É como um réquiem profundo
de tristíssimos bemóis...
DOS ANJOS, Augusto: Barcarola
Deu-se que chegou o dia em que Neilda recolheu seu sorriso, arrumou as trouxas impregnadas de versos brancos e rimados, botou no saco a viola que afinava na garganta de cantadora de risos e de prantos líricos, pegou o rumo e foi esconder-se em alguma estrela. Na certa que não foi porque quis, mas porque não teve como não ir. Mas é mais do que sem dúvida de que se apressou e foi cedo demais.
Enquanto isso, cá ficamos nós, não sei se chorando por ela ou pelo mais certo por nós mesmos. Afinal de contas, somos nós que teremos de amargar essa sua ausência que nos deixa ocos por dentro.
Além do mais, agora montada na fulguração do astro em que foi morar, já não a maltratam os alvoroços desse mundo sem porteiras. Na verdade, libertou-se. Mesmo que talvez ainda nem se dê conta disso. Mas o fato é que, afinal exilada dos olhares nem sempre hipócritas mas nem sempre leais, nem sempre infestados de ódio mas nem sempre fervilhantes de amor, pode declamar os poemas que quiser, de quem quer que sejam, na hora em que bem entender, com a entoação e o com o gestual que achar melhor. Acabaram-se os freios, Neilda. Ruíram as barreiras.
Já nós, cá ficamos enturidos, com o peito rebentado de tristura, essa tistura perfurante que rasga por dentro quem não aceita a perda, embora seja mais do que real que já está posta e mais não há o que fazer. Uma dor a mais, aliás, que vem se somar às mágoas que são ditas pelas cicatrizes que podem não nos haver tatuado o corpo mas que, na corrente dos anos, foram nos grifando a alma como que com ferro embrasado.
Mas não tem nada, não! Fique você logo sabendo, Neilda, que você não se livrou da gente de uma vez por todas. Mais cedo ou mais tarde, por mais que você se esconda por trás dessa estrela que agora a hospeda, a sua gargalhada vai findar por trai-la e delatar-lhe o paradeiro. Vai ser a hora, então, em que muitos de nós, aqueles, a gosto ou a pulso, já também desterrados e já abrigados, semelhante a você, em algum planeta ou talvez algum asteroide, vão novamente encontrá-la.
E aí, não se engane... Você e eles, ou todos nós, volveremos a gargalhar juntos. Mas só depois, agora sob as vistas de Jorge de Lima, de você declamar Essa negra Fulô .
Ponta Verde, junho de 2020
Dados Biográficos do Autor:
MÉRO, Carlos Barros
(Penedo - AL 05/04/1949). Secretário de estado, magistrado, promotor de justiça, procurador de estado, professor, advogado. Filho de Ernani Otacilio Méro e Nair Barros Méro. Elementar no Colégio Imaculada Conceição, curso primário no Grupo Escolar Gabino Besouro e secundário no Colégio Diocesano de Penedo, onde iniciou o curso colegial, que concluiu no Colégio Estadual de Alagoas, em Maceió. Graduado em Direito pala Faculdade de Direito da UFAL. Pós-graduação em Direito Público, pela Faculdade de Direito de Maceió (CESMAC). Toma posse, em 15/03/1991, no cargo de Chefe do Gabinete Civil, no governo Geraldo Bulhões, no qual também ocupou interinamente a Secretaria da Indústria e Comércio. Promotor de Justiça nas Comarcas de Porto Real do Colégio e em Capela. Consultor Jurídico do Estado (1977 a 1988). Foi, também, Assessor Jurídico da Fundação Instituto de Administração Municipal - FIAM, da FUNTED e da FUNCHALITA. Procurador-Geral do município de Maceió, como também do Estado de Alagoas (1988-91), e Procurador-Geral do Poder Judiciário (1995 a fevereiro de 1999). Presidente fundador da Gás de Alagoas S.A - ALGÁS. Professor da Faculdade de Direito do CESMAC, nas disciplinas: Introdução ao Estudo do Direito, Direito Administrativo e Teoria Geral dos Negócios Jurídicos. Professor de Sociologia Rural e Urbana e Direito Sanitário, na UFAL, e de Direito Administrativo e Direito Constitucional, na Escola Superior de Magistratura do Estado de Alagoas, da qual foi coordenador de cursos, de 1991 a 1999. Membro da AAL, onde ocupa a cadeira 2. Membro do IHGAL, ocupando a cadeira 8, da qual é patrono Mário de Carvalho Lima. Sócio da União dos Escritores do Brasil - UBE e membro correspondente da Academia Penedense de Letras. Participou da criação da Fundação Pierre Chalita - FUNCHALITA, da Fundação Teatro Deodoro - FUNTED e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas – FAPEAL, tendo sido da FUNCHALITA, Diretor Artístico Cultural e, atualmente, Presidente de sua Diretoria Executiva. Presidente da AAL a partir de 17/09/1999.(Fonte: http://abcdasalagoas.com.br/verbetes.php - acesso em 05/06/2020 às 01h02min)
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