Antonio Machado
As instituições são iguais a pessoa tem seu início, meio e fim. Umas prosperam, se desenvolvem, tem seu apogeu, outras fenecem quase no nascedouro, outras, tem uma curta existência e assim são as coisas que o homem cria, estando sempre fadadas a finitude. Assim também foi a vida gloriosa e perlustrada do ginásio Santo Antônio, posteriormente Colégio Cenecista Santo Antônio de Pádua de Olho d’Água das Flores, nascido do ideal de uma arapiraquense da cepa, Pe. José de Souza Leite, que por provisão diocesana de Dom José Terceiro, de penedo a quem esta cidade constava jurisdicionada eclesiasticamente, nomeando-o 1º padre da paróquia desta cidade levando-a condição de paróquia, cuja posse do padre ocorreu no dia 27 de março de 1955, sendo também sua primeira paróquia e também de uma jovem cidade de apenas dois anos de emancipação política 02/12/1953.
Padre José de Souza Leite jovem formado na terra dos pampas, Viamão, no Rio Grande do Sul, trouxe consigo um embasamento cultural e teológico a toda prova, mas lhe faltava o essencial, a vocação religiosa, porque muitos são chamados e poucos os escolhidos. Possuidor de uma bela voz, poeta e líder religioso, bem afeiçoado, educado de fino trato, bom padre tipo bonachão. De imediato, Padre Zé Leite organizou a paróquia e também se preocupou com a educação da nóvel cidade que parecia ainda estar atávica a Santana do Ipanema de quem se emancipara recentemente. Homem culto falava fluentemente latim, inglês e muito bem a língua português, fui seu aluno no ginásio onde tive uma boa aprendizagem para a vida, mormente na língua portuguesa.
Numa de suas viagens, a Maceió, Padre Zé Leite teve o soblime ideal de falar com o padre Teófanes de Barros líder das escolas Cenecistas, que estavam pipocando nordeste afora no idealismo do professor Felipe Tiago Gomes, a quem conheci pessoalmente, e lhe beijei as mãos daquele semeador de educação.
Depois de uma conversa amistosa com a professora Paula Moacir O’Este, respeitosa inspetora Secceoional de Alagoas da Senec, e também com o padre Teófanes de Barros, ambos afirmaram ao padre Zé leite que no ano seguinte Olho d’Água das Flores seria agraciada com um ginásio, isto correu no dia 01/10/1959. A notícia da vinda de um ginásio para a cidade, foi, deveras, alvissareira, todos, por quase todos aplaudiram a notícia, com tudo, no meio do trigal nasce sempre o joio e esse não demorou, querendo suplantar as rosas perfumadas da educação, porém o padre aliado aos homens de bens da comunidade e aos jovens ávidos do saber, sentindo a oportunidade de alargar seus conhecimentos na busca de seus ideais, aliaram se ao padre que se sentiu mais encorajado na busca de seus sonhos, valendo aqui o sábio aforismo de Tiradentes: “se é belo ter um ideal, é sublime morrer por ele”, e o padre sábio sem ser santo, foi a frente...
Quantos sacrifícios, indiferenças tantas, muitas noites indormidas, enfrentou aquele levita para ver o ginásio funcionando, observa-se que o ginásio estava para funcionar no inicio de fevereiro, mas as nuvens negras, sobrepuseram-se na frente, e somente no dia 01/04/1960, houve a aula inaugural, no local onde hoje funciona o comando da policia militar desta cidade, que funcionava a prefeitura municipal, foram muitos os sabores sofrido pelo padre mas vencido todos. Na área religiosa nada deixou a desejar, casou, batizou e deu dia santo, teve sempre sua irmã a musicista professora Teresinha de Souza Leite como seu braço direito, moça inteligente e culta, pessoa pura e santa que muito contribuiu pela formação religiosa e cultural de olho d’Água das Flores, que muito lhe deve.
E assim os anos se foram... Padre Zé Leite, desgostou-se da cidade e sua vocação que já era pouca estava se diluindo no tempo, em 1966, renunciou a paróquia indo embora para Palmeira dos Índios e lá renunciou o sacerdócio, casando-se com uma moça de uma outra denominação religiosa , foram morar em Maceió e tiveram três filhos. Mas o coração do ex padre cansou e no dia 28/10/1978 veio a falecer sendo sepultado no parque das flores, seu irmão padre Darcy de Souza Leite e Dom Iórion, celebrarem-lhe as exéquias, sendo sepultado com grande acompanhamento, este modesto escriba, cobriu um esquife com a bandeira do colégio Cenecista, que ele fundara, cabendo ao professor Valdemar Farias Abreu a fazer a fazer a oração fúnebre, destacando as qualidades e a importância daquele homem para a cidade de olho d’Água das Flores.
Assumiu a direção da escola com a vacância do padre Zé Leite, o Dr Manoel Serafim Pinto que demorou pouco tempo, cabendo ao professor Valdemar a direção da escola sendo o terceiro diretor, homem dotado para as hóstias da educação, professor de português dos cursos fundamental e médio, dominava o que ensinava com desenvoltura e conhecimento, foi o professor Valdemar um ícone da educação nessa terra, com a saúde abalada seu filho Dr Silvio José Farias Silva ocupou a direção do colégio em quarto lugar na sucessão dos diretores que dividia os trabalhos com sua esposa professora Maria de Fátima Machado, ambos tendo feito um trabalho bem feito na área educacional a freqüência dos alunos regrediam a cada ano, notadamente com a abertura de cursos de nível médio gratuitamente, prejudicando sensivelmente as escolas particulares, sobretudo a rede cenecista fundada pelo carisma do professor Felipe Tiago Gomes que deve está triste com o desfecho de seu ideal maior a educação dos mais pobres. A cenec vem se organizando, abrindo faculdades e outros cursos, mais as escolas e sua rede estão fechando. O colégio Cenecista de Olho d’Água das Flores com 16 salas, diretorias, em perfeito estado, tudo climatizados e ainda possui uma grande área de terra e tendo a frente a dinâmica a diretora professora Rosele Araujo Brandão Vanderley que respondia pela direção do velho casarão mal assombrado, viu com lágrimas nos olhos aquela casa de tantas tradições fecharem suas portas, chegou ao fim aos 60 anos ininterruptos, deixando saudades e saudades levando. Um grupo de alunos recentemente, prestou-lhe uma significativa homenagem a escola, onde a diretora Rosele Araujo, professor Inon Melo, prefeito Carlos André e outros discursaram enaltecendo as qualidades do velho casarão. Concluo essa matéria com uma frase que vi num caderno de uma aluna, há muitos anos, que dizia: “Foi bom, enquanto durou.”
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