluno(a) “tem” que ir pra faculdade – sem levar em conta se esse(a) aluno(a) sabe ou não, se ele(a) sabe ou não ler. Ler tornou-se uma ação de segundo, terceiro ou quarto plano. Aluno(a) de terceiro ano do ensino médio que não sabe ler é uma verdade cruel e real em nossas escolas. Mas o problema vem de longe, vem lá da base, e não falo dos anos iniciais, falo da base familiar, pois muitos(as), muitos(as) mesmo destes(as) jovens nunca aprenderam a respeitar limites; nunca foram educados a ter sede pela independência e pelo conhecimento; jamais foram encorajados a perceber que no mundo existe necessidade do saber para que a partir deste se percebam as diferenças e que por isso devem buscar se efetivar mediante a aquisição do conhecimento, lendo, pensando, pesquisando. Estes chegam a escola e são vitimados ainda mais por professores(as) sem um mínimo de compromisso, pois de nada adianta ao sujeito ter um diploma superior se este não lê e não produz.
Sempre achei a leitura é um ato de emancipação, pois ela nos permite pensar, entender, compreender o que acontece ao nosso redor, e até em nós mesmos.
Para o professor Gilberto de Macedo1,
“Ler não é simplesmente ver – letras, palavras, frases, textos. Os cegos lêm sem o aparelho visual, com as mãos [...] mais que isso, ler é compreender [...] Ler é, assim, entender o significado do texto. E resulta de um ato do leitor, como um sujeito. Não é, portanto, um processo passivo de mera recepção e gravação na mente do que está escrito. Mas, resulta de um procedimento ativo, de um dinamismo psicológico do leitor sobre a escrita [...] O entendimento do texto adquire-se através da conquista do seu significado [...] Não basta, pois alfabetizar. Não compreender é uma forma de analfabetismo chamado funcional [...] Aprender a ler é, desse modo, uma tarefa urgente, se queremos [...] Ler é uma experiência pessoal de elevado valor. Tanto pela utilidade que oferece como fonte de conhecimento, como pelas emoções agradáveis que provoca. [...] Conforme seja silenciosa, ou seja falada, a leitura proporciona outras formas de prazer. Assim, na leitura silenciosa, o prazer resulta da inteligibilidade representativa do próprio texto, da mensagem que a escrita transmite. [...] Por isso se diz que ler é uma arte, que se há de fazer através da apreensão de sua harmonia de forma e de significado. E é também um processo educativo, isto é, que se realiza plenamente por mecanismos de aprendizagem, e cumulativamente em várias etapas, a saber: leitura elementar na alfabetização, leitura reflexiva visando o significado das palavras, leitura crítica e especulativa do sentido das frases, leitura sintética da assimilação da experiência de ler. [...] E mais que isso, ler bem, no sentido de prazer – afetivo, imaginativo e intelectual – não é fazê-lo quantitativamente, mas de maneira qualitativa, aprendendo a sua estética e a sua conseqüente utilidade.”
Os(as) especialistas; aqueles(as) observam a escola pelo lado de fora, aqueles(as) que apenas supõem como seria (nos dias de hoje) uma sala de aula acreditam ter a solução para o grande problema educacional vigente. Suposições mirabolantes, achismos não resolverão o problema da educação, ou falta desta. Alunos que chagam as universidades sem saber ler – já que o processo seletivo é falho – representam o grande e preocupante número de mentes opacas que serão responsáveis pela manutenção da sociedade brasileira. Para piorar, há uma interpretação totalmente equivocada – de propósito, claro – de que o aluno do 3º ano do ensino médio não precisa concluir o ano, basta ele “passar” no vestibular que assim terá acesso a universidade. A referida interpretação é com relação a LDB, e é uma ação inconstitucional. Mas como esperar que isso deixe de acontecer se algumas pseudoescolas legitimam essa atrocidade intelectual? Se estas “empresas que vendem o saber” incentivam seus alunos(clientes) para que acionem a justiça para garantir esse direito de acesso a universidade? Como querer que os(as) alunos assistam aula, apresentem trabalhos, leiam os livros sugeridos se pais e mães irresponsáveis brigam com os(as) poucos(as) diretores(as) sérios(as) para que seus(as) filhos burlem a lei e sejam promovidos(as)? Ah! Como disse um advogado amigo meu:
- Fazer o que se a escola não lê? Essa brecha na lei só existe porque ninguém da escola sabe que é inconstitucional!
Ficam aqui duas perguntas sem importância:
Quem gostaria de ser atendido por um(a) médico(a) semianalfabeto(a)? Quem confiaria a vida de um(a) filho(a) a este(a) médico(a)?
Quem gostaria de ser defendido(a) por um(a) advogado(a) semianalfabeto(a)?
.........................................
MACEDO, Gilberto de, Educação, Ciência e Vida. Ed. Edufal. Maceió, Alagoas. 1988. p. 57; 58; 59; 60.
Comentários