Santana do Ipanema apresenta-se como linguagem poética que ilumina o sertão alagoano desde os primeiros de seus cronistas, desde os primeiros de seus poetas. Como se encontra na memória de tantos munícipes: linguística na textualidade faz-se por contextos de um texto fazendo parte de outro texto; um gênero na composição doutro gênero textual; qual uma praça dentro de uma rua.
Quais ruas que carecem de praças, na metáfora orgânica, a crônica parece representar pulmões entre os gêneros literários. Os devotos de Santana, todos os filhos de Maria, louvam a santa semana, e roga o povo aleluia, peticiona pela paz: amar a vida se faz com fé, perdão e gratidão. Os devotos de Santana, todos os filhos de Maria, louvam a santa semana. Vida é breve e pequena, e passa quão passa o triz: hoje missa na matriz, em Santana do Ipanema. Louvando essa semana os devotos de Santana, todos os filhos de Maria, louvam a santa semana. E cada rua requer, em sua petição implícita, a sua praça. Cadê a praça daqui?
Sem pressa nas praças,
pula de galho o saguim,
ri à vontade o bem-te-vi.
Santana do Ipanema,
cadê a praça daqui?
Aves vivem de esmola;
em toda rua se acham
gaiolas e mais gaiolas.
Praças são de pássaros
e céus discos-voadores.
O presente do indicativo
segue chofer aplicativo;
praça não há engraxate.
Cigarra faz cada escolha
e formiga carrega folhas.
A educação é representada, metaforicamente, por uma praça que oxigena uma rua. Na educação formal sistematizada, as relações pedagógicas que atendem a quaisquer estudos em língua portuguêsa, por exemplo, nos anos finais do Ensino Fundamental, ao se trabalhar interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e multidisciplinaridade, há mudanças exponenciais em salas de aula a quem se propõe a ensinar e a quem se propõe a aprender.
O estudo em língua portuguesa representa um atravessar transdisciplinarmente outros componentes que a escola dispõe ao aluno. Como se acompanha em Santana do Ipanema, cidade literária, a sua vocação à poesia e à crônica. O mundo escolar é um mundo que existe porque existe nele a integralidade, não as partes, não a escola fragmentada. Quão a praça que ilumina uma rua à voz do poeta e do cronista santanenses.
Que praça é essa praça,
ainda praça em Santana,
mesma praça aliterante.
Quando praça, e é pouca,
a sua tônica e a sua átona,
sendo praça ainda uma.
Praça solta, fotográfica,
fotografada essa praça,
praça em pouca roupa.
Sendo que a intensidade
na praça menor é átona,
é cedilha praça tão boa.
Cantam os passarinhos.
Nas praças surgem
voos livres de pássaros;
nas cidades praças;
e o amanhã das árvores:
pulmões ao mundo,
cantam os passarinhos.
A manhã de cada ave
depende das folhas,
depende das árvores;
não há raízes cidades
senão nessas praças
habitadas por saguins.
Aonde vão suas praças,
Santana do Ipanema?
Cantam os passarinhos.
Inicia-se a poesia e a crônica com dicendi de que não é difícil identificar que o texto é apenas a extensão de seu intertexto; inexiste um gênero textual sem algum tipo de intertextualidade. Nas escolas, em Santana do Ipanema, a vocação do aluno, no Ensino Fundamental, é poesia e crônica.
Fácil ao professor acompanhar o aluno mediando à sua aprendizagem. Desde a origem, a forma fixa na poesia ou não-fixa, transfigura-se, e a crônica jornalística publica os fatos atuais de interesse social; a crônica filosófica reflexiona sobre algum tema específico; e a crônica humorística ao usar a comicidade recorrendo à ironia; a crônica descritiva descreve os elementos narrados; a crônica histórica voltada aos fatos passados; quer a crônica dissertativa quer narrativa seguindo a tinta de cronista que escreve na primeira ou terceira pessoa do singular; ou ainda a crônica narrativo-descritiva híbrida entre narrar e descrever; na crônica lírica, o ponto alto encontra-se na subjetividade e nas sugestões expressas no gênero; na crônica poética há versos ou simples elementos deste gênero (poesia).
É bom lembrar que a crônica sozinha não é crônica; ela depende da urgência do interesse, como a rua depende das casas e os moradores das árvores, e estas dos pássaros. Aqui havia uma praça?
Já houve uma cidade distante
onde as praças tinham árvores,
onde as árvores tinham pássaros,
onde os pássaros tinham vida,
onde as vidas tinham sonhos;
praças tornaram-se
pássaros medonhos,
com vidas sem sonhos;
as folhas secaram,
e as praças substituídas
por lembranças.
