Imagine um lugar de tranquilidade, paz interior, e que interior! Local onde nós, mesmo não tendo consciência do outro e do que quer que seja; até de nós mesmos, tudo fazemos institivamente – instinto de sobrevivência que todo ser vivente traz dentro de si ao ser gerado. Nós éramos assim enquanto estávamos no útero de nossa mãe.
Num certo dia, algo aconteceu! Aquela que nos gerou não nos rejeitou, mas o ambiente que nos acolheu por mais ou menos nove meses, que a ela pertencia, seu útero, mudou radicalmente. Se ele nos supria de tudo que nós precisávamos para viver/sobreviver – alimento, líquido, oxigênio etc. – agora suspendeu tudo. Foi desesperador. Nós teríamos que, ainda inconsciente, respirar por nós mesmos lutar pela sobrevivência. Logicamente que alguém iria nos ajudar, tanto a sair dali, como a colaborar de outras formas a nos manter na linha do tempo até podermos da conta de nós mesmos.
Esse foi nosso primeiro desafio. Foi doloroso para quem nos gerou e para nós que tivemos que nascer. E nós nascemos, vencemos!
Nosso cordão umbilical material foi cortado. Foi por ele que nossa mãe nos alimentou, nos supriu de tudo que foi necessário para que nós nascêssemos saudáveis.
Mas, se o cordão umbilical que nos ligava materialmente a nossa mãe foi cortado, permaneceu outro, esse o existencial, que paralelamente ao material, também teve início desde o momento que ela nos gerou, com a colaboração de nosso pai!
Muita coisa aconteceu. Nós crescemos, fizemo-nos, refizemo-nos, nos alegramos, choramos, vencemos, perdemos; mesmo nos ausentado em períodos curtos ou longos, jamais quebramos nosso vínculo de amor com ela.
Só que num momento fatídico da vida, como é natural, embora teimemos em negar ou mesmo fugir, assim como tivemos que sair às pressas daquele ambiente de paz que nos abrigou nos primeiros meses de nossa vida temporal, mais uma vez, e agora de uma forma ainda mais dolorosa, mesmo contra nossa vontade, teremos (ou tivemos para aquém já não tem mais mãe temporal) que deixar o “ambiente” (convivência amorosa com aquela que nos gerou) fruto de toda uma vida!
Esse “corte” é o último ato temporal-existencial com aquela a quem você humanamente mais amou (tanto para a mãe quanto para o filho, independentemente de quem parta primeiro)
Adaptar-se a nova realidade, refazer-se se faz necessário! Conformar-se, jamais! Impossível!
Haverá, para quem ama, não como o mundo ama, mas como uma extensão do amor de Deus por nós, um terceiro “cordão umbilical”, o sobrenatural. Qual? Exatamente esse AMOR. Ele será o liame que nos manterá unidos a quem partiu!
Não importa quem fica ou quem vai... Importa que a vida segue...
Enigmas da vida!!!
[Pe. José Neto de França]
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