Luiz Gonzaga ? Lua - Gonzagão, simplesmente o melhor, 96 anos

Cultura

Sergio Soares Campos

O ano era 1912, num dia muito especial, Deus preparou com carinho, uma família, para receber o iluminado da musica brasileira. No dia 13 de dezembro nascia Luiz Gonzaga do Nascimento, na fazenda Caiçara, terras do Barão de Exu, na cidade de Exu, alto sertão pernambucano, filho de Seu Januário e Dona Santana. Aquele garotinho sambudo que já era o segundo do casal, num total de nove filhos, recebe o nome de Luiz (por ser dia de Santa Luzia), Gonzaga (por sugestão do pároco) e Nascimento (por ter nascido no mês de dezembro, mês do nascimento de Jesus Cristo). No decorrer do tempo Luiz Gonzaga do Nascimento foi se tornando; Luiz de Januário, Lula, Seu Luiz, Mestre Lua ou simplesmente Gonzagão. Seu Luiz viveu o bastante para, através da música, protestar, alegrar e emocionar milhares de pessoas de todas as idades e classes sociais. Aos 77 anos o Mestre Lua, depois de cumprir categoricamente sua missão aqui na Terra, se despede na cidade do Recife, após ter sido acometido por uma doença que o obrigou a parar de fazer aquilo que mais gostava que era alegrar os outros. A osteoporose o angustiou, mas nem por isso o Mestre perdia a oportunidade de expressar seu bom humor. Dá pra sentir num trecho da última entrevista que Luiz Gonzaga dá ao jornalista Marcos Cirano e ao fotógrafo Pedro Luiz, num apartamento em Boa Viagem, no Recife, no dia 17 de outubro de 1988, nove meses e 16 dias antes de sua morte: MC - A osteoporose, o senhor vem sentindo desde quando? LG - Ela só foi localizada agora, aqui no Recife. O primeiro ataque dela foi no fêmur. E é por isso que eu estou usando essas gonzaguetes (mostra as duas muletas que utiliza para andar, ainda assim com bastante dificuldade). E dizem que fêmur é bicho muito atrevido, até hoje ninguém encontrou medicina que o dominasse.
No dia 02 de agosto de 1989 os anjos preparam a volta à pátria celestial, pois aqui ele já tinha cumprido com bastante maestria o seu papel. O rei sai de cena, porém, deixa um legado cultural que está vivo e cada vez mais rico em nossas mentes.
Alguém poderia dizer simplesmente que Luiz Gonzaga, foi um homem de sorte, e que, só chegou aonde chegou porque foi ajudado por algumas pessoas.
A revista Época, semanário brasileiro, trás em sua capa da edição de nº 549 de 24 de novembro de 2008, a seguinte tema; O que você precisa para ter sucesso: amigos influentes, esforço obstinado, talento genial e muita sorte. Nós sabemos que Luiz Gonzaga tinha todos esses pré-requisitos e tinha muito mais, tinha ginga, ou, como dia meu amigo Demacol, o "Velho" tinha borogodó, daí, ter alcançado a gloria.

Aos oito anos de idade, Luiz Gonzaga substitui um sanfoneiro, numa festa tradicional, na Fazenda Caiçara, no Araripe, Exu. No ano de 1926 teve sua primeira ajuda profissional, seu amigo Gilberto Aires, filho do Cel. Aires o convenceu a mudar-se para a cidade do Rio de Janeiro, deixando o Araripe. Hospedara-se na casa de Dona Vitalina e o amigo Gilberto foi seu primeiro empresário.

Em 1930 ingressa no Exército Brasileiro, o qual veria a servir por nove anos, depois de mentir a idade, já que o rapaz taludo tinha apenas 18 anos e teria que ter autorização dos pais, porém ele tinha acabado de fugir de casa, depois de levar uma surra da moléstia, de seus pais, por querer namorar a filha do Coronel Raimundo Delgado. Teve que dizer que tinha 21 anos. No Exército, percorreu boa parte do Brasil e de passagem por Juiz de Fora - MG, conhece Domingos Ambrósio, que lhe ensina mais alguns truques na sanfona.

