Muito se tem dito acerca do fundador de Santana do Ipanema. Várias hipóteses já foram delineadas mas até o momento, dentro de tudo que já consegui observar, o assunto ainda continua, para alguns, sem uma definição real, peremptória.
Nas diversas fontes às quais tive acesso, as explanações encontradas foram, de maneira geral, eivadas de subjetividade, carentes de uma elucidação conclusiva. Sobre o fato transcrevo, abaixo, declarações subtraídas da Enciclopédia dos Municípios Brasileiros: “Conta-se que pelos últimos anos do século XVIII chegou à região, oriundo de Sirinhaém-PE, o Padre Francisco José Correia de Albuquerque. Contava com 21 a 22 anos e implantou preceitos de religião cristã, princípios de civilização e construiu uma igreja.” Em outra oportunidade a mesma fonte assinala: “Diz também a tradição que, em 1815, vindo da Bahia chegaram a Penedo os irmãos Martins e Pedro Vieira Rego, descendentes de portugueses. Ao terem conhecimento de que na Ribeira do Panema existiam vastas extensões de terras devolutas, conseguiram uma sesmaria de 12 léguas de terras (nascente/poente) da Serra do Caracol à Ribeira do Riacho Grande e outra parte, também extensa (norte/sul) da Ribeira de Dois Riachos à Ribeira dos Cabaços (também conhecida como Ribeira do Capiá).
Para elaboração do livro, Santana Conta Sua História, os irmãos Floro e Darci Araújo Melo promoveram extensa pesquisa e para se inteirarem sobre os primeiros habitantes de nossa terra, se valeram de fontes advindas de moradores antigos. No entanto, nos relatos captados “podem ser observadas incoerências com relação aos sobrenomes citados”, conforme foi mencionado na própria obra. Os dois escritores admitem “discordâncias, quando uns afirmam que o primeiro homem a pisar nesta terra ser Martins Rodrigues Vieira, outros atribuem ter sido Martinho Rodrigues Gaia”. Ainda há uma corrente que sustenta “a existência de Martinho Rodrigues Gaia e Martins Rodrigues Vieira, que eram irmãos.”
Objetivando obterem detalhamentos mais abalizados sobre nossos precedentes e para ilustrar – dentro da maior realidade possível – seu importante trabalho literário, os autores Flávio e Darci promoveram uma minuciosa e fatigante investigação, onde se valeram de informações transmitidas por conterrâneos considerados da “velha guarda” de nosso município. Recorreram a pessoas do mais alto conceito, tais como Pedro Agra (1890), José Ricardo de Farias (1902/1974), Doroteu Chagas (1898), José de França Belém (1886), Marinho Rodrigues de Oliveira (1888), Francisca Azevedo Pereira (1880/1976), Frederico Rocha (1889), entre outros. Ainda assim, na citada obra dos irmãos Araújo Melo, as inconsistências sobre o nome do fundador de Santana do Ipanema persistiram porque ora é tratado como sendo Martinho Vieira Rego e Martinho Rodrigues Gaia (pag.21), bem como Martins Rodrigues Vieira e Martinho Rodrigues Vieira (pag.126). Tais imprecisões podem ser até compreensíveis em função da exaustiva busca e a diversificação das fontes consultadas a respeito das primitivas famílias santanenses. De um modo geral, as investigações promovidas direcionam que Martinho Vieira Rego e Ana Tereza Rodrigues foram os pioneiros e seus filhos os responsáveis diretos pela origem dos habitantes de nossa terra.
Na minha avaliação, após vários caminhos percorridos, entendo que a única fonte oficial existente, que pode sanar dúvidas a respeito de sobrenomes, pode ser encontrada na Escritura de Compra e Venda da Fazenda Picada, adquirida por Martinho Vieira Rego e sua mulher Ana Tereza Rodrigues dos proprietários João Carlos de Melo e a mulher Maria de Lima, em 19 de março de 1771. O negócio foi concretizado pelo preço de trezentos mil reis, pelas terras, e dois mil reis por cada cabeça de gado. Os pagamentos foram pactuados com cem mil reais de entrada e cinquenta mil reais nos meses subsequentes, até ser completada a liquidação do mútuo. O documento original, da referida escritura, – cujo fac-símile está publicada em meu livro Saudade Meu Remédio é Contar – se encontra no acervo histórico do Sr. Ademar Medeiros, no Poço das Trincheiras-AL. Esta assertiva foi ratificada na crônica intitulada “Há Duzentos Anos Já Eram Vendidas Terras Na Região De Santana do Ipanema”, inserida no Diário de Pernambuco, de 19 de março de 1971, de autoria do santanense Tadeu Rocha, jornalista, escritor e historiador, radicado no Recife.
