Antes de ir para a urna eletrônica desempenhar meu papel de cidadão brasileiro, do qual sou forçado a fazê-lo, - bem que poderia ser espontâneo, mas deixemos de lado essa discussão - fiz um retrospecto das minhas vivências quanto aos pleitos eleitorais.
Em um passado não tão distante, pois tenho pouco pais de 50 anos, as coisas eram bem diferentes. Tinha tudo isto que vemos, mas de certa forma moderado.
A propaganda eleitoral, no meu tempo de adolescente, era apenas um papel feito na tipografia com o nome e número do candidato, nada de foto, tampouco essa poluição que vemos nos últimos dias.
Conchaves e esquemas, de certa forma inadequados, existiam, claro! Lembro-me de uma história que meus pais contavam sobre o senador Arnon de Melo. Ele andava de cidade em cidade com uma máquina de costura afirmando que ia entregá-la a determinado eleitor, mas nunca concretizou.
Outro caso interessante - esse eu acompanhei - foi em um dos pleitos eleitorais para prefeito em Carneiros, uma rasteira dada no candidato Agênor Rodrigues, seu Nanô. Como naquele tempo a feira daquela cidade era pequena, os moradores costumavam vir a Santana do Ipanema, aos sábados, ou Olho d´Água das Flores, às segundas-feiras. A convenção da ARENA estava marcada para o sábado pela manhã. Seu Nanô, pré-candidato daquele partido, necessitando vir a Santana, ficou preocupado com o evento que, naquela época, era mais rígido, inclusive com um olheiro da Justiça Eleitoral. Disseram a ele que não se preocupasse pois aguardariam seu retorno para poder iniciar os trabalhos. Só que, quando ele retornou, a convenção já havia sido feita, com ata redigida e com candidato escolhido, o Doutor Cicero Maciel Barbosa. Os eleitores fiéis de seu Nanô tentaram persuadi-lo a filiar-se ao MDB, mas ele foi irredutível dizendo que não iria para o partido comunista, visão daquela época. Optou não se candidatar e o pleito ficou com candidato único. Os eleitores, inconformados, partiram para uma campanha do voto em branco e, por pouco, não aconteceu nova eleição. Olha, o branco só não ganhou por causa dos eleitores conservadores, como meu saudoso avô, Alfredo Rodrigues de Melo, ou, simplesmente, Alfredo Labareda, que não admitiam voto nulo ou em branco.
Por falar em Alfredo Labareda, tenho uma pérola dele que me dá orgulho. Ele tinha um caderninho com, aproximadamente, oito por cinco centímetros de tamanho, que servia apenas para anotar o número dos candidatos em quem votava. Você imagina o uso desse caderno! Ele não aceitava as antigas chapas; na condição de professor - e rigoroso - , anotava os números no caderno. Os candidatos tinham medo de pedir voto a ele, pois, quando chegavam fazendo campanha em Carneiros, eram avisados: “Se for na casa de seu Alfredo, vá preparado e com bons argumentos. Se convencê-lo, pronto! Pode ter certeza de que terá o seu voto, pois ele fará anotação na sua cadernetinha, mas, caso contrário, não insista! E, assim, eu vi várias vezes os números anotados. Outra coisa: depois de anotados, a história se espalhava e outros candidatos não cruzavam seus batentes para tentar mudar a opinião do professor.
No passado, também não existia essa loucura na busca de votos. As expressões eram menores, a busca ilegal de votos existia, claro, mas de forma mais acanhada! Talvez um prato de comida no dia da eleição, um favor, coisas do gênero.
Hoje, o negócio está cruel! Eleitores trocam ofensas, assim como os candidatos! As redes sociais, os telefones e a liberdade de expressão estão em pleno vapor e não se observa mais a preocupação de dar a opinião, ou até ser “uma maria vai com as outras” no linguajar popular, e também a compra de votos. Nem quero me meter neste assunto!
Mas chegou a hora e o povo escolherá quem vai dirigir os destinos do Brasil pelos próximos quatro anos.
E o voto secreto, tema desta crônica? Ora, não poderia esquecer outro causo engraçado. Enquanto meu avô paterno, a quem fiz referência anteriormente, era muito rígido, meu avô materno era engraçado. Rigoroso também em alguns aspectos, mas engraçado em outros. Certa feita, cheguei na casa dele, num dia de eleição, evidentemente, após ter perdido o prestígio, como se diz no popular, quando votamos, e perguntei a minha querida vó Ritinha em quem ela tinha votado e ela com a voz suave me disse: “Sei lá, meu filho, seu avô disse que o voto é secreto.”
Eita mundão...! E você? Seu voto é secreto?
Paz e Graça
Santana do Ipanema AL, 26 de outubro de 2014.
Comentários