Por algum tempo deixei de dar sequência a esses retalhos da história de vida de ilustres escritores santanenses, todos eles já falecidos. O período da pandemia deu certa brecada em meus propósitos, em minhas intenções. Sabia, então, que o legado literário desses santanenses certamente serviria de filão para os que hoje se debruçam em pesquisa, garimpando fatos históricos da cidade e do passado de sua gente.
Hoje trago, como prometido, o nome do Dr. Aguinaldo Nepomuceno Marques, médico, escritor e historiador, para o prosseguimento dessa envolvente e proveitosa empreitada.
Na verdade, Dr. Aguinaldo nasceu em 1920 no povoado Capim, então pertencente ao município de Santana do Ipanema, hoje cidade de Olivença. Com alguns meses de idade, seus pais mudaram-se para Santana do Ipanema, porque “o povoado fora ameaçado de invasão por um grupo de bandidos precursores de Lampião, os Porcinos”, segundo seu próprio relato inserido no livro Sertão Glocal (Maceió, 2010, página 226), de autoria do Doutor José Marques de Melo (1943-2018).
Aos vinte anos de idade, o apresentado de hoje passou a residir no Rio de Janeiro, para trabalhar e estudar, graduando-se em medicina. Filiou-se, já formado, ao Partido Socialista, pertencendo à ala mais à esquerda, à ala marxista.
Como médico, resolveu voltar a morar em Santana do Ipanema, para prestar serviços profissionais a seus conterrâneos, quando o conheci. Demorou-se pouco tempo na cidade natal, alegando: “... trabalhava umas doze horas por dia, inclusive de noite. Aí eu não aguentei, retornando ao Rio.”
Quando publiquei a primeira edição do livro Festas de Santana, em 1977, dele recebi longa carta, prestando alguns esclarecimentos sobre fatos históricos por mim comentados. Disse-me na missiva, de forma nostálgica: “A satisfação de lê-lo foi ainda maior por me pôr em contato com o mundo da minha infância e da minha juventude. Por todas as razões, jamais será possível esquecer a nossa cidade, porque raízes fundamentais a ela me ligam. Aí eu me criei, gozei, vivi e cresci.”
Como escritor, destacou-se como autor de temas políticos.
Publicou:
1 – Fundamentos do Nacionalismo (1960)
2 – De que morre o nosso povo (1963)
3 – A Infância no Brasil em Transformação (1973)
4 – Pediatria Social (1986) e
5 – Trajetória do Socialismo (1995).
Visitando Santana do Ipanema em 2007, Dr. Aguinaldo deu-me o prazer de comparecer à noite de festa literária de lançamento do meu livro Chuva no Telhado, realizada no salão principal do Tênis Clube Santanense. Na mesma solenidade, o escritor e poeta Emanuel Fay, de saudosa memória, que também prestigiava o evento, fez a plateia aplaudi-lo de pé após declamar “Dois de Fevereiro”, expressão maior de sua arte poética.
Finalmente, por muito tempo morador em Niterói (RJ), Dr. Aguinaldo faleceu em 2014, aos 94 anos de idade.
Maceió, agosto de 2022.
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