História não é pudica,
cada história a sintaxe
e cada sintaxe publica
Teatro-Feijão-Com-Arroz
nascido e criado
em Santana do Ipanema,
já foi à Argentina,
e “A Fila do INPS” a NY.
Teatro voou e atravessou
a Cordilheira dos Andes,
indo a Santiago do Chile.
Faz parte das memórias
esse teatro santanense,
e desde Albertina Agra
nos grupos, nas escolas
é o Teatro em Santana
ao santanense História.
Moldada nas pedras
o látego ao trabalhar;
surge gibão de couro,
e Santana se constrói;
no sentido da sintaxe
aboia o carro de bois;
e na gaiola canta a ave;
passos moldam cidade.
Nos aspectos principais dos estudos em língua portuguesa, se alguém tropeça na didática, há quem caia na reprovação. O papel da prova em quaisquer áreas na educação formal sistematizada, em qualquer componente curricular, é saber se o que se ensina se aprende; não é o papel da prova reprovar o aluno. Talvez os estudos em língua português, nos anos finais do Ensino Fundamental, observando os valores da Análise da Conversa (uma das linhas em Linguística Aplicada), os papéis dos sujeitos em salas de aula galguem o protagonismo, tornem-se centrais e não periféricos, e não figurativos neste contexto de quem se propõe a ensinar e de quem se propõe a aprender.
Análise da Conversa é um recurso pedagógico que promove resultados positivos em salas de aula a quem se propõe a ensinar e a quem se propõe a aprender. Este indo mais longe com as metodologias adotadas de quem se propõe a ensinar. Como a memória que oxigena uma cidade numa inteiração social expressiva.
Santana só memória
nessa velha fotografia;
a cidade nas paisagens;
cores do sol distribuídas.
O salário do vaqueiro;
segue o vaqueiro à roca,
e o sol surge de repente;
é feita oração no rosário;
na vegetação pasta o gado,
e, nessa hora da manhã,
formigas seguem o aceiro;
na cozinha, os aromas
acordam os trabalhos.
Os sonhos do vaqueiro
cabem em seu chapéu,
e o dia é o seu salário.
Sabe-se também que o sujeito é sentença ou expressão que se refere ao verbo. Feito o Panema e as suas águas que passam em viagem dirigindo-se a outros sítios, águas enferrujadas, águas que se juntam às outras, águas descendo em caixões, panelas d’águas revoltas, velozes águas com a sua energia de água que tudo arrasta e que tudo leva, e que tudo lava. Feito o Panema cheio atravessando cidades em sua viagem. O período escolar passa na velocidade das águas, passa a escola multipluritransdisiciplinarmente – seja a quem se propõe a ensinar, seja a quem se propõe a aprender.
Quais águas em riachos, rios, a multipluritransdisiciplinaridade que se trabalha na escola é a pedagogia pela qual os conteúdos interligam-se, a exemplo de gêneros textuais diferentes. Na sintaxe do sujeito, nem sempre o sujeito realiza a ação ou mesmo aquele sobre o qual se fala; há outras formas que definem o sujeito; nos termos essenciais da oração, verbo acompanha-o feito o Panema que acompanha o ritmo de suas águas.
Lentas águas de rio,
o rio São Francisco
aguarda o Ipanema;
mas o rio não vai,
perde o rio uma letra,
Panema tropeça, cai;
entre pedras e areia
vai panema-rio, vai;
desce Panema lento;
perde letra por letra.
Ao Velho Chico o rio,
ei-lo panema-rio chega
em sua cor de pedras,
em sua cor de águas,
em sua cor de sono.
Dormem as águas, rio,
dormindo, dormindo
essas águas de fome.
Objeto de aprendizagem que se apresenta nas escolas em Santana do Ipanema (cidade vocacionada à poesia e à crônica) é mergulhar na leitura que se faça identificando o que se encontra no gênero textual, em sua intertextualidade. E ainda há no objetivo de aprendizagem reconhecer elementos distintos nas produções textuais.
A intertextualidade, como elemento que se apresenta por entre as suas linhas d’água, viaja pela calha do rio Ipanema, em Santana. E o objetivo de aprendizagem na imagem de rio, na imagem por palavras, é identificar os elementos na notícia de água no Panema como fato jornalístico-midiático.
Em breve o rio cheio
com águas por cima,
correndo feito o vento
sobre estacas, cercas;
nada rio; quanto aviso;
não fica terra ou ilha.
Volta Panema a ser isto:
água de peixes e alegria.