Por intermédio da pesquisadora Maria das Graças Feitosa Alves – neta de Benedito Malta Feitosa (seu Baby) e de Aída Malta Feitosa – tive acesso ao fac-símile de uma carta-relatório datada de janeiro/1966, com doze laudas, manuscrita por Francisca Azevedo Pereira (D. Sinhara), trineta de Martinho Vieira Rego e Ana Tereza Rodrigues. No referido documento Dona Sinhara faz um relato minucioso de todos os descendentes do casal, a partir de seus sete filhos: Joaquim, Emerêncio, Manoel, Virgínio, Ana, Vitória e Tereza (esta, erroneamente citada nos meus livros “Saudade, Meu Remédio É Contar” e “A Saga Da Família Sorriso” como sendo Ana Tereza). Diante dos esclarecimentos registrados concluí que minha avó materna Doroteia Vieira Rego foi tetraneta do prenunciado casal. Nos registros de que se trata foram indicados os locais onde os familiares procedentes foram fixados, povoando as mais diversas regiões do nosso município e de municípios circunvizinhos. Inclusive, alguns originários arribaram para outros estados, onde sedimentaram estruturas em novas plagas.
Recordo que na minha infância, quando nossa família chegou no Riacho Grande (hoje Senador Rui Palmeira), nas décadas de 40/50, alcancei os irmãos José Vieira Rego e Joaquim Vieira Rego (Quincas Vieira) assentados nas cercanias do referido distrito e os outros, João Vieira Rego e Pedro Vieira Rego, localizados nas terras do Calango Verde. Vale ressaltar que até os dias atuais residem por lá descendentes das referidas famílias.
Ainda sobre o assunto, vale a pena destacar, penso eu, trechos do Escorço Biográfico do Missionário Apostólico do Dr. Francisco Correia de Albuquerque, elaborado pelo Padre Theotônio Ribeiro:
“As origens históricas do atual município de Santana do Ipanema estão intrinsecamente relacionadas ao movimento missionário católico”. Desta maneira, não hesita em proclamar que “o Padre Francisco Correia é, sem dúvida, uma de suas mais expressivas figuras e um de seus fundadores.”
“Se a baliza definidora do nosso processo de urbanização advém da escolha da Ribeira do Panema como lugar em que o missionário vem se fixar, é natural que a ele seja creditada a condição de fundador da cidade que veio a ser denominada Santana do Ipanema.”
“A propósito do fundador da cidade, a história oficial consagrou a seguinte tese: Martinho Vieira Rego fundou o povoado de Santana da Ribeira do Panema, cujos caboclos aqui residentes foram evangelizados pelo Padre Francisco Correia. Como reconhecimento ao pioneirismo, o primeiro virou nome de avenida no bairro do Monumento e o segundo ficou imortalizado como patrono de nosso primeiro Grupo Escolar.”
No meu entender, até prova em contrário – embasada em comprovações documentais – as evidências demonstram que Martinho Vieira Rego e sua esposa Ana Tereza Rodrigues foram os primeiros desbravadores das terras de Santana da Ribeira do Panema, nos idos de 1771 e, por conseguinte, pode ser a ele atribuído o título de fundador de nossa querida Santana do Ipanema, terra de Nossa Excelsa Padroeira Senhora Santana.
Para consolidar tudo que foi dito, não se pode deixar de exaltar as figuras do Padre Francisco Correia e de Martinho Vieira Rego, imortalizadas no belíssimo Hino de Santana do Ipanema, obra imortal do nosso eclético artista-mor, Remi Bastos Silva, razão porque aproveito a oportunidade para enaltecer seus feitos artístico-culturais em prol de nossa comunidade, como também dedicar a ele meu profundo respeito e minha imorredoura admiração.
Recife, setembro/2019
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