O DNOCS EM ALAGOAS

Djalma Carvalho

Há poucos dias, um veículo com sigla oficial nas duas portas e a transitar pela Avenida Fernandes Lima fez lembrar-me, com saudade, do meu tempo de servidor do Dnocs em Alagoas. Tentei, sem sucesso, reconhecer o motorista, meio grisalho, que estava à direção, mas logo me dei conta do tempo decorrido. Ninguém mais daquela época deveria encontrar-se no serviço ativo, muito menos dirigindo aquele carro oficial.
Disse Cícero, genial tribuno romano: “A idade progride de modo quase imperceptível.” De fato, já faz cinqüenta anos, e me parece que tudo isso se passou como se fosse ontem. Nem percebi o tempo passar tão depressa.
Folheando minha carteira profissional, vejo lá a data do meu primeiro emprego formal: 18 de fevereiro de 1957, registro que me foi extremamente útil para comprovar tempo de serviço nos órgãos da Previdência Social, sobretudo para efeito de recebimento do abono então chamado, jocosamente, de pé-na-cova.
Tudo começou no início daquele mesmo ano com aulas de datilografia da professora Narair Janôr, de minha cidade. Recordo-me do zelo da mestra para com a postura do aluno diante da máquina de escrever, juntando-me os cotovelos ao corpo aprumado, erecto, sem corcunda. Datilografia reprovara-me no concurso do Banco do Brasil realizado um ano antes. Com afinco, preparava-me, então, para novo embate sem esmorecimento. O prêmio pelo esforço despendido viria quatro anos depois.
Nesse ínterim, surge o providencial convite de Gilvan Vieira Guedes, destacado servidor do Dnocs, para que eu fosse submeter-me a teste na repartição onde ele trabalhava, ali mesmo em Santana do Ipanema. Aprovado, tornava-me, assim, servidor do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, meu primeiro empregador formal. Datilografar ofícios, correspondências, mapas estatísticos, folhas de pagamento, tudo isso eram minhas atribuições diárias como auxiliar de escritório.
A unidade de Santana do Ipanema pertencia à jurisdição do 3º Distrito, depois Comissão de Alagoas, sediado em Palmeira dos Índios, então dirigido pelo engenheiro Eusébio Gomes de Melo, exemplo de competência e seriedade profissional.
Naquele tempo, prestou o Dnocs, efetivamente, relevantes serviços de combate às secas no Sertão alagoano, ali construindo açudes e estradas e empregando muita gente em suas obras, fossem elas permanentes, temporárias ou de emergência.
Pena que tenha sido desativado o escritório/residência de Santana do Ipanema e reduzida a ação do Dnocs em Alagoas. Órgão de vital importância para o Nordeste, o Dnocs parece destinado à vala comum do esquecimento das autoridades federais, a exemplo do que ocorreu com a própria Sudene, fato que se contrapõe ao sonho de outrora de Epitácio Pessoa, Celso Furtado e Juscelino Kubitschek. Enquanto isso, a seca, fenômeno atmosférico cíclico cada vez mais rigoroso, continua a castigar impiedosamente o Nordeste.
Guardo, afinal, boas recordações dali, dos chefes, dos colegas de trabalho, dos operários do campo e das oficinas, cujos nomes sabia de cor e salteado. Deles recolhi histórias e casos engraçados, muitos dos quais contados em crônicas.

Maceió, fevereiro de 2007.

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