Nossa parte no Panema,
essa parte que pertence
a Santana do Ipanema.
As águas enferrujadas
ocupando a sua terra,
suas ilhas, suas pedras;
o barulho feito guerra
acorda Santana. Festa.
Ronco desce das serras;
ronca o velho Panema
no Serrote do Cruzeiro.
Não é tão só adotar ensino doméstico e deste esperar resultados exitosos; as teorias pedagógicas são amplas e complexas. Fundamental ao sucesso da aprendizagem e do ensino são os meios pedagógicos; e são muitas as mudanças que ocorrem periodicamente. O trabalho docente, ao se aproximar dessas linguagens, enriquece sobremaneira quer o ensino, quer a aprendizagem; sobretudo se trabalhado interdisciplinarmente.
A barreira que dificulta o binômio ensino-aprendizagem é a ausência de didática de quem se propõe a ensinar que não alcança a quem pretende aprender. Ao se falar em fruição na crônica, por exemplo, está se falando no papel do intertexto; este do qual se fala associado à imaginação de quem lê, aos afetos e aos sentidos de quem lê.
Santana essa hora da tarde
feliz o Serrote do Cruzeiro;
mói e não é caldo de cana
esse caldo grosso e ligeiro;
sobre as terras de Santana,
a garapa aquosa feito lama,
grossa água amarelada
corta à tarde em Santana,
limpando o rio Ipanema,
carregando a bagaceira:
orelhas-de-burro margeiam;
são vistas do alto do Cruzeiro.
Vai rio Ipanema despejando;
e não tarda sua calha cheia.
Muito peixe nessa hora;
correm as águas velozes:
Mucha agua y peces
em desabalada carreira
Mucha agua y peces
abastecendo às mesas
Agua y muchos peces
tornando vivo o que vive.
Essas águas, essa força,
essa energia imensa
traz guardada em sua vida
tantas vidas que alimentam:
agua y muchos peces
a Santana do Ipanema.
O rio é quem constrói e alimenta as cidades como a poesia e a crônica constroem as escolas. Qualquer construção oracional é uma unidade sintática que se caracteriza pela presença de um verbo; e os adjuntos (ad + junto = o que está ao lado) juntam-se a um nome ou a um verbo para precisar-lhe o significado; mesmo que tragam algo novo à oração, não são eles indispensáveis ao entendimento do enunciado. E o objeto direto é o complemento de um verbo transitivo direto.
Sabe-se que as orações subordinadas adjetivas qualificam ou especificam algum termo da oração principal, funcionando, pois, como adjetivos. O complemento de um verbo transitivo indireto é o complemento que se liga ao verbo por meio de preposição. Feito o súbito roncar das águas.
Uma carrapateira assiste
ao espetáculo das águas
atirando-se na Barragem:
as águas se espalhando;
vai roncando o seu ronco,
velho roncar impetuoso.
Revive o Panema rápido
em sua mudança lógica;
sua areia revivendo sedenta;
de repente, cria vida e corre.
Jorro d’água sobre as pedras
nessa ponte da Barragem;
Santana do Ipanema revendo,
águas barrentas descendo
em direção às outras águas.
Água no Panema! o povo alude
em sua intertextualidade de povo.
Imagine o Panema cheio,
com água correndo assim,
com peixes à vontade,
desde a piaba em cardume
aos gigantes surubins.
Imagine o Panema cheio,
com água correndo assim,
nesse mundaréu d’água:
vê um começo sem fim.
O Panema gordo, imenso.
Pescadores voltam à pesca,
braços, tarrafas, mergulhos;
tantos peixes à quaresma
em águas-panema turvas.
Aluno é o resultado da linguagem na escola. Tudo no ambiente escolar acontece quão à calha que, em lugar das águas, recebe a influência das linguagens. Quer linguagem consciente, quer inconsciente; às vezes, uma supera a outra qual fluxo d’água em períodos de cheias no riacho Camoxinga, no rio Ipanema. O discurso, durante o percurso das águas, transforma a terra.
Cidade vocacionada à poesia e à crônica reconhece a importância da linguística no processo pedagógico. Como se encontra a linguística presente na antropolinguística, na linguística computacional, na geolinguística, na sociolinguística, na neurolinguística, na psicolinguística, encontra-se a linguística presente na educação formal sistematizada feito água em corredeiras.
Águas em corredeiras! o povo alude
em sua intertextualidade de povo.
Viva o Panema! está vivo
no milagre da Quaresma.
As águas descem velozes
em corredeiras nas pedras;
tantos peixes pulando alto
numa grande e viva alegria.
Desce o rio em velocidade
indo forte ao São Francisco.
