OS PNEUS DO AUTOMÓVEL DE DELMIRO GOUVEIA

Fábio Campos

Ano novo começando. As pessoas aproveitam pra renovar velhas promessas. Algumas darão início a uma nova dieta alimentar; outras resolvem parar de fumar ou tente interromper qualquer outro vício. Há quem resolva entrar ano novo de vida nova. E comece o ano formando-se, casando-se ou aposentando-se.

Muito embora, há coisas que parecem continuar do mesmo jeito. Um exemplo é a programação das emissoras de TV: Os mesmos “enlatados” americanos sendo reprisados; Um novo (velho) campeonato brasileiro que vai se iniciar; mais jogadores talentosos, em decadência voltando pra casa. Um novo (e chato!) Big Brother; os novos (velhos) preparativos para o Carnaval. Enfim tudo é novo na velha aldeia global.
Pra gente ver o quanto vivemos uma roda-viva de reprises, bastaria vermos uma retrospectiva de dez anos para cá. Isso mesmo, façamos pois uma reprise de uma década de anos. E o que veríamos num caso desses: Duas vezes Lula governando o país; Mudança? Praticamente nenhuma; A maioria dos governos estaduais e municipais também permanecendo no poder, mudança zero! Duas olimpíadas e duas Copas do Mundo de Futebol; e o Caneco maior do futebol parece se afastar cada vez mais de nossa Seleção Canarinha.

Sobre o tema, coisas novas e mudanças. Dizem os especialistas no assunto que nós humanos, relutamos em aceitar as mudanças. Relutamos em prontamente aceitá-las apenas. Somos seres adaptativos para as comodidades e conveniências. E qualquer coisa que signifique mudança de uma situação antiga para uma nova realidade, simplesmente rejeitamos.

Sempre que alguém apresentou algo novo à sociedade sentiu primeiro, o gosto da rejeição. Galileu quase foi morto com sua teoria Heliocêntrica, de dizer que não era a terra o centro do universo. Darwin foi criticado quando apresentou sua teoria da Evolução das espécies.

Aqui no nosso sertão também tivemos claro, os que sentiram, e até hoje sentem, a dificuldade por trazerem idéias inovadoras, a ponto de serem praticamente considerados loucos, visionários, sonhadores. À exemplo do empresário e político Delmiro Gouveia. Como acreditar em alguém que possa pensar numa indústria têxtil encravada na caatinga do sertão, nos dias atuais, imagine a um século passado? Ele foi o pioneiro em muita coisa por aqui, o primeiro rádio, a primeira geladeira, o primeiro automóvel.

Talvez pelo nosso apego ao que um dia existiu tenhamos criados os museus. Quando o Museu Darras Noya daqui de Santana do Ipanema, funcionava na Avenida Nossa Senhora de Fátima, próximo a atual Câmara de vereadores, existia expostos entre outras quinquilharias, dois pneus, muito parecidos com os atuais pneus de uma moto. Eram aludidos pelos funcionários do museu, como sendo pertencentes ao primeiro carro de Delmiro Gouveia.

Seriam réplicas dos mesmos que aparecem num filme do cangaço que um dia passou no cine Alvorada. Lá vem o carro de Delmiro Gouveia pelas estradas do sertão. De repente sai do mato uma tropa de cangaceiros, atacam o veículo e seus tripulantes e os fazem parar. Saqueiam os pertences dos viajores. E os cangaceiros que nunca tinham visto um carro, ficam estupefatos diante da engenhoca, um calhambeque. Dois deles se acercam de um dos pneus e iniciam um diálogo:

-Espia! Os sapatos do bicho é de couro de boi!

-É não! É de borracha!

Depois de acirrarem a discussão um deles desembainha a sua faca-peixeira. E enfia até o cabo no pneumático, causando o maior estouro:

Pôoou!!!

Com o pipôco não fica um, dos cabras do canganço. Desaparecem tudinho na capoeira. No meio da estrada só o e carro e os viajantes. Daí a pouco um rosto aparece ali na moita, outro acolá. E um cangaceiro comenta:

-Cambada! Não mexam mais nos pés do bicho, o peste tem um coice da gota serena!

Fábio Campos 10/01/2011 É Professor em S. do Ipanema- AL.

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