PROCURA-SE BARBEIRO
(Clerisvaldo B. Chagas. 29.3.2010)
Fui surpreendido mais uma vez pela Internet, com a notícia do passamento do meu barbeiro Manoel Ferreira, dois dias depois do acontecido. Barbeiros e alfaiates são duas classes em extinção por essas bandas. Lembro que o meu primeiro barbeiro, nos tempos das calças curtas, chamava-se Nézio. Já com certa idade, Nézio trabalhava no antigo “prédio do meio da rua”. Depois fui cliente muitos anos do senhor José Barbosa que atuava à Rua Nilo Peçanha, bem próximo à Travessa Antonio Tavares. Ali, defronte à alfaiataria de José de Souza Pinto, o “Juca Alfaiate, o senhor José Barbosa começou a contar meus primeiros pelos que surgiam no queixo. Como era bem humorado, o barbeiro contava com seu futuro adicional da minha barba. Tempos depois, o senhor José mudou de ramo, passando a ser dono de bar nas imediações do mercado municipal de carne.
A boa quantidade de conceituados barbeiros em Santana do Ipanema ia rareando. No auge da categoria, houve até uma velada concorrência entre eles, coincidindo com os modernos cortes de cabelos de regiões adiantadas introduzidos em Santana. Como o senhor José Barbosa ficou de fora, o meu terceiro barbeiro passou a ser o Apolônio que também trabalhava na mesma barbearia da Rua Nilo Peçanha. Depois o barbeiro mudou para a Rua Antonio Tavares e terminou sua carreira nos salão do cine Alvorada, à Praça Cel. Manoel Rodrigues da Rocha. Foi uma vida inteira como cliente. O belo nome “Apolônio” me chamou atenção. Era diferente e lembrava o político da música cantada por Luiz Gonzaga sobre a hidrelétrica de Paulo Afonso: “Delmiro deu a ideia/Apolônio aproveitou/ O presidente Café/Agora inaugurou (...)” Quando eu estava escrevendo o meu romance “Fazenda Lajeado” (ainda inédito) precisava de um personagem marcante para o papel de capataz da fazenda. Era preciso também um nome incomum e atraente. Tomei emprestado o belo nome do meu barbeiro e Apolônio passou a ser o capataz da “Fazenda Lajeado” (os leitores irão se apaixonar por ele). Diferente, todavia, do modo de ser e da aparência do capataz, Apolônio barbeiro, morador do sítio Jaqueira, era calmo e de fala mansa. Vez em quando me contava baixinho, uma das suas aventuras e falava ser bom atirador. Frequentava anualmente o Juazeiro do padre Cícero. Senti muito quando ele faleceu. Cabra bom! Como a família possui a tradição da tesoura, passei a ser cliente do seu filho Manoel Ferreira até o dia do seu falecimento, vítima, segundo o site, de infarto fulminante.
As barbearias hoje dão lugar aos salões unissex, deixando pessoas como eu ainda constrangidas. Nem nunca entrei em um desses salões, nem barbeiro nenhum rapou a minha barba (prática pessoal de quatro ou cinco vezes semanais). Na escassez dessa profissão, ainda resta o filho de Manoel Ferreira, também exímio na tesoura; resta saber se vai continuar a arte do pai e do avô. Meus sentimentos à família do barbeiro radialista e fã das serestas santanenses. Com a falta desses notáveis prestadores de serviço, afixemos o cartaz: PROCURA-SE BARBEIRO.
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