No meu quarto, diante de meu notebook, enquanto navegava na rede mundial de computadores, quase que procurando motivar-me diante do silêncio que fazia no avançar da noite – era aproximadamente 23h40 -, enquanto o sono não chegava, recordei-me de que, como quotidianamente faço, ainda não tinha ido à cozinha buscar água para qualquer emergência durante o resto da noite, ou mesmo para tomar com minha medicação ao amanhecer.
Levantei-me, peguei um pequeno cantil que estava sob a pia do meu banheiro privativo e me dirigi a cozinha. Estava só na casa.
Fui até a geladeira, peguei uma garrafa de água gelada, enchi o cantil até a metade e completei, depois, com água natural.
O silêncio parecia sepulcral!
Aproveitei e coloquei água em um copo, encostei-me na pia da cozinha e, com o olhar como que no vazio, apesar de estar enxergando muito bem o ambiente, lentamente comecei a degustá-la.
Minha mente retornou a décadas passadas, quando ainda criança vivia em uma casa sempre acompanhado de meus irmãos, irmãs e meus pais. À medida que o tempo foi passando irmãos e irmãs cresceram, cada um tomou seu rumo, inclusive eu; meu pai foi chamado ao coração de Deus...
Hoje, cada um tem seu canto, sua família... Minha mãe ainda permanece no tempo presente, mas na sua casinha, como ela mesma diz.
Humanamente só, mas acompanhado de mim mesmo, a pensar e a divagar, “trouxe” ao meu consciente, como um filme amarelado pelo tempo, minhas amizades, meus feitos e desfeitos ao longo de meu existir... Algumas lágrimas rolaram sobre minha face.
Num determinado momento, recordei de uma música de Oswaldo Montenegro:
“Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?”
Estava divagando e “ouvindo” a música quando algo se moveu na sala ao lado. Movimento sutil, mas suficiente para fazer-me voltar ao mundo real. Não sei se foi algo real ou paranormal, já que carrego desde a mais tenra idade esse “espinho na carne”. Achei melhor nem averiguar. Passava de meia noite e meia.
Peguei meu cantil com água, enquanto ia apagando as luzes dos ambientes – cozinha, sala de jantar e corredor – retornei ao meu quarto.
Já no meu refúgio, desliguei o notebook e fui tomar banho. Depois, agradeci a Deus pelo dia que passou e pela noite que estava vivendo, rezei a oração do terço e deitei-me. Não demorou muito e, literalmente, apaguei.
Um novo dia estava por vir e eu teria que dar sequência a minha vida...
Enigmas da vida...
EGO, ME IPSO!!!
[Pe. José Neto de França]
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