O BARÃO, POLÍTICO E DIPLOMATA

Djalma Carvalho

Para ajudar a jogar fora os negativos efeitos do isolamento imposto pela pandemia do coronavírus, acabo de ler mais um livro, agora chegando à soma de doze, de boa leitura e como agradável passa tempo.
Em meio de vários outros, e de páginas amareladas, escondido estava o livro biográfico O Barão do Penedo – a missão da palavra (Sergasa, Maceió, 1992), de autoria do saudoso amigo Ernani Méro, escritor penedense apaixonado por sua terra natal.
Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e da Academia Alagoana de Letras, Ernani Otacílio Méro era um intelectual de muito conceito no mundo literário alagoano. Historiador, cronista e escritor. Publicou quase duas dezenas de livros, além assíduo colaborador de jornais de Alagoas.
Quase que diariamente estava Ernani Méro na agência do Banco do Brasil, da Rua Senador Mendonça, em Maceió, onde eu estava lotado e onde ele gozava da amizade de vários funcionários, muitos deles seus conterrâneos. Deu-me o exemplar do seu livro, gentilmente autografado.
De autoria de Medeiros Neto, iluminado orador e pena brilhante, li, encantado, o longo e belíssimo prefácio do livro, recheado de vasta cultura e de conhecimentos históricos. Disse ele: “Sobre o tripé, Visconde de Sinimbu, Barão de Penedo e Tavares Bastos, sustentou-se, com grandeza, o Império.” Sobre Ernani Méro: “Tangido pela sensibilidade telúrica e movido pela criatividade característica, marcou, definitivamente, com seu livro biográfico, sobre o Barão de Penedo, a memória da figura exponencial e surpreendente do cenário político-diplomático do Segundo Reinado.”
Patrono da Cadeira nº 34 da Academia Alagoana de Letras, Francisco Inácio de Carvalho Moreira, Barão de Penedo (1815-1906), nasceu na cidade de Penedo, num sobrado centenário às margens poéticas do rio São Francisco.
A histórica, aristocrática e elegante cidade de Penedo, fundada em 1636, com o nome de Vila do Penedo do Rio São Francisco, somente elevada à categoria de cidade em 1842, com o seu nome atual.
Cidade de centenárias igrejas, de conventos e bons colégios, Penedo muito contribuiu para a formação cultural de filhos de famílias sertanejas.
Ainda jovem e sua mãe viúva, Francisco Inácio passou grande parte de sua infância no Engenho Santa Cândida, de propriedade da família.
Estudou no Convento Franciscano de Nossa Senhora dos Anjos, em Penedo. Após preparativos, ingressou na Faculdade de Direito de Olinda, tendo sido companheiro de carreira profissional de Sinimbu, Euzébio de Queiroz, Zacarias de Goes Vasconcelos e Teixeira de Freitas. Concluiu seu estudo de direito em São Paulo.
Deputado Federal pelas províncias de Alagoas e Sergipe, Barão de Penedo notabilizou-se como pensador político e brilhante orador de largos conhecimentos jurídicos. Batalhador pela emancipação dos escravos no Brasil. “Definiu-se, sempre, como o mais temido advogado do seu tempo”, no dizer de Medeiros Neto.
Com Teixeira de Freitas, fundou, em 1843, o Instituto da Ordem dos Advogados do Brasil, do qual foi seu presidente. Hoje, Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, fundada em 1929.
Abandonou a política para dedicar-se, com brilhantismo, à carreira diplomática. Como diplomata, foram-lhe atribuídas, durante sua carreira, difíceis missões, entre as quais a relacionada à histórica Questão Religiosa, iniciada em 1872, que abalou o trono do imperador Dom Pedro II, terminada em 1875 com a anistia de D. Vital, bispo de Olinda, e D. Antônio Macedo a Costa, bispo do Pará.
Em 6 de dezembro de 1889, o Barão de Penedo foi demitido do Quadro do Corpo Diplomático. Segundo o biógrafo Renato Mendonça, o ilustre penedense era “um dos mais entusiastas apóstolos da monarquia”.
O Barão de Penedo faleceu em 1º de abril de 1906. Em sua homenagem, existem dois bustos: um, em Penedo, na Casa da Aposentadoria; outro, no Rio de Janeiro, no Museu Histórico e Diplomático do Ministério das Relações Exteriores.

Maceió, agosto de 2020.

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