Já se vão mais de 50 anos, desde que me entendo de carnaval. A pandemia fez o mundo retroceder neste item. A festa cultural, assim como o vírus, que a tantos contagia. Segundo os sites especializados o carnaval teria surgido com o Cristianismo, na Europa Ocidental. Seria, a meu ver, uma espécie de refrigério do corpo do cristão, daí significar um “Adeus a carne”. Ele, cristão irá vivenciar a expurgação dos pecados com a quaresma, os quarenta dias que antecede a páscoa. Quaresma tempo de penitência, jejum e oração para elevação da alma. O carnaval se espalhou, e hoje e considerada uma das festas mais populares do mundo.
Cheio de saudade peguei-me recordando dos carnavais de minha infância, na cidade de Santana do Ipanema. Os blocos começavam a desfilar pelas ruas, desde as primeiras horas do sábado, chamado de ‘Sábado de Zé Pereira”. Havia até uma marchinha aludida ao dito cujo: “Viva Zé Pereira, Viva Juvenal/ Viva Zé Pereira que inventou o carnaval”
As pessoas divertiam-se, cada qual a seu modo, assistindo das janelas, ou da porta de casa. Era tudo tão bucólico. O “Papa-angu,” o “Careta macabufa” corria atrás da criançada vestido de saco de farinha, na cabeça uma máscara feita de goma de farinha que cobria todo o rosto o cabelo era escondido em panos para que não fosse reconhecido. Portando um relho dava estalos , e produzia com a boca um ruído estranho, como o chiado do bacurau, uma ave de hábitos noturnos. Os abusos eram tirados de letra, caso um folião mais exaltado jogasse um punhado de farinha de trigo, ou maisena em algum transeunte pego de surpresa.
As crianças portavam óculos de plástico com uma liga de borracha que protegiam os olhos do pó ou dos jatos de água esguichados das lanças que pareciam extintores de incêndio e variavam de tamanho e cor. A serpentina e o confete eram mais usados nos bailes e nas matinês do Tênis Club. Os blocos ao tempo que desfilavam pelas ruas faziam visitas às casas dos familiares que gostavam de brincar o carnaval. Onde encontravam acolhida os blocos invadiam as casas, eram servidos de bebidas e petiscos. O mela-mela, e a casa toda molhada era o rastros deixado pelos foliões. Tudo tão simples, tão belo e ingênuo.
Um dos blocos mais tradicional é o “Bloco dos Cangaceiros”. Dentre os mais antigos atravessou décadas e conseguiu, passando de pai pra filho, permanecer até os dias atuais. O “Bloco do Urso Preto”. Ainda lembro a música: “Mais como foi mais como é/ O urso preto vem da barca de Noé/ Todo mundo já dizia que esse urso não saia/ Esse urso anda na rua com prazer e alegria.
Se formos falar de foliões corremos o risco de cometermos uma injustiça ao deixar de citar alguém. Arisco-me, pela força da recordação, citar um folião que muito me marcou ao vê-lo desfilar pelas ruas de minha cidade, o senhor Firmino Falcão, Entendente Municipal (assim era denominado o cargo de prefeito no passado). Apelidado de “Seu Nôzinho” desfilava solitário pelas ruas da cidade, trajando sua alegoria: de palhaço! Um octogenário palhaço a levar alegria às crianças pelas ruas da cidade. E m nome dele quero homenagear os demais.
Uma das músicas de carnaval mais antiga que tenho na cabeça é: “Quebra, quebra Guabiraba/ Quero vê quebra, quebra lá, que eu quebro cá/ Quero vê quebrar. Papai não quer mamãe fica zangada de vê a sua filha quebrando Guabiraba”.
Daí, 50 anos depois veio-me à dúvida, o que é uma Guabiraba? Uma fruto, quem sabe revestido de casca dura.
“Nome científico: Campomonesia adamantium (Cambess) O.Berg> Nomes populares: gabiroba, guabiroba, guabiroba-do-campo, guavira. Família botânica: Myrtaceae. Distribuição geográfica e habitat: Brasil, Argentina, Bolívia e Paraguai. Cerrado e Mata Atlântica. Características gerais: Árvore de pequeno e médio porte, 5 a 8 metros de altura. Frutos, são do tipo globosa, comestíveis e saborosos, sendo uma fonte de alimento também para a fauna. São imaturos, verdes com 1,5 cm, pubescentes. Fonte: todafruta.com .br”
A verdade é que nunca coloquei na boca uma Guabiraba, guavira ou gobiraba. Mas pode ter certeza, os anos passam e ainda hoje, quebro, quebro Guabiraba!
UM POUCO DE HUMOR PARA ENCERRAR
REEDIÇÃO DAS MARCHINHAS DE CARNAVAL
“Se você pensa que a Covid é nada/ Covid não é nada não/ Levou embora tanta gente amada/ E quem não cuida da vacinação”
“Ô jardineira porque estás tão triste, mas o que foi que te deixou tão mal/ Foi a Covid que por mais um ano estragou meus planos pro carnaval”
“Mamãe eu quero, mamãe eu quero/ Mamãe eu quero voltar/ Praquele tempo, em que a máscara/ Era adereço pra eu me fantasiar.”
“Quando a Covid for embora/ Ô Ô Ô ó glória.
Fabio Campos 27 de Fevereiro de 2022.
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