ISSO É PRO SENHOR SEU MORENINHO!

Fábio Campos

Semana passada, veio parar em minhas mãos, uma pequena relíquia literária. Uma brochura de pouco mais de uma dezena de folhas amareladas. Em texto datilografado. Já perdeu até a capa. Um folheto propagandístico da III FESTA NACIONAL DO FEIJÃO -1974. Professor Marcello Fausto, emprestou-me para que eu pudesse, dali tirar subsídios, pra concluir um trabalho, que o curso de biologia da Universidade estava a me exigir.
Há ali, textos de Divaldo Suruagy, palavras ao governador Lamenha Filho, texto histórico do escritor Djalma de Melo Carvalho, sobre a origem do nosso município, cujas fontes recorridas fora a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros do escritor Tadeu Rocha. Noutro texto o jornalista Tobias Granja, fala sobre a gastronomia de nosso sertão. Discorre sobre suas viagens pelo sudeste e nordeste brasileiro, e de como o feijão nosso de cada dia é popular Brasil a fora. Com uma frase interessante ele faz o arremate da prosa:

(idem)” Feijão é feijão, em qualquer parte do mundo. Só não se invente de pedir: Um prato de Phaseolus vulgaris com Oriza sativa!”

As duas duplas de nomes supraditos, nada mais são, que os nomes científicos do Feijão com Arroz. O mote de nossa crônica vem tratar justamente da força das palavras, escritas ou faladas. Dependendo da entonação verbal ou da colocação textual, podem parecer bonitas, ou verdadeiros palavrões. Depende ainda do ponto de vista de quem as lê ou as ouve.

Mentecapto, Energúmeno, Sacripanta.

Sempre soube que estas palavras eram depreciativas à moral humana. Muito embora, nunca tenha me dado, ao trabalho de pesquisar o significado delas. Afinal soam tão bonitas. Vejamos pois o que o mestre Aurélio diz delas:

Alienado;idiota;néscio.
Endemoninhado;fanático;possesso,louco.
Desprezível;vil;indigno.

Pronto! Pra mim perderam o encanto! As palavras têm força e poder. Quem estudou no Colégio Estadual Professor Deraldo Campos. No tempo que o professor Mileno Ferreira era o diretor não esquece. Cada pessoa tem uma experiência que levarão pro túmulo. Sobre que palavras ele utilizava com os estudantes num ímpeto de raiva:

- Seu Cavalo! -Seu Jumento! -Sua égua!

Quem lembraria, se quer que Seu Mileno existiu? Se ao invés desses termos, dissesse:

- Seu Solípede! -Seu Onagro! -Sua Muarina!

Senhor Ermínio, foi o saudoso Seu Moreninho, um excelente farmacêutico em nossa cidade. Pela experiência adquirida no ramo, exercia o ofício de boticário. Morou uns tempos em Olho D’agua das Flores. Depois fixou residência em Santana do Ipanema. Sua farmácia funcionava, onde hoje é a loja O Varejão das Miudezas, em frente a Arquimedes Auto Peças, na Barão do Rio Branco.
Seu Moreninho sempre foi uma pessoa muito espirituosa. Boêmio, carnavalesco e um eterno gozador. Aproveitando-se da ignorância do matuto, não perdia a oportunidade pra dele fazer chacota. Certa ocasião. Após explicar detalhadamente como era que o roçeiro deveria usar determinado remédio. Falando com a expressão mais cínica do mundo. Concluía:

-E aí?... Entendeu tudo direitinho?
- Mais ou menos, Seu Moreninho...
- Ora, mas um grande idiota, um grande imbecil como você! É claro que entendeu...
O matuto achando que ele fazia tremendo elogio. Humilde devolve:

- Êh! Quem sou eu...Isso aí é coisa pro senhor Seu Moreninho! Que é um homem estudado!...

*Fabio Campos 17/04/2010 *É professor do Estado e do Município em S. do Ipanema - AL.
Contato: fabiosoacam@yahoo.com

Comentários