Aproximam-se os dias maiores da cristandade. A páscoa que é antecedida pela semana santa. No passado tantas tradições que a modernidade sepultou. Lembro de alguns preceitos vividos pelos fervorosos cristãos católicos, nos chamados “dias grandes”, os dias da Semana Santa.
A feira do sábado, o abastecimento dos suprimentos, se fazia ainda na quarta-feira. Pra se respeitar aqueles dias santos, como prescrevia a igreja: Os mais velhos jejuavam desde a quarta-feira até a sexta-feira da paixão. A noite participação garantida na Procissão do Encontro, entre as imagens de Maria Santíssima e Nosso senhor na via dolorosa (ainda hoje acontece essa tradição). Na quinta-feira santa a missa do “Lava-pés”. O padre repete o que Jesus Cristo fez na última ceia. Na sexta-feira o ponto culminante da penitência nesse dia era terminantemente inconcebível que se fizesse qualquer atividade lucrativa. O leite ordenhado era doado. Alguns pecuaristas, até hoje, mantém essa tradição. As casas comerciais cerravam suas portas só retornando a normalidade no sábado. Proibidos de comercializarem. Se preciso fosse, preferiam dar certas mercadorias à vender, a exemplo do sal de cozinha!
Ainda na sexta-feira os afazeres domésticos estavam suspensos, assim como certos hábitos normais de higiene: Varrer a casa, tomar banho, cortar as unhas, sob o perigo de ter que amargar no fogo do inferno pelo desrespeito a Deus. Tudo em nome de uma tradição, de um culturismo arraigado, que foi paulatinamente vencido pelo tempo. O jejum era seguido religiosamente, só eram poupados os inocentes (crianças de colo). O jejum era permitido ser quebrado, por alguns que por acaso não gozasse de saúde perfeita. Constava basicamente de se ingerir apenas uma xícara de café com um pedaço de pão pela manhã, ao meio-dia, pontualmente fazia-se uma oração e almoçava-se, em silêncio. Nenhum aparelho eletrônico ligado, a não ser na zona rural era permitido ligar o rádio pra se ouvir, transmitida pelo rádio “A Paixão de Cristo”. A comida era toda à base de pratos ao coco e peixes.
E vinha o sábado de Aleluia, nele havia a malhação a Judas, altas horas da noite, tinha uma tradição de “serrar” os velhos, os gaiatos iam pras portas de pessoas idosas lamentar e agourar seu fim. Tinha também uma tradição muito vagabunda que dizia ser permitido roubar, isso mesmo, roubar galinhas! De quem as tivesse disponível no galinheiro. Por incrível que possa parecer, naquele tempo não se dava muita importância ao dia principal: O domingo da páscoa! O dia da ressurreição. Tão preocupados se ficavam com a penitência que esqueciam o principal a festa da vida nova! A páscoa!
Minha mãe relembrando do tempo de sua infância. Recordou de uma tradição da Semana Santa que pra mim foi novidade, não chegaria ao meu tempo: Os afilhados deveriam levar uma prenda para seus padrinhos, no sábado de Aleluia. Geralmente uma criação, galinha, peru, guiné, um porco, etc. Provavelmente pra esses, comerem na páscoa. Conta ela que numa determinada semana Santana, ela ainda menina, foi levar um peru pra seu padrinho Pizeca, que era dono de uma pensão lá em Olho D’água das Flores. Ao chegar à porta deparou com Seu Moreninho que nessa época morava ali, e era hospede da pensão. Ao ver a menina com a ave, apossou-se do galináceo e fez o maior estardalhaço. Sacolejando e gritando:
-Chega Pizeca! Hoje vamos comer peru!
A criança (minha mãe) cheia de espanto, saiu na maior carreira, sem entender porque aquele homem fizera aquilo. Chegou em casa aos prantos porque a tradição dizia também, o padrinho sempre devia dar algum agrado (moedas) ao afilhado, ou afilhada!
Fabio Campos 08/04/2011
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