Que eu me recorde, desde quando vim ao mundo temporal, levando em consideração a casa em que nasci, literalmente “cheia de buracos onde a lua faz clarão”, como disse minha mãe, já residi em 16 casas – Carneiros (02), Santana (07), São Paulo (02), Maceió (01), Cacimbinhas (02) e Major Izidoro (02). Em todas elas aconteceram fatos marcantes em minha vida.
Em relação ao “espinho na carne” (minha paranormalidade) que carrego desde a infância, cuja primeira experiência que me lembro com detalhes, como se tivesse acabado de acontecer, tal foi o impacto que causou em mim, isso quando eu tinha entre quatro e seis anos, citada no apêndice de minha 8ª obra, “EGO, ME IPSO – Autobiografia”, aflorou na primeira casa que residi em Santana do Ipanema, no bairro da Floresta – hoje não existe mais, a não ser em registro de uma foto antiga da cidade.
Com exceção das duas casas de Carneiros, em todas as outras passei por experiências que marcaram profundamente meu existir, mas uma delas, a que se situa à rua Delmiro Gouveia, nº 384, em Santana do Ipanema/AL, sobressaiu entre as outras. Foi nela que vivi, não uma, mas duas pré-adolescências. A natural relacionada a minha idade físico/biológica/psicológica e a sobrenatural – paranormal.
Ao mudar para essa casa, para minha família foi uma espécie de “mudança de padrão social”, pois naquele tempo o bairro da Floresta era mais “floresta” do que bairro. Era, inclusive, separada do restante da cidade pelo rio Ipanema, que quando estava no período de cheia, a única via de acesso a “civilização” era de canoa, um dos meus dilemas enquanto lá estive.
Já para mim, se por um lado foi um grande alívio, pois não teria mais de andar naquela canoa velha, repleta de vazamentos e guiada por um canoeiro que na maioria das vezes não estava sóbrio, em função de seu vício no álcool; por outro ainda não me dava conta de que “encangado” com meu normal, existia o “paranormal” e eu estava justamente nessa passagem da fase de criança para a adolescência, onde a explosão hormonal começa e faz-se necessário muito equilíbrio para um desenvolvimento saudável em todas as dimensões do ser.
A casa de nº 384 ficava na chamada parte alta da rua Delmiro Gouveia, lado esquerdo de quem vai ao centro da cidade. Não me recordo quem eram os vizinhos da direita ou esquerda. À frente, do outro lado da rua havia a casa de seu Pedro Pacífico e dona Angelina, grandes amigos, pais de um de meus futuros patrões, Antônio Pacífico. Vizinho a ele, do lado esquerdo residia dona Benedita e seu Tancredo... Outros vizinhos, cujos filhos e filhas, com o tempo se tornaram meus amigos e amigas.
Ela, a casa, era muito simples. Por ficar do lado da rua cujas casas foram construídas acima do seu nível, havia uns degraus que dava acesso a uma plataforma cercada por balaústres; daqui o acesso à porta de entrada. Na parede lateral esquerda de quem vai entrar na casa, no início dos degraus, meu pai colocou uma argola de ferro para amarrar um cavalo de nossa propriedade. Era nesse cavalo que ele fazia muitas de suas viagens para uma propriedade que ele possuía no Serrote dos Bois, onde residia seu pai – meu avô – e alguns tios e tias...
Na parede frontal havia uma porta e uma janela. Entrando na casa tinha uma pequena sala e, do lado esquerdo, um corredor que dava acesso a dois dormitórios – o primeiro dos meus pais, o único que tinha portas; o segundo de minhas irmãs e meus irmãos menores e, na sequência, dois pequenos cômodos – sala de jantar e cozinha. O sanitário/banheiro ficava no quintal. As paredes divisórias dos cômodos da casa não chegavam até o teto.
Pois bem! Foi nessa casa que minha paranormalidade aflorou de forma muito assustadora. E as razões foram várias. Fazendo com que eu carregasse alguns traumas para a vida adulta.
Tinha uma irmã que tinha ataques epiléticos e quando eu presenciava as cenas das convulsões, ficava totalmente em pânico. Eu dormia em uma rede que era armada na sala de visitas. O fato de ficar ali só, por vezes sem sono, também me gerava terror. Isso porque quase todas as noites ao deitar-me, depois que todos se recolhiam, ouvia passos vindo do lado da cozinha, passando pelo corredor e, chegando até rede, como que alguém encostando em mim. Sentia o “contato”. O pânico era certo. Não podia nem chamar por alguém nem me mover e, em alguns momentos isso permanecia até que eu adormecesse.
Desenvolvi, nesse período, um medo de ficar só em algum lugar, independentemente se fosse dia ou noite. Por exemplo: se estivesse na sala e necessitasse de ir sozinho à cozinha, mesmo de dia, ficava apavorado.
Qualquer hora, dia ou noite, sempre parecia ver alguém a me observar nos limites da visão – direita e esquerda. Além do mais, mesmo que humanamente só, parecia estar sempre acompanhado de “alguém”.
Comecei a gostar mais do dia do que da noite. Dava graças a Deus ao amanhecer e começava a ficar em pânico ao anoitecer, aumentando o terror à medida que a noite ia avançando, mais precisamente ao se aproximar da hora de ir dormir.
Interessante que minhas mãos estavam sempre frias, independentemente do clima.
Tive ali inúmeras experiências fortes relacionadas à paranormalidade, algumas delas lembradas na minha 8ª obra, “EGO, ME IPSO – Autobiografia”.
Ansioso busquei por respostas para tudo isso. Porém, por causa da quase inocência que tinha em função da minha idade, não tive como obter respostas. Não conversava com ninguém sobre isso a não ser com minha mãe. Mesmo assim, ela não tinha as respostas que eu precisava. Muito raro perguntava algo ao meu pai.
Ao me mudar para outra casa, na mesma rua, pensando estar livre dessa problemática, enganei-me. Tanto porque os problemas/desafios não estão necessariamente na casa, mas na pessoa em si. Para onde ela for, os leva.
Em outras casas, vivi até o presente momento, mas nenhuma marcou tanto como a de nº 384 da Rua Delmiro Gouveia. Foi lá onde eu tive que enfrentar meus medos, quase sem defesa, a não ser as defesas naturais de um frágil pré-adolescente. Angustiante angústia.
Logicamente que com o tempo, amadurecendo, procurando e achando possíveis respostas, como por exemplo descobrir que meu maior desafio era lidar com meus próprios medos e enfrentá-los, aprendi a conviver “naturalmente” com tudo isso.
Ainda sobre a casa de nº 384 da rua Delmiro Gouveia, toda vez que passo à frente dela e vejo aquela argola chumbada na parede lateral direita dos degraus que dá acesso a ela, recordo do dia que meu pai (in memoriam) a estava colocando. Recordo-me, também, do cavalo, cuja corda que prendia o cabresto estava amarrada a ela. Recordo-me, ainda, de muitas coisas boas que aconteceram na casa, mas nada mais forte me lembra, senão os desafios sobrenaturais que tive quem enfrentar enquanto lá vivi.
Enigmas da vida!
[Pe. José Neto de França]
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