Historiador Frederico Pernambucano de Mello resgata história de Delmiro Gouveia

Cultura

Por Renata Arruda - Agência Alagoas

O visionário do Sertão, Delmiro Gouveia, será tema da palestra do historiador Frederico Pernambucano nesta terça (10) sobre os cem anos de morte do desbravador do NE.

Empreendedor que transformou um povoado no Sertão nordestino em polo industrial no início do século XX será lembrado nesta terça-feira (10) na cidade que leva seu nome

O historiador dedicado ao Nordeste brasileiro Frederico Pernambucano de Mello, ex-superintendente do Instituto de Documentação, da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), dará palestra nesta terça-feira (10), às 19h30min, na Escola Estadual Delmiro Gouveia. O evento faz parte da agenda do Bicentenário da Emancipação de Alagoas e ocorre no município de Delmiro Gouveia.

Para o historiador, a comemoração do centenário de morte do desbravador do Sertão nordestino, Delmiro Agusto da Cruz Gouveia, é de grande importância. “É uma grande emoção voltar a Alagoas nesta data, uma vez que sou um grande admirador da figura de Delmiro. Um homem que teve tantas oportunidades, poderia ter seguido funções formais, seguir no caminho pré-determinado do Direito, mas seguiu pelo caminho oposto. Num universo latino, onde se via pouco trabalho e dedicação, Delmiro seguiu a linha anglo-saxônica, era um visionário e se tornou um grande empreendedor, urbanista e empresário. Lembrar tal exemplo é de grande importância nos dias de hoje. Com suas ideias, Delmiro poderia ter criado até um partido político de tão atual”, afirma Mello.

Autor do livro “Delmiro Gouveia: Desenvolvimento com impulso de preservação ambiental”, Mello dará palestra em função do centenário de morte do pioneiro da industrialização do Sertão nordestino e explanará sobre a vida e morte do desbravador e visionário.

“Graças a Delmiro, Recife pode orgulhar-se de ter um estabelecimento hoteleiro de grande porte por causa da vinda do Grande Hotel Internacional, inaugurado em 1899, junto com o Mercado Modelo. Ele ainda trouxe o primeiro shopping center brasileiro para a cidade. Montou o complexo de lazer conhecido como Pensão Derby, que tinha uma inspiração: a chamada Cidade Branca de Chicago, cenário construído para abrigar a Exposição Internacional em 1893. No Sertão, manteve o mesmo empreendedorismo, quando protagonizou a saga da construção da primeira hidrelétrica no semiárido brasileiro, aproveitando as águas do São Francisco.


Cangaço

Frederico Pernambucano de Mello ressaltou ainda os avanços da Segurança em Alagoas, ao lembrar o grande feito da polícia alagoana que começou pelo desmonte do maior grupo criminoso de uma época, o cangaço. “Ano que vem vamos comemorar 80 anos que a polícia alagoana frustrou os planos das polícias da Bahia e Sergipe ao eliminar o cangaço. Era o fim do grupo no Nordeste. Lampião, Maria Bonita e seu bando estavam mortos crivados de balas de fuzil modelo 1908, da Polícia Militar de Alagoas”, lembra.

No ano em que são comemorados os 200 anos de emancipação política do Estado, e também o centenário de morte do pioneirismo de Delmiro Gouveia, o Governo de Alagoas fará o memorial em homenagem ao desbravador do Sertão.

“É extraordinário destacarmos os relevantes serviços prestados por Delmiro Gouveia para toda a população alagoana. Neste sentido, o memorial irá eternizar a história de um homem que num período de 20 anos transformou a região em uma área próspera”, enfatizou.

Trajetória

Frederico Pernambucano de Mello nasceu no Recife, em 2 de setembro de 1947. Graduou-se em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1971, tendo exercido as funções efetivas de procurador federal até o ano de 2008, quando se aposentou.

Possui pós-graduação em Administração de Assuntos Culturais: Política e Gerência, pela Organização dos Estados Americanos/Universidade de Brasília/Centro Nacional de Referência Cultural, sob a direção do designer Aloísio Magalhães.

