Antonio Machado
Merece deveras, talvez, uma reflexão acurada, a estrofe inacabada do poeta sem métrica, Colly Flores, sertanejo da sêpa, que assim escreveu: “se eu pudesse/ e meu dinheiro desse,/ eu comprava um carro novo/ ia na casa do povo,/ onde a história está,/ ia trazê-la/ depois escrevê-la,/ e levar para a escola/ para as crianças estudarem.” O nordestino é essencialmente folclórico, com suas danças, cocos, vaquejadas, reisados, sentinelas, missa do carreiro, novenas, as festas juninas, as músicas nordestinas, emboladas, enfim, uma infinidade de diversões criadas pela inteligência fecunda do povo sertanejo, que se esbalda numa festa junina atrelado a uma garota do subaco cabeludo, ao som colossal de uma concertina, tocado um Assum preto, ou Asa Branca do imortal Gonzagão, esquecendo as agruras de uma seca implacável, até o quebrar da barra, como também cantou o poeta Rozendo Baldo: “dança minha gente/ vamos todos se alegrar/ Lá vem a barra do dia/ o dia amanhece já”.
Isto é apenas, uma pétala de um roseiral infindo do folclore de nossa terra, cujas raízes da história carecem e deve ser preservadas, todavia esses valores culturais que tanto engrandecem a cultura e a sabedoria popular estão sendo engolidos pelas famigeradas bandas de forró que campeiam a passos largos infestando a festas juninas, outrora abrilhantadas pelo som mavioso de uma sanfona, que com seus sustenidos variados e acordes melodiosos, enchiam os salões, e a moçada brincavam pra valer, numa festa onde todo mundo era cidadão. Ariano Suassuna, escreveu: “meu saber não vem só dos livros, mas do povo”. Aos poucos esses verdadeiros valores culturais, a autentica tradição do povo, vai sendo sobrepujada pela eletrônica com o aval avassalador da mídia prepotente.
É deveras lamentável se ver vocalistas das famosas bandas de forró cantando sem voz e desafinado, e o pior de tudo, assassinando a letra e a música da própria música, e o povo aplaudindo porque também não entende, ficando a conta pela receita. Voz bonita não se aprende, não se ensina, já se nasce com ela, e é privilégio de poucos, atualmente para se ser artista basta só e somente duas coisas, ter dinheiro e ser bonito, o resto a eletrônica e a mídia fazem, e o CD vai para praça, o povão compra e as rádios tocam, muitas vezes pela força do “jabá” isto é, o pseudo artista paga para o locutor rodar suas músicas até virar sucesso e cair, forçosamente na boca do povo, daí para televisão é um pulo, está feito o sucesso pelo artista produzido e os shows começam a aparecer, contratando um grupo de rapazes e moças de boa performance com muito molejo no corpo e pouca roupa, e o povo aplaudindo. Concluo este artigo com uma décima a propósito, do poeta Colly Flores, que escreveu: “cultura emana do povo/ do povo vem o saber/ o velho se torna novo/ fazendo o povo aprender,/ nas entrelinhas da vida/ está a sabedoria/ que se aprende cada dia/ no fazendo e no fazer/ fazendo o povo crescer/ no que se faz e se cria”.
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