Já bem antes de ser ordenado Sacerdote, ouvi muito falar na questão do suicídio. Pessoas, bem próximas a mim, já cometeram tal desatino, outras tentaram, mas, pela providencia divina, não conseguiram.
Hoje, já Sacerdote ministerial, já fui convidado para encomendar corpos de pessoas que, infelizmente, chegaram a consumar esse ato de extrema insanidade. Logicamente que vou, pela caridade pastoral, mas me inquieto diante de tais situações. Idosos, jovens, não importa a idade. Diante de cada notícia, de cada corpo inerte, fico a me perguntar: o que pode ter levado aquele ser humano aquela radical decisão?
Por outro lado, observando os rumos que as famílias de hoje tomam, onde o centro humano-existencial-humano deixou de ser elas próprias, mas os “amigos” externos, a tecnologia, mesmo muitos nem sabendo o significado de tal termo, mas utilizando-se dela (WhatsApp, Facebook, Instagram... jogos para PC...) percebo que tudo isso tomou o lugar das relações humanas. Não é difícil de encontrar numa sala membros de uma mesma família próximos espacialmente, mas distantes humanamente.
O diálogo limitou-se na maioria das famílias, se que é possamos chamar de diálogo, a um bom dia, boa tarde, boa noite, faça isso, faça aquilo... E só. Na maioria das vezes os pais não se interessam mais pelos filhos. Acham que dando-lhes alimentação, vestuário, moradia e coloca-los numa escola é educar. Afirmo, categoricamente, em letras maiúsculas: NÃO! Está faltando acompanhamento, como por exemplo, como anda a vida de cada um deles na escola, na comunidade, no próprio lar. Falta carinho para com os filhos. Falta promover atividades onde envolva toda família. Falta dialogar com eles sobre seus questionamentos, respeitando as idades de cada um. Falta observar para perceber as tendências e dons que cada um dos filhos possui e procurar apoiá-los não no que os pais querem que eles sejam, mas naquilo que eles tendem segundo seus dons. Falta observar seus erros e acertos, não para condená-los, mas para possibilitar um maior discernimento no que seja realmente benéfico para suas vidas. Falta levar os filhos a entenderem que devem ser educados para a vida, já que eles, os pais, tendem a se ausentarem mais cedo na linha da vida e quando isso acontecer os filhos tem que estarem muito bem alicerçados para viver por conta própria. Falta orientá-los nos seus questionamentos para que eles não busquem respostas nos desequilíbrios do mundo.... Se formos elencar motivos, gastaríamos páginas e mais páginas de argumentos.
Mas há algo que me chama mais a atenção que, há meu ver pesa muito quando uma pessoa tende ao suicídio: a falta de objetividade da pessoa, desde a mais tenra idade e, que, infelizmente, não é percebida pelos pais ou responsáveis.
Pergunte a qualquer pré-adolescente, adolescente ou jovem o que quer ser na vida. Sendo sacerdote e acompanhando muito essa classe humana, me angustio quando ouço eles dizer que não saber, não pensaram ou que depois vai pensar. E, às vezes, ainda pior, quando afirmam: “- quando concluir o ensino médio, o que for mais fácil eu faço...” Isso significa dizer que dificilmente esses jovens terão um futuro promissor.
Normalmente essa classe de pré-adolescente, adolescente e jovens dizem querem “viver exclusivamente o momento”, o que inclui em muitos casos o alcoolismo, as drogas, o tabaquismo, o sexo promíscuo, o desinteresse pelo estudo... Eles não levam em consideração de que no amanhã vive-se as consequências das atitudes do hoje da existência.
Ao passar do tempo a tendência é as coisas se complicarem para esses pessoas. Falta de orientação, de qualificação para alguma atividade, perda de confiança por parte das pessoas com as quais convive... elas começam a querer manter, o mínimo do padrão que tinham na infância, só que agora seus pais já se foram ou não tem mais como atendê-los, tanto porque esses filhos perderam a intimidade e o respeito pelos pais. Os seus amigos que levaram a sério a vida, avançaram no tempo, enquanto estes pararam, estacionaram, ficaram para trás...
O resultado de tudo isso tem varias variantes: entregarem-se as drogas, o alcoolismo, a violência desenfreada, a falta de capacidade de convívio pacífico, inclusive com o que restou da família...
Nesse momento pode até pensar em Deus. Mas cadê Deus? Já com uma mentalidade totalmente deturpada pela falta de capacidade administrativa da própria vida vai procurar colocar a culpa em Deus ou nos ouros... esquece-se de que foi ela quem abandonou a Deus a muito tempo, pelo abandono perdeu também a confiança nele. Tanto porquê, a confiança nasce da procura, e quem não procura não confia.
Logicamente que outro fator como a predisposição de algumas pessoas para transtornos de ansiedade pode acelerar também esse processo.
É importante que fique bem claro para qualquer pessoa que passe por sua cabeça esse tipo de desatino que, nada, absolutamente nada resolve um problema criando outro, ainda mais fazendo aquilo que não lhe é de direito; tirar a própria vida.
Fora isso, procuremos viver na sensatez. Deus é maravilhoso, Precisamos acreditar em nós e nele. Fazemos o que nós pensamos, Se pensarmos em morte, acabaremos, antecipando nossa hora. Se pensamos em vida, continuaremos até chegar o momento determinado por Deus.
Portanto, cuide-se! Confie em Deus. Não desanime! O desanimo vem da falta de direção que a pessoa dá a própria vida.
Estejamos atentos ao apelo, mesmo que sutil daquele que seria o último grito de socorro de uma pessoa que esteja numa situação de risco... podemos, assim, salvar muitas vidas...
‘ Pense nisso!
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