Na Fundação Joaquim Nabuco, integrou a equipe do sociólogo Gilberto Freyre, de 1972 a 1987, período em que, sob a orientação deste, direcionou seus estudos para a História Social da região Nordeste do Brasil, com foco nos aspectos de conflito, tendo publicado os seguintes livros:
Rota Batida: Escritos de Lazer e de Ofício, Recife, Edições Pirata, 1983, prefácio de Alberto da Cunha Melo.

Guerreiros do Sol: Violência e Banditismo no Nordeste do Brasil, Recife, Editora Massangana/Fundação Joaquim Nabuco, 1985, prefácio de Gilberto Freyre (ora em 5ª edição pela Editora A Girafa, de São Paulo).

Quem foi Lampião, Recife-Zürich, Stähli Edition, 1993, prefácio de Mário Souto Maior (ora em 3ª edição).

A Guerra Total de Canudos, Recife-Zürich, Stähli Edition, 1997,prefácio de Manuel Correia de Andrade (ora em 3ª edição pela Escrituras Editora, de São Paulo).

Delmiro Gouveia: Desenvolvimento com Impulso de Preservação Ambiental, Recife, Editora Massangana/Fundação Joaquim Nabuco-CHESF, 1998, prefácio de Fernando Freyre.

Guararapes: Uma Visita às Origens da Pátria, Recife, Editora Massangana/Fundação Joaquim Nabuco, 2002.

Tragédia dos Blindados: A Revolução d 30 no Recife, Recife, Editora Massangana/Fundação Joaquim Nabuco, 2007, prefácios de Paulo Cavalcanti e Socorro Ferraz.

Estrelas de Couro: A Estética do Cangaço, São Paulo, Escrituras Editora, 2010, prefácio de Ariano Suassuna.

Benjamim Abrahão: Entre Anjos e Cangaceiros, São Paulo, Escrituras Editora, 2012, prefácio de Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes.

Na Trilha do Cangaço: O Sertão que Lampião Pisou, São Paulo, Editora Vento Leste, 2016, livro de arte com fotografias de Márcio Vasconcelos e curadoria de Maureen Bisilliat.

Guerra em Guararapes & Outros Estudos, São Paulo, Escrituras Editora, 2017, prefácio de Anco Márcio Tenório Vieira.

Possui diversos prêmios literários, a exemplo dos concedidos pela Fundação Joaquim Nabuco (Prêmio Casa-Grande & Senzala de Interpretação da Cultura Brasileira – 1986/7); pela Academia Pernambucana de Letras (Prêmio Othon Bezerra de Mello – 1987) e pelo Governo do Estado de Pernambuco (Prêmio Especial Governo de Pernambuco – 1990); pelo Festival de Cinema de Brasília (Melhor Pesquisa, destinada ao longa-metragem Baile perfumado – 1996); pelo Conselho Estadual de Cultura (Diploma Gilberto Osório de Andrade – 1996); e pela Câmara Brasileira do Livro (Finalista do Prêmio Jabuti - 2011, área de Ciências Humanas).

Frederico Pernambucano de Mello recebeu ainda diferentes distinções honoríficas civis e militares, dentre as quais a Ordem do Mérito Capibaribe da Cidade do Recife, no grau de Grande Oficial, 1985; a Medalha Pernambucana do Mérito Policial-Militar, 1986; a Medalha do Mérito da Fundação Joaquim Nabuco, 1988; o Diploma de Colaborador Emérito do Exército Brasileiro, 1994; a Ordem do Mérito Militar do Exército Brasileiro, grau de Comendador, 1995; a Medalha do Pacificador, do Exército Brasileiro, 1997; a Medalha do Mérito do Servidor da Fundação Joaquim Nabuco, classe Ouro, 2002; e a Comenda da Ordem do Mérito Literário Jorge de Albuquerque Coelho, da União Brasileira de Escritores, Seção de Pernambuco, 2012.

É membro dos Institutos Históricos de Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte, do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, e da Academia de História Militar Terrestre

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