MEMÓRIAS – TRAZENDO O PASSADO AO PRESENTE

Pe. José Neto de França

Numa segunda-feira, dia de minha folga, ao visitar um parente no Sítio Serrote dos Franças, próximo a Olho d’Água do Amaro, resolvi, com ele e outro acompanhante, ir ao Serrote dos Bois, distante aproximadamente seis Km dali. O objetivo era rever a casa antiga construída na primeira metade da década de vinte, no século passado, onde meu avô paterno viveu e fez sua passagem para a eternidade, isso no início da década de setenta. Iria aproveitar, ainda, para rever o terreno que pertenceu ao meu pai. Palco de muitas de minhas aventuras de criança e adolescência.

Nessa região, além de meu avô (vovô França – in memoriam), alguns tios e tias paternos também lá moraram. Hoje, todos eles, com exceção de um tio que reside em Santana do Ipanema, já estão no coração de Deus.

Ao chegarmos, meu parente, o outro acompanhante e eu, por motivos alheios a nossa vontade, não foi possível o acesso a casa antiga ou ao terreno. Fomos, então, até a casa que pertenceu a Tio Manoel (in memoriam), hoje a seus herdeiros, fiz o retorno e parei por alguns minutos em frente à casa. Era aproximadamente 14h. Havia algumas pessoas deitadas na calçada, sob o alpendre. Devido ao sono profundo, nenhuma acordou. Lancei o olhar, mas não reconheci nenhuma delas. Quando estava acelerando o carro para retornar, a filha de uma de minhas primas veio até a porta e reconhecendo-me, conversamos rapidamente. Finalmente saí.

Passei novamente em frente à casa velha. Da estrada, contemplei-a rapidamente; olhei para o lado oposto, vi a cruzinha que há muitas décadas marca o local onde minha avó paterna teve um mal súbito e faleceu. Isso aconteceu mais precisamente no ano de 1948, portanto dez anos antes de meu nascimento. A conheço apenas através de fotos e de “sonhos...”. Mas isso é outra história.

Há alguns metros dali, no sentido Santana do Ipanema, resolvi parar para fazer uma visita ao meu primo Chico. Ele reside na casa que pertenceu aos seus pais, tio Antônio (in memoriam) e tia Donalva (in memoriam); essa, irmã de meu pai.

Foi um momento de muita descontração. Fizemos uma volta ao passado, relembrando fatos que ficaram em nossa memória de forma muito significativa. Falando sobre nossos avós, tios e tias, lamentamos a perda de todos e agradecemos a Deus por ainda termos conosco tio Luiz, o único “sobrevivente”, do lado paterno. Num certo momento. Chico disse que esse nosso tio foi quem ficou “responsável para fechar a porteira”, referindo-se ao dia em que ele vai partir para Deus, sina de todos os viventes. Aproveitamos para pedir a Deus que esse momento ainda esteja muito distante. Ainda para descontrair, eu disse a Chico que o problema não era quem iria fechar a porteira, mas quem vai, abri-la no futuro. Novamente suplicamos para que Deus nos dê vida longa... Ao perguntar pelo seu irmão Genival, fiquei sabendo que ele estava morando bem próximo a casa dele.

Saindo dali, fui à casa de Genival. Foi outra visita fantástica. Simplesmente fazia 48 anos que não nos via. Tinha perdido o contato com ele desde que fui residir em São Paulo na primeira metade da década de 70.

Vale lembrar que tanto o Chico, quanto Genival, eram os meus dois primos, do Serrote dos Bois, com os quais tinha mais afinidade na minha infância/adolescência. Nas minhas viagens quase todos os fins de semana quando ia para lá, ficava hospedado na sua casa. Durante o dia e parte da noite, visitava todos os outros tios, primos, primas, avô, avó (madrinha Tereza - in memoriam -, era assim que todos chamávamos essa segunda esposa de meu avô), mas o referencial era na sua residência.

Entre uma conversa e outra, Genival recordou os sítios que nossos pais e outros tios possuíam naquela localidade, a quantidade de árvores frutíferas que existia e a perda de praticamente todas elas com as estiagens sucessivas a partir da grande seca de 70...

Resgatamos de nossa memória muitas brincadeiras, resenhas, inclusive uma delas que aconteceu na primeira metade da década de 70. Foi assim...

Estava com minha irmã Auta, Chico, Genival e outros primos e primas brincando próximo a uma mangueira centenária que ficava no terreno ao lado do de meu pai. Esse terreno pertencia ao meu tio Luiz. Resolvemos brincar de “Tarzan”. Para isso, amarramos várias cordas nos galhos dessa mangueira e o desafio era passar de um galho a outro pendurado nessas cordas, assim como nos filmes. Tudo ia muito bem até que resolvi amarrar uma corda num galho mais alto. Subi, amarrei e quando estava me preparando para me jogar de lá de cima, naturalmente segurado na corda, não vi um enorme arapuá (vespeiro de abelhas que não ferroam, mas grudam no cabelo da pessoa) que estava encoberto pelas folhas. Sem perceber coloquei a mão sobre as abelhas que imediatamente atacaram o meu rosto. Quando me dei conta do que estava acontecendo estava na casinha de taipa que ficava no terreno de meu pai, e minha mãe estava tirando as abelhas de meus cabelos. O medo foi tanto que não me lembrava de como desci e como cheguei ali. Meus primos e minha irmã falaram que eu desci muito rápido, escorregando em algumas galhas da mangueira e gritando, depois saí correndo em direção onde estava a minha mãe. Eles falaram que no início pensaram que toda cena fazia parte da brincadeira, só depois é que perceberam a “gravidade”. Jesus!!!

Finalmente, saí, conduzir meu parente ao Serrote dos Franças, depois retornei à Santana do Ipanema. Fiquei felicíssimo em encontrar e trazer ao presente fatos e amizades do passado.

Enigmas da vida!!!

[Pe. José Neto de França]

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