A 48ª Festa da Juventude acabou esta madrugada. Agora que acabou, os diversos seguimentos envolvidos no evento irão sentar-se e vão fazer seus “balanços”. Irão pesar, os prós e os contras. Avaliar, julgar fazer contas.
É interessante quando nos afastamos da euforia provocada pelo clima da Festa e procuramos enxergar além de um evento puramente sócio-econômico. E buscamos analisar, como é o jeito de cada parte dos atores participantes, o que cada seguimento consegue ver dependendo de seus interesses. A ingenuidade do jovem que só consegue ver à quantas andou os ânimos de seus pares, a diversidade de novas amizades e conquistas amorosas,quem "ficou"com quem e as Bandas que animaram os três dias do evento. Os organizadores se ocupam de saber se não houve um sinistro digno de registro capaz de macular a fama da Festa. Os sites analisam quem fez melhor a cobertura, a imprensa enfocará os fatos e expressarão à opinião pública, os acontecimentos. Os políticos se ocupam de ver a quanto sua imagem manteve ou não sua popularidade. E os barraqueiros, claro, contabilizam os lucros.
Na década de setenta, tinha um barraqueiro chamado de Tonho Doceiro que vivia de vender doces manufaturados, na porta do Grupo Escolar Padre Francisco Correia. Abastecia seu carrinho comprando na mercearia de meu pai João Soares, ali atrás da Toca do Pato. Assim que meu pai abria seu comércio, as cinco da manhã , era Tonho o primeiro freguês. Muitas vezes meu pai ainda estava ocupado fazendo um café na cozinha, ele entrava chamando aos gritos:
- "Seu" João Soares! Venha me atender! Tem freguês...
Meu pai de lá dentro respondia que já ia. E por diversas vezes ao atendê-lo, já o encontrava com a mercadoria que queria toda separada em cima do balcão. Meu pai fazia a conta, ele pagava e tudo bem. Certa ocasião, um estudante do Grupo Escolar à cima citado, ao perguntar o preço de um caderno estranhou, não se conteve e falou:
-Oxente! "Seu" João, Tonho doceiro tá vendendo desse mesminho pela metade do preço do senhor!
Meu pai estranhou mais ainda, pois daquele caderno que o menino não queria comprar porque Tonho tinha mais barato, ele comprara no comércio de Caruaru. Pensou com calma e como estava próximo de fazer uma viagem àquela cidade do estado vizinho, resolveu pesquisar. E sua suspeita se confirmou, daquele tipo de caderno, inclusive com a logomarca da livraria pernambucana, de Santana do Ipanema, só meu pai havia comprado. Ao retornar resolveu que tomaria satisfação com Tonho Doceiro. E em mais uma manhã que ele apareceu pra abastecer o carrinho. Os dois tiveram a seguinte conversa:
-"Seu" João Soares! Venha me atender!...
-Pois não! Ô Tonho me diga uma coisa: Você tem desses cadernos pra vender lá no seu carrinho?
-Tenho sim "Seu" João!
-E tá vendendo mais barato que eu...
-É sim!
-E onde foi que você comprou?
-Em Caruaru também "Seu" João!
-Tenha vergonha cabra de pêia* safado! Eu estive em Caruaru está semana e lá na única livraria que tem desses, me disseram que daqui de Santana, só venderam a mim. Olhe (e apontando pras duas portas da mercearia disse) tá vendo, tem uma larga e uma estreita. Me saia por uma, e nunca mais entre por nenhuma!
P.S.I E "Cobra" ganhou novamente a JEKANA desta 48ªFesta da Juventude. GAÚCHO agora é HEXA CAMPEÃO. Pelo menos temos um jumento gaúcho hexa por que o outro...
P.S.II Cabra de pêia nas cidades litorâneas é o cara que sobe no coqueiro com o auxílio de pêias feitas de couro. Aqui no sertão é o cara que está precisando levar umas chibadas com as ditas cujas.
Fabio Campos 19/07/2010 É Professor em S. do Ipanema- AL.
Contato: fabiosoacam@yahoo.com
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