Comissão deverá convocar ministros para cobrar anistia aos produtores rurais afetados pela seca

Política

por Patrícia Costa com Agência Senado

Diante de representantes do Banco do Nordeste, da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e dos ministérios da Integração Nacional e do Desenvolvimento Agrário, parlamentares das Comissões de Agricultura da Câmara e do Senado cobraram a suspensão imediata das execução das dívidas e a anistia dos empréstimos de pequenos e médios produtores rurais prejudicados pela estiagem durante audiência conjunta nesta terça-feira (7/5) em Brasília.

A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) considerou uma ?afronta? ao drama vivido pelos produtores do semiárido a ausência dos representantes do Banco do Brasil, do BNDES e do Ministério da Fazenda convidados prestar esclarecimentos na audiência. A senadora e diversos parlamentares presentes na reunião defenderam a convocação dos ministros da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário, da Integração Nacional e da Fazenda, além dos presidentes dos bancos oficiais, para explicar o que está sendo feito para resolver o problema do endividamento no Nordeste.

Enquanto os integrantes dos órgãos governamentais tentaram demonstrar as medidas que foram tomadas de socorro ao setor rural, deputados e senadores nordestinos pressionaram por medidas mais efetivas e emergenciais.

Após ouvir explicações sobre as medidas legais de socorro que beneficiaram os produtores da agricultura familiar, o presidente da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), o senador Benedito de Lira (PP-AL), defendeu sua proposta de conceder anistia às dívidas de até R$ 100 mil na origem, ou seja, valor sem a inclusão de juros, multas e correção monetária.



?A seca prejudica a todos e não escolhe vítimas. Acho justa a ajuda à agricultura familiar, mas não podemos deixar à margem os pequenos e médios agricultores. Não adianta dar um pouco de oxigênio, prorrogando as dívidas, porque sabemos que só estamos adianto a morte, a execução da dívida?, defendeu.

Os produtores rurais do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) podem renegociar seus empréstimos e obter até 85% de desconto, além de estarem autorizados a contratar novas operações com juros diferenciados.

Durante a audiência, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) mostrou que 70% dos R$ 9 bilhões prometidos pela presidente Dilma Rousseff para atendimento às vítimas da estiagem já estavam comprometidos com as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Segundo dados da entidade, o endividamento dos agricultores do Nordeste ultrapassa R$ 14 bilhões.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba, Mário Borba, a resolução do problema é uma decisão política. Ele chegou a comparar com a desoneração de R$ 44 bilhões concedidos pelo governo ao setor automobilístico, cujo valor é três vezes maior do que o total da dívida dos agricultores.

Só na dívida ativa da União estão inscritos 85 mil produtores da região, que devem quase R$ 3 bilhões e, em razão disso, não podem entrar em processos de renegociação.

Segundo a técnica da CNA Rosimere dos Santos, há 24 anos o governo tenta renegociar a dívida agrícola do Nordeste com ações ?paliativas?, como a prorrogação dos empréstimos que estão sendo tomadas neste momento.

Governo ? De acordo com as informações divulgadas pelo Governo quase R$ 2,5 bilhões já foram liberados para agricultores ? sendo quase R$ 2 bilhões para pequenos produtores rurais ? para amenizar os efeitos da seca, que atinge 1.400 municípios na pior estiagem dos últimos 50 anos.

O representante do Ministério da Integração na audiência, Jenner Guimarães, disse que o governo já lançou um pacote de ações para os afetados pela estiagem, mas os produtores que têm dívidas mais antigas, será preciso propor novos tipos de negociação e com prudência, para não afetar a capacidade do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE).

Mesmo com a disponibilidade de crédito, produtores reclamaram do excesso de burocracia para a renegociação e relataram dificuldades de as ações adotadas chegarem até os produtores rapidamente.

Representando o Ministério da Agricultura no debate, Neri Geller ressaltou que apesar de o governo estar se esforçando para ajudar os produtores a superar os efeitos da seca, o Executivo não interfere nas relações entre bancos e agricultores endividados, já que são as instituições bancárias que assumem o risco da dívida.

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