"O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são."
Protágoras de Abdera (480–410 a.C.)
Quando falamos em termos como plenitude, quando pensamos em efetivar uma “vida plena”, quando objetivamos transpor a tênue linha da exacerbação e alienação do ter em detrimento do ser estamos nos colocando sob a égide da humanização. Sendo que tal ação implica na seguinte reflexão: quais são ou quais devem ser as minhas prioridades? Á esta pergunta pode-se agregar outra: “Quais os melhores bens? As virtudes, a força, o poder, a riqueza, a beleza, a saúde ou os prazeres sensíveis?”1
Mas é preciso que se Compreenda que a estas questões cabe substancial ponderação. Isso leva-nos a rever o conceito e fundamentação daquilo que aprendemos na infância dentro de casa com os pais, com os mais velhos, e que muitas vezes por conveniência ou mesmo por desinteresse esquecemos: a Ética. Esta permeia – ou pelo menos, subentende-se deveria permear – a ação e a reflexão dos homens. A Ética tem como base três questões elementares. São elas: quero; posso; devo. Pois existem coisas que eu quero, mas não posso; existem coisas que eu posso, mas não devo e existem coisas que eu devo, mas não quero. Destarte, a reflexão e a ação do homem precisam ser e ter como norte a ética, para que assim este mesmo homem possa se efetivar com as outras pessoas levando-o a se perceber verdadeiramente pessoa, também isso o levará a responder àquelas questões anteriores. No entanto, na sociedade hodierna o que se percebe ser a mola motriz tem sido o ter em detrimento do ser! É isso que tem levado aos conflitos, às negações do outro enquanto pessoa.
Mas, afinal de contas, o que é que move esse homem? O que é que o faz seguir sempre adiante? Por que é que muitas vezes, mesmo tendo conquistado tanto, parece que ainda fica faltando alguma coisa, que geralmente não sabemos o que é? Agonias pessoais rondam cada ser em seus silêncios, inflam-nos em nossos medos e anseios de fuga. Fazem com que percebamos o outro sempre enquanto rival. Leva-nos a olhar sempre com desconfiança àqueles diferentes de nós, aqueles que não falam como nós, que não se vestem como nós, que não fazem parte do mesmo grupo que o nosso, daqueles que têm outra condição sexual, outra cor de pele, dentre outros. Mas mesmo assim, com ações deletérias sociais e (a)morais almejamos a redenção – geralmente pela divindade. Isso pode ou não soar como hipocrisia, mas isso não nos importa, pois como disse Sartre: o inferno são os outros. É preciso perceber que a vida é muito curta para ser pequena! Dessa forma, cabe ressaltar que á medida em que eu me abstenho do outro, me abstenho de mim mesmo, pois ao final, somos todos possuidores dos mesmos elementos constitutivos.2
A máxima de Hobbes “O homem é o lobo do homem” nunca esteve tão atual.
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1 - Aristóteles (384–322 a.C.)
2 – NUNES, Benedito. Introdução à Filosofia da Arte. 1999. p. 5
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