Elas estão animadas com as oficinas levadas às duas comunidades sertanejas pelo Barco Museu no Balanço das Águas
O projeto ?Tecendo a Manhã?, que o Museu no Balanço das Águas realiza no sertão alagoano, vai de vento em popa. A coordenadora da ação de arte-educativa patrocinada pela Caixa Econômica Federal, Maria Amélia Vieira, reuniu-se na semana passada com bordadeiras dos povoados Ilha do Ferro, no município de Pão de Açúcar (distante 250 km de Maceió), e Entremontes, em Piranhas (a 290 km da capital), para prestar consultoria às artesãs das duas comunidades que ficam às margens do rio São Francisco.
?O projeto ?Tecendo a Manhã? vai gerar ações no campo do artesanato, com base no entrecruzamento de experiências de mulheres bordadeiras das cooperativas de artesanato da Ilha do Ferro e de Entremontes, e com intervenções feitas pela nossa consultoria. O resultado desse trabalho será visualizado pela população das duas comunidades e também pelo público de Maceió, onde faremos exposição, ampliando assim as possibilidades artísticas e comerciais dessas notáveis artesãs?, explica Maria Amélia Vieira.
A coordenadora ? que é artista visual e vem realizando esse trabalho de inserção cultural e social em comunidades do baixo São Francisco desde 2008 ? reuniu-se com as artesãs da Ilha do Ferro na famosa ?Boca do Vento?, uma área de convivência repleta de esculturas e móveis em madeira feitos pelos maridos das bordadeiras. A movimentada e alegre Boca do Vento fica nos fundos da casa de Rejânia Rodrigues, filha do mestre Fernando Rodrigues (1929-2009) ? pioneiro da arte popular de esculturas e design de móveis em Pão de Açúcar.
Rejânia, 47 anos, diz que o turismo na Ilha do Ferro ?desapareceu?.
?Nunca mais vi turista por aqui. Nem sei dizer o mês que algum visitante esteve na Ilha do Ferro?, afirma a bordadeira, desapontada, contando com as ações do projeto ?Tecendo a Manhã? para melhorar este momento de estagnação. ?Espero que os quadros que estamos bordando com imagens do nosso povoado e do rio chamem a atenção dos turistas. A intervenção de Maria Amélia ajuda a dar mais perfeição ao nosso trabalho ? é novidade para nós.?
A arte do boa-noite
Apesar de conhecerem a técnica do redendê e do ponto-de-cruz feitos em Entremontes, as bordadeiras da Ilha do Ferro se especializaram num bordado especial que é chamado de boa-noite. ?Eu aprendi a fazer olhando minha mãe?, diz Poliana Lima, de 32 anos, que não descuidou de passar a arte para a filha. ?Eu faço esse bordado desde os oito anos. Aprendi com a minha mãe?, conta Rejânia, afirmando que a técnica ?já está no sangue?. ?Se você achar uma mulher aqui na Ilha do Ferro que não sabe fazer o boa-noite é porque ela não é daqui.?
?O segredo é o desfiado ? se não fizer direitinho não fica bonito?, diz Poliana sobre a técnica do boa-noite. ?È importante que seja feito num tecido bom, senão o bordado perde a qualidade. Compramos o tecido em Arapiraca.?
De acordo com a bordadeira Iraci Nunes, 46, o boa-noite chegou a Ilha do Ferro pelas mãos da senhora Ernestrina. ?Ela era de Sergipe e veio morar aqui. Isso tem muitos anos, não é do nosso tempo. Fazia ponto-de-cruz, labirinto, rococó, mas o ponto forte sempre foi o boa-noite. Ela vendia para fora.?
O prazer de fazer redendê
No povoado Entremontes, com maior fluxo turístico propiciado pela bela e conservada Piranhas, outro grupo de bordadeiras se encontrou com Maria Amélia, na cooperativa Casa do Bordado de Entremontes. ?Eu bordo desde que me entendo de gente. Aprendi com minha mãe e minha tia. Minha avó já bordava, é uma tradição de família?, conta Verleide Gonçalves, 35, esmiuçando a técnica do redendê. ?É preciso pegar seis fios do tecido panamá e daí fazer um quadrado de sete linhas, desenvolvendo então o bordado. É a partir desse quadradinho miudinho é que se cria o bordado inteiro.?
A talentosa Anália Oliveira, 54, não pestaneja: ?Você pode encontrar o redendê em vários lugares, mas aqui é mais bem feito. É o bordado que me dá mais prazer em fazer?.
O projeto ?Tecendo a Manhã? recebe apoio do Sebrae-AL e da Galeria Karandash. Essa troca de experiências entre as bordadeiras da Ilha do Ferro e de Entremontes segue até agosto, quando será realizada em Maceió uma exposição dos trabalhos realizados nas oficinas.
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