O duplo atentado ocorrido em 22 de julho, na Noruega, que vitimou 77 pessoas, merece da sociedade toda a atenção. Segundo o noticiário, a xenofobia está na motivação dos ataques. É realmente lamentável! Já era para termos aprendido a lição. Excluir criaturas humanas não combina com humanidade.
Em minha página “A miscigenação do mundo é inevitável”, publicada em “Crônicas e Entrevistas” (Editora Elevação, 2000), defendo a tese de que o nosso destino é mesmo a mestiçagem, o multiculturalismo, tornando-se portanto sem propósito qualquer tipo de discriminação. Naquela oportunidade, fim do século 20, assim escrevi:
(...) Vai ficar difícil abrir mão da Humanidade, como parece que alguns radicalmente pretendiam fazer com a nova globalização: mais produtos e menos trabalhadores produzindo e transitando pelo planeta. Marcante exemplo é o da União Europeia, com seus arroubos de xenofobia, menos para turistas… Ela está constatando a contingência de ter de “importar” gente, ainda que, em alguns casos, por curtos períodos, para realizar serviços de que os seus nativos dolicocéfalos não mais querem saber e para suprir as necessidades de uma população que está envelhecendo. Alguns vivem arrepiados com os “perigos” da fusão étnica; contudo, empresários e políticos sentem como fatalidade histórica a presença dos “estrangeiros” mesmo que sejam de gerações nascidas por lá, principalmente os de cor de pele distinta. Não há como indefinidamente impedir que revoluções sociais e humanas dessa envergadura, em diversas grandezas, se cumpram. Na atualidade, de certa forma vemos repetir-se, em direção inversa, mas talvez de maneira mais dolorosa, o fenômeno da imigração. Antes a onda era emigrar da Europa e da Ásia para a América. Resumindo: italianos, japoneses, alemães, poloneses, russos, judeus, árabes, ibéricos, para a do Norte e a do Sul, somando-se irlandeses e chineses para a Setentrional. E não chegaram por aqui e lá, na imensa maioria, como senhores, porém, como servidores braçais, à exceção de gente como Einstein e Fermi. Pelo sacrifício e suado labor, subiram ao topo e se estabeleceram. Recordo-me de uma afirmação do filósofo do Positivismo Augusto Comte (1798-1857), cujo pensamento tanta influência exerceu sobre os fundadores da República brasileira, a começar por Benjamin Constant (1836-1891): “O homem se agita, e a Humanidade o conduz”. Alziro Zarur (1914-1979) perguntava então: “E quem conduz a Humanidade?”. E ele próprio exclamava: “Deus!”.
E assim eu terminava aquele artigo de 2000.
Hoje, em 2011, o Brasil volta a atrair o interesse de imigrantes, pois estamos precisando de valores especializados para as novas exigências do desenvolvimento do país, enquanto preparamos, com atraso, nossa própria gente.
CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS
Muito providencial, pois, o programa “Ciência sem Fronteiras”, lançado pela presidenta Dilma Rousseff, no dia 26 de julho. Uma ação que pretende conceder cem mil bolsas de intercâmbio para estudantes e pesquisadores brasileiros em modalidades do nível médio ao pós-doutorado.
De acordo com o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, terão prioridade as áreas de engenharia, ciências exatas, biológicas e da saúde, além da computação e da tecnologia da informação.
A presidenta Dilma comentou que, ao se reconhecer que há falhas e fraquezas na formação de ciências exatas, engenharias e saúde, “damos um passo para o fortalecimento. Essa iniciativa é fundamental para o futuro”.
Nossa nação possui robustez para imenso progresso. E de fato não se pode deixar de dar aos cidadãos, independentemente de sua classe social, o devido acesso à boa educação e ao ensino de qualidade. Sem esquecermos também da imprescindível Espiritualidade Ecumênica, com os mais nobres princípios morais e éticos, base do Ser Humano de bom caráter.
Ao “Ciência sem Fronteiras”, o nosso voto de sucesso.
José de Paiva Netto é jornalista, radialista e escritor.
paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com
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