DR. SÍLVIO HERMANO BULHÕES – FILHO DE CORISCO

Contos

Luiz Antonio de Farias, capiá

Silvio Bulhões (Foto:Pedro Roccha - Documentário O Mar de Corisco)

Tive a imensa alegria de encontrar em nossa Festa do Reencontro, acontecida em 13 de julho último, com o dileto amigo e conterrâneo Sílvio Bulhões, ocasião em que recordamos um fato ocorrido em época passada, que andava meio apagado da minha memória.

Faz certo tempo que li no Jornal do Comércio, de Recife, um fac-símile da carta enviada por Corisco – cangaceiro do bando de Lampião – ao Padre José Bulhões, de Santana do Ipanema, recomendando a adoção do seu filho primogênito, pelo reverendo. “Ilmo Exmo Sr Revmo vigário da Freguesia de Santana do Ipanema, Bulhões. / Desejo que esta vá lhe encontrar gozando perfeita / saúde e paz de espírito a si com os que lhe forem caros. / Senhor Bulhões, segue em companhia desta carta este / menino para o senhor criar como seu filho e educar da forma como puder. / A madrinha é Nossa Senhora e o padrinho o senhor mesmo. / Peço ao bom vigário que crie esse menino da melhor forma que puder. / O pai do mesmo sou eu, Capitão Cristino Gomes da Silva Cleto, / conhecido como Corisco. / A mãe é Sérgia Maria da Conceição, conhecida por Dadá. / Outro assunto: cuidado com o meu filho, com o mesmo. / Capitão Corisco, chefe do grupo dos grandes cangaceiros.” A inserção do artigo, no referido jornal, foi motivada pelo lançamento do livro GUERREIROS DO SOL, do historiador Frederico Pernambucano de Mello, reconhecido pela Fundação Joaquim Nabuco como “o mestre dos mestres em assuntos de cangaço”.

De imediato, telefonei para meu amigo e conterrâneo Sílvio Bulhões, dando conhecimento da notícia. Daí ele demonstrou interesse em adquirir um exemplar da obra, aventando a possibilidade de ser inserida a dedicatória, pelo autor, exigência que me comprometi atender de chofre. Dito e feito.

A solenidade aconteceu em uma das livrarias mais importantes de Recife e, na época, eu não tinha a menor ideia de dimensionar a magnitude de uma festa da espécie, tanto que compareci usando roupa simples, meu inseparável chapéu de couro e alpercata sertaneja, conhecida entre nós como xô boi. Não imaginava que ia me deparar com uma plêiade de renomados escritores, impecavelmente uniformizados e de escritoras elegantemente trajadas. Desnecessário dizer que fui visivelmente discriminado pelos garçons, que passavam com suas bandejas abarrotadas de bebidas finas e de fartas guloseimas, ignorando minha presença, de forma malévola. O vexame foi atenuado pela presença do artista Santana, o Cantador – como gosta de ser tratado – que compareceu com uma indumentária semelhante à minha.

Concomitantemente, o prestígio do Sílvio aliviou, ainda mais, meu desapontamento inicial, pois não tinha conhecimento da importância dele, perante o escritor. De maneira que quando informei o nome a ser colocado na dedicatória, ele deu uma brusca parada e indagou se a pessoa destinatária se tratava de “Dr. Sílvio Bulhões, filho de Corisco”. Ao responder afirmativamente o escritor demonstrou interesse de conhecê-lo pessoalmente, por acreditar que a possibilidade desse contato consistiria, certamente, em novos subsídios para suas futuras publicações.
Aproveitei o ensejo para repassar o número do telefone do Sílvio, no entanto não tenho conhecimento se, posteriormente, houve a concretização do almejado encontro.

O acontecimento causou em mim, paradoxalmente, um sentimento de perplexidade, a princípio, mas culminou com um final feliz, para o enriquecimento de minha autoestima.

Recife, agosto/2019

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