Ribeirinhos felizes. Feliz Santana.
Fazem festas, soltam fogos.
Tantos peixes pulando fora,
vão ao prato na larga mesa
Panema.
Crônica transita em crônica jornalística, filosófica, poética, narrativo-descritiva (narrativa ou descritiva) e ainda humorística, histórica, lírica e também dissertativa. Conotação em Santana, um tipo de intertextualidade entre tantos outros, segue a corrida nas águas do Panema de característica sazonal e breve. Observa-se em Santana do Ipanema o que há de subjetivo na cidade, o que há em suas escolas no exercício das atividades pedagógicas salutares e edificantes.
Santana do Ipanema é a cidade literária. Na forma e na expressão, a cidade faz-se por tessituras literárias. Águas salobras no rio Ipanema, de leito areento e grosso, carregam, com a fome própria da água, as pedras. Metafórica realidade visitada nas histórias, em Santana.
As águas no rio
entre as pedras;
o Panema passa
em poços breves;
há entre paredões,
tantas eternidades;
mesmas águas de sono,
mesmas águas de vida;
as águas dormindo,
dormindo, dormindo...
e a água correndo à vontade.
Um dia, foram ossos e urubus;
e, hoje, esse caldo grosso
descendo vai, espumando vai,
e a água correndo à vontade
sobre as pedras com fome,
e com tanta sede d’água,
indo viagem d’água ave;
volumosos caixões d’água
descendo velha Barragem,
passando famosos lugares;
onde feita pesca de piaba
em litro de vinho e farinha,
feita pesca com os anzóis,
tarrafas nas águas grossas
descendo ao São Francisco
(reencontro à Praia do Peba)
Panema renasce da lama.
Estrondosas margens
em Santana do Ipanema;
povo vai ver água chegar,
vendo o Panema encher
em sua viagem de vidas,
em seu milagre das águas.
E, assim, em qualquer cidade anoitece; à noite, o acendedor de lampiões volta a alumiar essa prática cotidiana nessa caminhada na qual se exercita fruição em poesia e crônica. Na aprendizagem se reconhece literariedade no gênero textual. Aprendizagem associada à lembrança e à compreensão, conforme se aprende com a Taxonomia de Bloom; lembrança e compreensão levam à aplicação e à análise, avalia-se o percurso, e a criação é a última etapa da aprendizagem.
Hiperônimo é o que a escola faz ao encher um quadro, outro quadro, exigindo do aluno mais do que é possível exigir, obrigando-o ir aonde ainda não consegue chegar. A desgramática, porém, não se importa; a palavra é reivindicada pela transgramática de um acendedor de lampiões, na Av. Na. Sra. de Fátima.
E, na avenida, os devotos de Santana, todos os filhos de Maria, louvam a santa semana; o povo ora nas ruas de Santana do Ipanema a caminho da matriz; ora o sertanejo feliz em Santana do Ipanema.
Salve a cidade de esquecimentos,
a cidade não pode ser condenada;
jamais esquecidos os seus nomes,
os seus prédios, as suas memórias;
aqui, Casas Lima; ali, a Maringá;
e o Jornal do Sertão lá na Rua Nova.
Naquela praça, a peça “Debaixo da Ponte”,
naquela rua, a música “A Valsa Maria Júlia”,
naquela avenida, as amizades, o sol.
Eis a cidade: Santana.
Santana fotografada.
Anoitece em Santana
como anoitece em tudo;
anoitecem suas praças,
quais praças anoitecem
quando a noite reaparece
nas praças em Santana;
anoitece em suas aves
dormindo nas árvores,
nas praças em Santana;
anoitece na vegetação
e nas casas anoitece,
como anoitece nas ruas,
anoitece na Rua do Sebo,
anoitece na Av. Na. Sra. de Fátima.
Cidade, em cada município brasileiro, caleidoscópio de lembranças. Santana do Ipanema, lugar literário por meio de tipos intertextuais, na área de Linguagens, a saber, no componente curricular Língua Portuguesa, ou melhor, conforme o aluno apreende nas escolas santanenses, no Currículo Base da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, por exemplo, segundo orientações legais da Base Nacional Comum Curricular. Santana do Ipanema faz o caminho da escola com a colaboração na preservação da memória. Não há gênero textual sem a colaboração de outros gêneros textuais, como não deve haver rua sem praça.
Ao final deste percurso demonstrado é possível concluir que pensar em Santana do Ipanema, no sertão alagoano, equivale a refletir. Cidade literária vocacionada à poesia e à crônica.
M. Ricardo-Almeida
Comentários