SECOU A LAGOA DO PEDRÃO

Antonio Machado

SECOU A LAGOA DO PEDRÃO

Antonio Machado
Escrever a história é fazer parte dela, a vivenciá-la é senti- lá. Faço parte também desse contexto histórico. Conheço a lagoa do povoado Pedrão a mais de cinqüenta anos, e nunca a vi seca, somente o ano de 2013, secou os setecentos metros, aproximadamente, de comprimento daquela lagoa mais que centenária. Historicamente, ela teve sua escavação iniciada pelos escravos nos idos remotos de 1870 antes da alforria dos negros, que ocorrem em 13 de maio de 1888. Um grupo de escravos fugiu da serra da Barriga situada no município alagoano de União dos Palmares, e se homiziou nos arrabaldes de Pedrão, que tem esse nome, devido uma enorme pedra situada há poucos menos de dois quilômetros do povoado, cuja pedra é conhecida como Pedra do Céu, medindo aproximadamente cerca de trinta mil metros num só bloco, constituindo-se a maior pedra do Estado de Alagoas, podendo ser um belo cartão de visitas, não fosse a proibição de sua proprietária, Lucila Santos. Pedrão vem desse contexto. Parte dos negros fugitivos, fixaram-se no Sitio Gameleiro, que dista dois quilômetros de Olho d´Água das Flores, onde se situa a comunidade Quilombola. A lagoa possui cerca de aproximadamente duzentos metros de largura com um formato retangular. Todo manancial de suas águas é totalmente imprestável ao consumo humano, contudo possui uma grande serventia para os animais e até grandes rebanhos, mormente nas estiagens, e para construção, no fabrico de tijolos, constituindo-se uma redenção para as comunidades adjacentes, e em toda sua história de aproximadamente 143 anos, nunca ocorreu um afogamento, registra-se, entretanto, duas pessoas que morreram em suas águas, contudo, não foram tragados pela fúria das águas, mas em outras situações, que a comunidade tão bem conhece em conversa com o cidadão Valdivino e Antenor Vieira, ambos irmãos, sendo o primeiro com noventa anos de idade, lúcido e o segundo com oitenta e sete, são unânimes e categóricos, em afirmarem ao cronista, que somente viram aquela lagoa seca uma vez, isto há mais de meio século, porém só souberam precisar o ano, e este ano a seca brava que se herdou de ano passado e se posterga no ano de 2013. É destarte lamentável, prezado leitor, visitei e andei sobre o leito seco daquela lagoa mais que centenária, e me veio à lembrança da música do Gonzagão quando ele canta: “quando lama virou pedra/ e mandacaru secou/quando o ribaçã de sede/ bateu asa e voou/foi aí que eu vim me bora/carregando a minha dor.../ deve existir para mais de vinte toneladas de lama em seu leito vazio, e simplesmente uma máquina tenta limpar aquela montanha de lama, e o pior, é que está fazendo tudo errado, sem nenhuma orientação, é dinheiro jogado fora, é trabalho para vários meses e sob a orientação de quem entende, mandar fazer, porque existe uma grande diferença entre fazer e mandar fazer. Em tempos não muito distantes, aquela lagoa era um grande celeiro de peixes que o pescado era até vendido na feira da cidade, tanto era a quantidade.
A lendária lagoa do Pedrão é um patrimônio do município, porém não vem recebendo o apoio devido dos gestores, apenas às vezes, mandavam tirar uma parte da lama, mas pouco fizeram, a lagoa em seu bojo, ou bacia, é rasa, possuindo pequenas profundidade, porém o suficiente para armazenar um enorme lençol dágua que tanto beneficia aqueles arrabaldes, mormente nas grandes secas que têm assustado as comunidades, talvez no passado, se tivesse cavado mais seu leito, aprofundando-o, e lhe dado uma atenção maior, ainda estivesse com certa porção de água beneficiando os rebanhos, que estão morrendo de sede e fome. É uma situação desoladora, não se pode fugir da realidade dos fatos, enquanto os governos estiverem brincando de faz de conta que a situação está controlada, com meros paliativos, a situação tende cada vez mais se agravar. Hoje, só uma tênua lembrança resta de um passado, quando os raios prateados de uma lua em plenilúnio, incidiam sobre as águas claras, cheia de flores aquáticas, num aspecto multicores, que enchiam os olhares dos sertanejos, numa seca sem precedentes da história, secou a lagoa do Pedrão.



Comentários