Seu primeiro palco foi no cabaré O Tabu, na Rua Mem de Sá - RJ e o ano era 1939. A partir daí conhece outros artistas e passa a disputar espaço, todos querendo um lugar ao sol. No inicio toca todo tipo de música, de Blues a Fox Trotes. Suas incursões no programa de calouros de Ary Barros, interpretando tangos e valsas, lhe garantem, no máximo, uma nota 2,5, quando o total seria nota 5. Um dia acontece algo que viria mudar o rumo na carreira artística de Luiz Gonzaga, numa das casas noturnas onde tocava no Mangue, Luiz Gonzaga foi desafiado por um grupo de jovens nordestinos a tocar algo "lá da terra", algo que ele tinha abandonado. Depois de treinar durante semanas, volta e apresenta-se para os universitários e é aplaudido por toda a casa. Volta ao programa de Ary Barroso, conquistando a nota máxima.

Em 1944 ganha o carinhoso apelido de "Lua", do então radialista Paulo Gracindo, pelo seu rosto redondo e rosado. Entre os muitos bons compositores que fizeram parcerias com Luiz Gonzaga, como; Zé Dantas, Patativa do Assaré, Onildo Almeida, Zé Marcolino, entre outros, acredito que o cearense Humberto Teixeira tenha sido o mais importante, compondo junto com rei, clássicos como; Asa Branca, Assum Preto e Juazeiro. Seu maior clássico foi gravado em 1947, Asa Branca poderia muito bem ser considerado um hino da música brasileira.

No dia 06 de junho de 1989, Luiz Gonzaga sobe pela última vez num palco ao lado de Dominguinhos, Gonzaguinha, Alceu Valença e outros parceiros, o público ouviu atento o ídolo pronunciar com uma voz um pouco trêmula, mas forte, um louvor ao forró: LG - Quero ser lembrado como o sanfoneiro que amou e cantou muito o seu povo, o sertão, que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o amor...

Numa manhã de sábado, feira-livre em Santana do Ipanema, do mês de setembro de 1974, um dia que parecia igual aos outros. Aos catorze anos, tive a sorte e conseqüentemente a alegria de assistir um show de Luiz Gonzaga. Enquanto lia a ultima entrevista do Mestre, um trecho me fez recordar aquela manhã abençoada de sábado. Meu pai me mandou ir à padaria pegar um saco de pão, já que ele revendia na sua mercearia, e após ter pegado a encomenda, um aglomerado de pessoas me chamou atenção, ao me aproximar vi que se tratava de um show relâmpago do Rei do Baião. Vejam o que ele diz: LG - De vez em quando, aparecia um seresteiro, como Augusto Calheiros e mais alguns, que, através de suas vozes, eles contavam as coisas engraçadas do Nordeste, como Manezinho Araújo. Mas, não com a boa intenção que eu me apresentava, em cima de caminhão, levando o patrocinador nas costas, fazendo espetáculos nas praças públicas, improvisando espetáculos em determinadas praças... Era como se o Rei tivesse falando de mim, pois, era exatamente em cima de um caminhão que ele cantava naquele dia, na feira, cantando pra um monte de matutos e eu estava lá no meio, com os olhos esbugalhados e um sorriso abobalhado de um garoto que tinha ganhado um presente dos céus naquele momento.

Obrigado Senhor por nos ter dado um ser humano tão humano e por ter me dado a oportunidade de tê-lo visto cantar e ainda hoje acalentar minh'alma.

Gonzagão vive! Viva Gonzagão!

Fontes de pesquisa:
www.surforeggae.ig.com.br/noticias.asp?idg=234&Tipo=Entrevistahttp://www.compadrelemos.com/visualizar.php?idt=1026685

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