CHORA PIRRITA PRA CHUPAR UM PICOLÉ!

Fábio Campos

Vendedores de peixe, de porta em porta. Por essa época, é muito comum encontrar, oferecendo seus produtos, pelas ruas de Santana do Ipanema. Até aí nenhuma novidade, se uma característica não passasse despercebida, a forma como é vendido hoje em dia, em detrimento do modo de venda de tempos atrás. Antes, os peixes chegavam a nossa porta, em carrinhos de mão, dentro de um saco de nylon. Preocupação nenhuma tinha o peixeiro com a higiene. As mesmas mãos, a um só tempo manuseavam o peixe e pegavam o dinheiro.

Hoje em dia, o peixe chega até nós, acondicionado em freezers, ou caixas de isopor conservado em gelo, num carro com caçamba, ou reboque. Uma pessoa pesa, embala e entrega o produto. Enquanto outra dirige o veículo, faz a propaganda num serviço de som adaptado, e recebe o dinheiro. Tudo muito apropriado. Com esse tipo de venda existe também, um cem números de vendedores: de flores artificiais, quadros, cadeiras de palhinha, enfeites de gesso, argila, acrílico, vidro. Até plano de funerária, e etc.

Na rua que moro, passa ao cair da noite, uma Kombi da Padaria Familiar, oferecendo através de serviço de som, além de pães, tortas, pizzas, sopas, etc. Não deixa de ser um grande avanço na venda desse produto. Bem como ainda hoje acontece, como no passado, carrinhos anunciados por uma buzina manual. Algumas padarias de nossa cidade, já oferecem um serviço diferenciado e diversificado. Todo tipo de salgados e doces, além do serviço de lanchonete. A Center Pão dispõe inclusive, de self-service. No passado, duas padarias se destacavam em nosso comércio, Padaria Centenário de Seu Raymundo, e a Padaria de Seu Leó (Leovigildo). No bairro camoxinga tinham outras duas. Uma, lembro que era de Seu Antonio Souza.

Também o comércio de leite de gado bovino “in natura”. No passado existiu o porta a porta, no lombo de muares, assim como a água do Ipanema. É possível encontrar inclusive, em algumas calçadas muito antigas, as argolas onde os donos prendiam seus animais, enquanto estavam ali estacionados, pra deixarem leite ou água. No monumento lembro de algumas casas que vendiam leite: A casa de Dona Espercina, a casa de Seu Zé Quirino, a casa de Dona Gracira, esposa de Seu Abílio Pereira, entre outras. Meu pai João Soares, foi comerciante de estivas em geral, mas ainda hoje, é lembrado pelos mais velhos, que o conheceram, como o maior fornecedor de carne de porco e seus derivados dessa região.

Picolé e sorvete, eis outros produtos bastante comercializados no meio da rua. Sorveterias, pelo menos três, se destacavam no comércio de Santana na década de 70. Sorveteria Alpes, Sorveteria Alvorada e Sorveteria Maringá, do saudoso Antonio Teodósio. No Monumento, tinha meu tio Zé Soares que foi dono de sorveteria. O Pinguim, inicialmente de Seu Nôzinho, muito embora, mudaria de dono muitas vezes. Passaria por ali figuras folclóricas, como funcionário. A exemplo de Seu Epitácio, que iniciaria com a venda no carrinho pela rua. Pra atrair o cliente cantava. E tinha uns versinhos criados por ele que acabariam se tornando sua marca registrada. Ele costumava gritar:

“Menina bonita não paga!... Mas também não chupa!

“Chora pirrita pra chupar um picolé!”

Os moleques do monumento, do passado, também criariam uns versinhos pra Sorveteria do pai de meu amigo Jário Teodósio:

“Picolé da Maringá
Puxa a faca pra brigar
Se for homem venha cá! ”


Fábio Campos 25/04/2011 É Professor em S. do Ipanema – AL.

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