O BADALAR DO SINO DA MATRIZ E A ENTREGA DA DECLARAÇÃO AO LEÃO

Crônicas

Cláudia R. C. Lima

Formulário da Declaração do Imposto de Renda 2010 - último ano em que foi aceito dessa forma

Para a geração digital essa história é quase uma ficção, mas para quem vivenciou será lembrança:
O trabalho num escritório de contabilidade em época de Imposto Renda Pessoa Física- IR, diga-se o famoso “leão”, era triplicado.

Em Santana do Ipanema, até os idos dos anos 90 a cidade contava apenas com poucos escritórios de contabilidade para atender a demanda de contribuintes além da cidade , também as regiões circunvizinhas do Sertão Alagoano : Zé Firmino, Zé Afonso, Cipriano, Hamilton e Margarida(mais conhecidos).

Eu trabalhava no escritório de Zé Firmino (meu pai). De acordo com a Receita Federal, o preenchimento da declaração do IR pela internet teve início em 1997. Até 2010, contudo, ainda eram aceitas as duas formas de entrega (em papel ou pela internet). Até 2013 era permitida, ainda, a entrega da declaração por disquete de computador (um modelo de transição entre a declaração em papel e a online).

Na época do formulário em papel, o preenchimento era na máquina de escrever, e ai começava o suplício: não tinha espaço suficiente para acomodar o formulário aberto (tipo duas folhas de papel A4, lado a lado), era horrendo, dobra aqui, desamassa dali, sem contar com a cópia, tínhamos que usar carbono (só existia um lado com tinta), por vezes quando terminava de datilografar (isso mesmo), não digitar, descobria que tinha colocado a folha de carbono do lado avesso, era realmente desalentador.

Cada contribuinte recebia via correios seu formulário (manual e fichas para preenchimento). Findo o preenchimento, deveríamos anexar os originais de toda documentação usada para ser entregue no Posto da Receita Federal, e aí começava a correria: “Fulano” cadê comprovante dos rendimentos, “Sicrano”, já sabe quantas cabeças de gado tem?, O Seu “Beltrano já trouxe os valores das contas no Banco? E pasmem, era necessário fazermos todos os cálculos na máquina calculadora ao lado da de escrever, confirmando o rascunho já traçado em cada uma delas.

E assim por diante. Chegava o último dia para entrega, verdadeira feira livre, aparecia todo mundo, Zé minha declaração está pronta. Esqueci de declarar um dependente, e por ai seguia. E não parava de chegar os retardatários, e o dia ia se findando, o horário apertando e pronto chegava o início das badaladas do relógio da Igreja Matriz Senhora Santana: meia-noite (último prazo para entrega), eu ainda estava de braços cheios carregados de Declarações correndo e ouvindo as badaladas acabando, para entregar no Posto da Receita Federal, em frente ao Banco do Brasil (casa de Dr. Clodolfo), ufa, chegava no último minuto, botava tudo no Balcão e ia esperar o carimbo de entrega em cada uma declaração.

Eita “leão” para continuar aperreando ainda hoje o contribuinte, com mais facilidade diga-se de passagem e logo chegará o dia em que o “leão” mandará a declaração já pronta só pra gente confirmar. E viva a modernidade.

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