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Literatura

Por João Neto Félix Mendes - www.apensocomgrifo.com

O cangaceiro mais jovem do bando de Lampião, Antônio dos Santos, mais conhecido como Volta Seca, ingressou no bando com apenas 11 anos, por causa de brigas frequentes com sua madrasta e, também, segundo ele, por fugir da polícia por ter assassinado o homem que estuprou sua irmã, aos dez anos de idade.

Suas funções diárias se limitavam a banhar os cavalos, lavar louças, roupas sujas e espionar cidades que havia muitos policiais em ronda, passando desde logo a ser o famoso Volta Seca. Tanto apanhou que se passou a ser um dos cangaceiros mais violentos de todo o bando. Apesar de semi-alfabetizado, escrevia com muita facilidade versos e também compunha músicas que o bando inteiro conhecia e entoava com entusiasmo quando estava acampado em alguma fazenda sob proteção do próprio dono. Em 1929, Volta Seca participou da chacina de Queimadas.

Volta Seca foi preso três vezes, tendo fugido nas duas primeiras. Na primeira vez, aos quinze anos, em março de 1932, após ser capturado na Bahia, foi transferido para um presídio em Salvador. Nessa ocasião, duas mil pessoas recepcionaram sua chegada à cidade, antes de ser levado à cadeia. Em 1939, enquanto se encontrava preso, foi visitado por Irmã Dulce, canonizada em 2019, que tocava sanfona para os prisioneiros. Em 1944, conseguiu escapar do presídio, em companhia de Manoel Pompílio, e foi caminhando da Bahia até Sergipe, percurso que demorou vinte dias. Empreendeu a segunda fuga em 1946.

À revelia do Código de Menores de 1927, em vigor na época, que estabelecia a maioridade penal aos dezoito anos de idade, Volta Seca foi julgado, aos quinze, e sentenciado a 145 anos de prisão. Posteriormente a pena foi reduzida para trinta e, finalmente, para vinte anos. O cangaceiro relatou, aliás, ter solicitado intervenção de Irmã Dulce para conseguir diminuir a pena. Além disso, foi objeto de estudos de antropologia criminal por Estácio de Lima, médico-legista, e Arthur Ramos, diretor do Instituto Nina Rodrigues, que constataram a ausência de "estigmas lombrosianos" e advogaram pela sua libertação, visto que o direito à ampla defesa também não foi respeitado. Inclusive, Estácio de Lima o convidou a trabalhar no Instituto. Em 24 de março de 1952, após vinte anos preso, foi liberado do cárcere em decorrência do indulto presidencial concedido por Getúlio Vargas e solicitado, pessoalmente, pelo médico quatro vezes. O dinheiro que acumulou no presídio, cerca de oito contos de réis, doou aos pobres após deixar a cadeia.

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