VELHINHO FOGOSO

Djalma Carvalho

Numa sociedade injusta, excludente e preconceituosa, o velho e o idoso ganham conceitos diferentes. Dir-se-á velho aquele que se considera como tal, inteiramente entregue aos achaques da velhice e a esperar os apagões mentais que por vezes ocorrem no outono da vida. Ao idoso, ao contrário, não importa a soma dos anos vividos, pois estará ele sempre disposto e saudável, divertindo-se e aproveitando a beleza da vida.
Graças a Deus, de certa forma me enquadro neste segundo segmento. Para mim, o passar dos anos será apenas consequência do ciclo biológico, o inevitável caminho e destino natural dos viventes.
Gabriel García Marquez, autor colombiano do livro Cem Anos de Solidão, disse: “A idade não é a que a gente tem, mas a que a gente sente.”
Apesar de viver fora de Santana do Ipanema, não perdi o vínculo sentimental com a cidade, com a gente do lugar e com o chão onde construí os melhores sonhos de minha juventude.
Vez por outra, lá estou em dias de festa, sobretudo em bailes da festa da padroeira, a rodopiar no salão do Tênis Clube Santanense e a abraçar amigos e conterrâneos, fato que acontece desde os idos de 1975, quando, por imposições profissionais e funcionais, passei a morar em Maceió.
Durante alguns anos, lá me hospedei em casa de familiares, até que em 1987 passei a ocupar apartamento do Vitória Régia, o primeiro hotel da cidade, de categoria confortável, com ar condicionado e frigobar, construído por Manoel Augusto Azevedo, santanense empreendedor, de segura visão do futuro e possuidor de ideias sempre voltadas para o progresso da cidade. No edifício que vai de uma rua a outra há galeria moderna, lojas, salão de beleza, escritórios, bar e restaurante.
Os hotéis de Maria Sabão, Leuzinger e Dona Beatriz, até então ali existentes, encerraram suas atividades e passaram, com justiça, à história do lugar.
Depois daí vieram os hotéis Belo’s e Jota Pinto, também confortáveis, instalados fora do centro da cidade, com restaurante, posto de gasolina e estacionamento. Agora, entre hotéis, pousadas e dormitórios, a cidade já deve contar com cerca de duas dezenas deles.
Há algum tempo, hospedo-me no Hotel Jota Pinto, onde também sou bem recebido e tratado com distinção. Após os eventos e antes da viagem de regresso a Maceió, costumo abastecer meu automóvel no posto de gasolina da empresa proprietária do referido hotel.
Recentemente, assim procedi.
Enquanto aguardava os habituais serviços do frentista, eis que um carro de som se aproxima do local e passa a tocar um daqueles famosos xotes nordestinos. Contagiado pelo ritmo da música, permiti-me balançar-me e, ali mesmo, ensaiar um passo de dança.
Pois bem, voltando ao assunto inicial desta conversa, faltava-me ouvir daquele frentista o seguinte comentário, feito à parte, quase à surdina:
– Que velhinho fogoso!
E daí, fazer o quê?
Maceió, fevereiro de 2010.

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