Perguntei para uma criança de cinco de idade o que é viver. Escolhi perguntar a uma criança porque os adultos não conseguiram resposta para essa pergunta.
A criança ficou espantada porque um adulto poderia não saber a resposta de uma pergunta tão simples como aquela. Olhou-me e disse com a mais simplicidade de quem sabia do que se tratava.
"Viver é comer, dormir, tomar banho e brincar, você não sabia?"
Certo de que a criança fala do espaço em que ela ocupa e a partir das experiências que vive, traz sua noção do que é viver e nos questiona com sua singeleza se viver poderia ser mais que isso.
Realmente viver é simplesmente isso, fazer ações que nos mantem vivos. A complexidade da natureza adulta com base em suas experiências vividas nos afasta cada vez mais do verdadeiro conceito das coisas. Esquecemos do gênesis, do princípio das coisas, para nos perdermos em conceitos vazios e com aparências difíceis muitas vezes para manter o status, mas que na verdade não dizem como as coisas são.
Viver não é fazer o que fazemos pensando que estamos vivendo. Viver é buscar nas coisas simples que nos mantem vivos a essência para a existência biológica, espiritual, emocional.
Não existe regra nem padrão para viver. Não dá pra viver envelopados em moldes estabelecidos. Não é possível criar uma vida fora da vida.
Viver é deixar de complicar o que é simples. É enxergar o que ninguém mais quer ver. É ouvir aquilo que as pessoas já deixaram de ouvir porque não tem mais tempo. É sentir a beleza e o gosto das coisas que pelo modernismo não se escondem em caixinhas ou pacotes industrializados.
Viver é cuidar do que é real, não do que é virtual. Viver é nunca esquecer que somos iguais e não somos melhores que os outros. Viver é resolver problemas porque eles fazem, naturalmente, parte da nossa vida. Não existe viver sem frustração. A frustração é a maior presença da limitação imposta de forma natural pelas circunstâncias.
Não saber lidar com as frustrações é não ter consciência de que o mundo não pode girar apenas em torno de você e que ele não foi feito para sua exclusividade.
Quando a gente descobrir com aquela criança o que realmente é viver, também saberemos o que é felicidade.
Luciene Amaral
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