ENCONTRO DE POETAS

Maria Lúcia Nobre dos Santos

Muito além vai a nossa fama.
Tão bem falados ficamos,
que de muito, muito longe,
o poeta estrangeiro
veio ver o que plantamos.

Em noite de lua clara,
bem em frente à Lagoa Mundaú,
patrimônio de Maceió,
entre aperitivos e iguarias,
o poeta em Alagoas
o visitante receberia.

Fausto, da ficção universal,
veio de muito longe.
Desejava encontrar o amor.
Aqui encontraria,
entre poemas e boas conversas,
aconchego em sua agonia.

Suas primeiras palavras
logo todos percebiam
de tristeza e de rancor.
Tinha deixado passar o tempo
sem encontrar um grande amor.

E assim ele dizia:
− Peregrinei pelos livros sacros,
profanos,
bebi a ciência que pude,
nenhuma me fez humano.
Começo novo roteiro
agora de mim ao mundo,
de mim para o amor, prazeres.

Alguém que o escutava
de repente lhe dizia:
− Está no lugar certo,
pois aqui nossos colegas
fazem tudo todo dia.
Amam, cantam, saboreiam
os bons frutos do mar
e ainda homenageiam
as belezas de Alagoas.

Jorge de Lima que ouvia,
inspirado confabula:
− Contemos uma história.
Ele mesmo repetia:
− Mas que história?

A história mal dormida de uma viagem.
Empreendemos com a ajuda dos ocasos
as travessias nunca projetadas,
sem roteiros, sem mapas e astrolábios.

Alguém ainda dizia:
− O vinho, o sabor das coisas,
fará com que movas
o limite do possível.

Desde que vi o amor, o amor viveu comigo.
E toda a salvação é estar no que persigo.
E assim todos concordam com o poeta visitante
que todos os caminhos devem levar-nos ao amor.

E o poeta Manuel Bandeira,
que escutava o homem maravilhoso,
o revelador tropical das atitudes novas,
o mestre das transformações em caminho:
− É preciso criar a poesia deste país de sol!

E Drummond também dizia:
− Eu só sei que sou apenas um homem.
Um homem pequenino à beira de um rio.
Vejo as águas que passam e não as compreendo.
Sei apenas que é noite porque me chamam de casa.
Vi que amanheceu porque os galos cantaram.
Como poderia compreender-te América? É muito difícil.

João Cabral, que sua terra poetiza,
ao sol do deserto e no silêncio atingido,
como a uma amêndoa, sua flauta seca:
como alguma pedra ainda branda
ou lábios ao vento marinho.
O sol do deserto não intumesce a vida como a um pão.
O sol do deserto não coloca os ovos do mistério.
Mesmo, os esguios, discretos trigais
não resistem ao sol do deserto,
lúcido, que preside a essa fome vazia.

Se estamos falando de amor,
se estamos falando de poesia,
o nosso poeta Cabral,
com amor fala de sua terra,
que também é nossa terra,
a poesia universal.

E tu, Douglas,
dizes que ser poeta
é ter sensibilidade apurada.
Ambicioso, insatisfeito,
procurando no jogo das palavras
ou no oceano imenso do conhecimento
novos portos de aprendizagem.

Ouve Rosiane e declama:
− A lua cheia em noite sombria
a chuva prateia as estrelas...
Nos mares azuis o banho de sol
aquece a areia e clareia... o brilho e a luz
refletem a beleza e o amor seduz a natureza.

O convidado, que escutava,
meditando alto, exclamava:
− A eternidade nasce do amor, não foge,
mesmo nascendo hoje.
Pela alma cresce, chame se expande.

A capacidade de alguém enxergar
através do amor é tocante.
Fica a mensagem:
Todos podem inventar um mundo melhor.
Basta querer. Amar ao próximo, eis a questão.

Mais uma vez diz o visitante:
diante de tantas coisas boas,
apreciadas, saboreadas, aprendidas,
nas terras das Alagoas:
diante do homem e seu destino.

E todos em coro respondem:
− Muito bem, Fausto!
Todo o universo é harmonia,
luz que se alterna entre as esferas.
O mar se enfreia ou rocha ou areia
com a exatidão de um grão de espuma.
A tempestade ruge num vasto encadeamento
como animal que sai da gruta para o silêncio.

− Fiz o pacto com este amor,
quando vi o seu oceano.
Vou voltar para minha terra.
Levarei grandes lembranças
de um povo, de uma terra,
sempre cheios de esperanças.

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