Pintores letristas Santana do Ipanema sempre teve muitos. Todos que conheci eram muito bons. Zezinho Bodega irmão de Alberto o popular Benga, é dos mais antigos. Havia duas vertentes para a autoria das cenas sertanejas retratadas nas paredes do cine Alvorada, alguns diziam ter sido Zezinho outros diziam ter sido feitas por “Colorau”. No final dos anos setenta, Ciço Lopreu e Dotinha (Washington Viana, hoje professor universitário da UNEAL, campus de Arapiraca) acrescentaram novas cenas as que já existiam.
Parabenizamos ao grupo Santana Center que resgatou nas mesmas paredes, réplicas daquela arte, antes existentes no antigo cinema.
Ainda sobre Zezinho Bodega, Fernando Soares Campos nos confidenciava certa ocasião, que o pintor ao retratar a paisagem do Rio de Janeiro no biombo do Bar Lira, desenhou o Cristo Redentor de costas pra cidade maravilhosa.
Todo artista letrista tem estilo próprio, pra quem manja do ramo é fácil identificar o pintor a partir de um trabalho seu, ainda que seja apenas uma tira de letras. Lembro da Livraria de Ana Agra, que tinha o nome pintado numa placa que reproduzia fielmente o formato de um livro, bem num cantinho a assinatura do autor do trabalho: “Colorau”.
Ateliê de Pintura em nossa cidade, se não me falha a memória, digno de ser classificado como tal, só dois possuiriam esse mérito: Um, foi o do esposo da professora Maria Vieira, ficava no início da Rua Ministro José Américo nos fundos da casa de Zé Abdon, "AkyArts", lembro que as paredes eram cheias de lindas gravuras e modelos variados de letras. O outro, é o de Belarmino. Este trabalha com característica de micro empresa. Há uma galera nova substituindo os antigos: Joninhas, AndréArts, Acilon entre outros. Artistas que retratam paisagens e a figura humana, nessa linha temos, Roninha, Sílvio, Dênis Marques entre outros.
O saudoso Adeilson Dantas, foi pioneiro em Santana do Ipanema com a técnica de silk-screen. Foi ele o autor da capa do livro Ribeira do Panema, do escritor Clerisvaldo B Chagas, num estilo super simplista, reproduziu em preto e branco a silhueta dum vaqueiro. Lembro ainda que pra fazer o desenho da fantasia do Bloco Intimidade com a Sogra o mesmo recorreria a nós para criar um visual pras camisetas. Seu primeiro carro um fusca amarelo, também ele nos encarregaria de pintar o escudo do Flamengo na tampa do motor.
Malta Neto, temos lembrança de que já trabalhou com pintura em silk-screen, numa linha mais moderna, introduziu a foto impressão.
Albertino era pintor letrista dos mais antigos, muito antes de Zezinho Bodega. Já o conheci exercendo outra profissão, a de eletricista. Era um eterno brincalhão. Muitas vezes vi-o tirar a prótese dentária e fazer uma careta horrível digna de provocar gargalhadas, ou assustar uma inocente criança. Tinha o corpo cheio de tatuagens. Para não chamar muito a atenção vestia permanentemente uma camisa de mangas compridas, mesmo assim não conseguia evitar a curiosidade das pessoas. Dava pra perceber que não gostava muito, quando faziam perguntas sobre as tatuagens. Quase todos os dias, ia a Mercearia de Seu João Soares, tomar café, com um pão que ele próprio fazia na Padaria Centenário de Seu Raymundo. Participei de várias de suas conversas. Como essa:
-Sabe por que a jumenta quando entra na cidade não vai presa?...
-Não, Por quê?
-Porque tem carteira, rapaz!
-E’t hell man! Sabe o que eu disse?
-Não?
-Vá pro inferno homem! Aprendi a falar inglês com os gringos no cais do porto em Santos!
-Albertino você ainda pinta?
-Não..E você, pinta com meu pinto? hahahahaha. Eu pinto sim. Pinto o sete e a sombra do oito! Um português em São Paulo pediu pra eu pintar uma tira de linguiça na porta da padaria. Ficou tão perfeito! Tão perfeito que no outro dia não estava mais lá...Os cachorros tinham comido! Hahahaha.
Fabio Campos 07/01/2011 É Professor em S. do Ipanema-AL.
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