RIO BALDO Lúcia Nobre
Você conhece o Rio Baldo?
Será o rio Urucuia?
Será o rio dos peixinhos
Piratingas
Pacus
Dourados
Que dão pulos de prata
De ouro
E de cobre?
Rio de muitos sonhos
Do barquinho
Que carregou os meninos
Riobaldo e Reinaldo
Enlevados em sonhos
De um amor impossível
O barquinho que transportou
Aos coraçõezinhos
Certa magia
O menino e a menina
Entregaram-se ao amor
Aquele amor para sempre
Mesmo na eternidade
O rio que levou o barquinho
Que transmudou
Para a eternidade
Confirmou tudo
O amor de Riobaldo e Diadorim
Riobaldo, protagonista de Grande Sertão:Veredas do escritor mineiro João Guimarães Rosa, viveu um grande conflito de amor. Amava o jovem jagunço Reinaldo. O seu amor era tão grande, ao mesmo tempo, tão cheio de dúvidas, que, em sua travessia de jagunço, não pensava em mais nada. Chegou ao ponto de adoecer de tanto amor que sentia pelo belo jovem. Para ele, não havia explicações plausíveis para aquele amor. Mesmo assim, tinha certeza daquele grande amor. Tudo começou, quando, muito jovens se conheceram perto de um rio. Parece, que no barco que os transportou havia uma certa magia, que, a partir dali, tudo começou. Riobaldo só descobriu que amava uma menina e não um menino, quando Diadorim morreu, baleada por outros jagunços. Diadorim vestia-se de homem para vingar a morte do pai. Juntou-se ao grupo de Riobaldo e também sentia por ele afinidades. Mesmo com a morte de Diadorim, o seu amado continuou amando-a e como ele falava, amando-a até a eternidade. "Diadorim e eu, eu e Diadorim, até a eternidade".
Na estrada do grande sertão a figura do jagunço já faz parte da paisagem da ficção roseana. Riobaldo distingue-se dos outros jagunços por viver conflitos pessoais em sua trajetória. Ama ao mesmo tempo Diadorim, uma figura andrógina que é ao mesmo tempo homem-mulher e que tem o poder de envolvê-lo emocionalmente; Otacília, dona de uma beleza pura que o enleva, e Nhorinhá, prostituta sensual. Esses três amores acompanham Riobaldo, um completando o outro. Com Otacília, deseja casar; com Nhorinhá, deseja dormir; com Diadorim, deseja sempre ficar junto e viver a vida inteira ao seu lado. E como o próprio Riobaldo afirma: "Ah! a flor do amor tem muitos nomes [...] confusa é a vida da gente; como esse rio meu Urucuia vai se levar ao mar".
Riobaldo tanto deseja o amor de Diadorim como tenta repelir porque esse se apresenta como homem, vestido como homem e se chama Reinaldo; só que um dia esse confessa ao jagunço e pede segredo sobre seu verdadeiro nome: Diadorim. No entanto, certeza de sua feminilidade, Riobaldo só teve com sua morte, e, sofrendo, constata que não podia mais chamar Diadorim: "E eu não sabia por que nome chamar; eu exclamei me doendo: - "Meu amor!...".
Grande Sertão:Veredas envolve diversos aspectos que compõem toda uma ideia erótica da vida. As três formas de amar do jagunço Riobaldo possuem um mesmo impulso erótico que é primitivo e caótico em Diadorim, sensual em Nhorinhá e espiritual em Otacília. Para Dante "O homem reúne todos os amores" assim, são os tipos criados por Guimarães Rosa, reúnem entre si os elementos que fazem o amor se completar. O que falta a uma personagem a outra possui. Riobaldo alimenta esses três amores. O de Diadorim, embora relute contra, por achar ser um homem; o de Nhorinhá prostituta e Otacília mocinha casadoura.
Diadorim forma junto com Otacília e Nhorinhá a tríade feminina do romance, mas além de instituir-se como uma síntese das duas outras reúne em sua própria condição, os princípios femininos e masculinos da tradição literária. Ela é como seu próprio nome sugere: Deus e diabo, homem e mulher, e constitui pela sua contradição a imagem do questionamento presente em toda obra roseana.
Assim, a poesia acima, quer manifestar o amor sem reservas de Riobaldo por Reinaldo ou Diadorim. Enfim, o amor que leva ao infinito.
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