Desde Getúlio Vargas, com o Estado Novo, anunciam que o Brasil se tornará, um dia, celeiro do mundo. Segundo a 12ª estimativa do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, divulgada em 6 de janeiro de 2011 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), “a safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas atingiu, em 2010, novo recorde, com 149,5 milhões de toneladas. Esse volume supera em 11,6% o obtido em 2009, que foi de 134 milhões de toneladas, e é 0,4% maior do que o previsto em novembro. O aumento em relação à estimativa do mês anterior se deve às maiores produções de aveia em grão (11,6%), cevada em grão (1,3%), milho em grão total (0,7%), trigo em grão (4,2%) e triticale em grão, cereal obtido a partir do cruzamento do trigo com o centeio, com alta de 5,8%”.
Outro dado revelador aponta o Paraná como líder na produção nacional de grãos, “com uma participação de 21,6%, seguido por Mato Grosso, com 19,3%, e pelo Rio Grande do Sul, com 16,9%. Esses Estados representam juntos 57,8% do total nacional. Na Região Sul, a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas alcançou 64,1 milhões de toneladas. No Centro-Oeste, foram 52,5 milhões de toneladas, e no Sudeste, 17,1 milhões de toneladas. No Nordeste, o volume chegou a 11,9 milhões de toneladas, e no Norte, a 4 milhões de toneladas. Comparativamente à safra de 2010, houve incremento nas regiões Norte (6,0%), Sul (22,3%), Centro-Oeste (7,4%) e Nordeste (0,9%), enquanto no Sudeste houve queda de 0,7%”.
Planeta quente e faminto
O possível aumento da temperatura média do planeta em 2,4 graus Celsius até 2020 — conforme recente estudo apresentado pela organização não governamental Fundo Ecológico Universal (FEU) da Argentina — significa perigoso indício do desaparecimento de regiões insulares e, consequentemente, de sucessivas catástrofes naturais. Com estimativa do crescimento da população mundial em 900 milhões para daqui a 10 anos, a produção global de alimentos pode não ser capaz de atender à demanda. O que serviu de base para a pesquisa é o impacto das mudanças climáticas em todo o orbe, que afetou o cultivo dos grãos mais consumidos pelo ser humano: trigo, arroz, milho e soja.
Ainda no relatório do FEU, vislumbra-se alta no preço dos alimentos acompanhada de um número crescente de pessoas com má nutrição. Dados da FAO, organismo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, uma em cada sete pessoas sofre desse problema, totalizando cerca de um bilhão de habitantes, sendo as crianças as principais vítimas.
Dieta nova
Ao lado da implantação de novas tecnologias e da adaptação do cultivo dos grãos, o trabalho científico propõe mudança na dieta da população mundial como importante medida atenuante dos efeitos do aquecimento global na atividade agrícola.
Urge, mais do que nunca, conscientizarmo-nos da gravidade dessas previsões, procurando colaborar com ações aparentemente simples, como evitar o desperdício de comida, mas que refletem positivamente em âmbito mundial. Há décadas venho alertando para o fato de que a migalha de hoje é a farta refeição de amanhã.
José de Paiva Netto é jornalista, radialista e escritor.
paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com
Comentários