Na atualidade, a maioria das pessoas que dizem me conhecer, me “vê” apenas e tão somente como padre.
Sintetizando o que já fui ou sou, já carrocei na feira, já fui vendedor de porta em porta, já fui coroinha, já vendi picolés, fui engraxate, serviços gerais de um bar, balconista de loja de ferragens, de padaria; já fui bancário. Já fui professor de História, Estatística, Processamento de Dados, Introdução a Filosofia, Metafísica-I (Ontologia), Metafísica-II (Filosofia da Religião), Filosofia da Ciência, Interpretação de Textos, Organização Social e Política Brasileira (que hoje não existe mais no currículo escolar) e monitor de Filosofia da Linguagem. Fui, também, Vice-Reitor do Seminário São Cura d’Ars da Diocese de Palmeira dos Índios. Além disso, sou escritor e gosto de filosofar sobre os enigmas da vida... Atualmente ainda acho tempo para cursar Nutrição.
De vez em quando recordo-me de alguns fatos que aconteceram em momentos vividos nesses múltiplos ofícios.
Um deles que até hoje ainda não desceu ao “porão de minha consciência”, por isso, vira e mexe recordo-me, aconteceu quando era professor de Interpretação de Texto no Seminário São Cura d’Ars da diocese de Palmeira dos Índios.
Passava das 14h, dava aula no auditório do Seminário para uma turma de seminaristas. Para não ficar na monotonia do texto escrito, já que o conteúdo daquela tarde era sobre “figuras de linguagem”, pedi que os alunos ouvissem a música “Imbalança”, de autoria, se não me engano de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, interpretada pela Banda Metrópole (ouçam no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=8aO0kSI4KiA). A ideia era após eles ouvi-la, eu distribuir o texto escrito e abrir um debate entre eles, sob minha orientação, claro.
Enquanto eles ouviam, Dom Fernando Iório (in memóriam) o bispo da época, passou pela sala, olhou para mim, sorriu e dirigiu-se ao refeitório. O acesso a esse cômodo da casa, o refeitório se dava ou por uma área aberta ou pelo auditório; e ele optou pelo auditório.
Imediatamente, levantei-me da poltrona onde estava sentado, pedi que os alunos continuassem a ouvir a música e me dirigi, também, ao refeitório onde ele já se encontrava.
Aconteceu exatamente o que já esperava. Ele, rindo, me perguntou o “que era aquilo”. Disse-lhe que era uma aula sobre Interpretação de Textos. Ele, em tom provocativo, falou: “Por sinal, muito animada!”. Eu, também, rindo, disse-lhe que teria de ser daquela forma; se ele não concordasse poderia arrumar outro professor... Ele, simplesmente, disse-me que continuasse; ele confiava em mim.
Claro que essa forma dele falar comigo e eu falar com ele, meio que provocativa, era comum. Sempre houve um grande respeito entre a gente. Acho que ele até gostava desse meu jeito de lidar com as situações.
Após degustarmos um cafezinho, retornei ao auditório e continuei minha aula. Quando a Dom Fernando (in memoriam), foi tratar de outros assuntos com o reitor.
Enigmas da vida!!!
[Pe. José Neto de França]
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