A BICICLETA DA IRMÃ LETÍCIE

Fábio Campos

Quando tínhamos, aqui em Santana do Ipanema, a Escola Sagrada Família, entre nós do Monumento conhecida como Colégio das Freiras ( das irmãs holandesas), tinha ali a irmã Letície. Noutra oportunidade falávamos do Fusca da irmã Leôntia, agora chegou a vez da bicicleta da irmã Letície.
Descrevamos as características do biciclo, pra que você tenha uma idéia. Não era de fabricação nacional, talvez tivesse vindo da Holanda. Era toda preta, o selim era de couro reforçado, com duas espirais de molas no apoio. Desafiava a imaginação de qualquer observador: Como era que aquela freira com toda largura de corpo que possuía conseguia se apoiar naquele selim? O guidão era retorcido e muito engraçado. Dotada de um potente farol que funcionava a dínamo, tinha uma campainha com guizo. A bicicleta não possuía quadro, um cano inteiriço descia do guidão e ia direto pro selim. A corrente era guardada por uma placa preta e o freio era contra-pedal. Isto é, brecava se movimentasse os pedais ao contrário. Pense numa presepada.

Naquele tempo Doutor Walter, ex-diretor do Ginásio Santana juntamente com o ex-fiscal do Fisco Luiz Dantas, ainda não tinham inventado o altar da pátria, de forma que na Praça da Bandeira funcionava um campinho de futebol. Nos quatro turnos do dia: Manhã, tarde, noite e madrugada, tinha moleque jogando bola ali. Os “secura” jogavam meio-dia em ponto, com o sol tinindo. Citaremos a título de ilustração o nome de alguns desses jogadores: João Carnaúba, Rosival Sobreira, Aguinaldo do Hotel, Fernando “Negrote”, Junior China, Gervásio, Gilson e Juarez (os irmãos Carvalhos),Miltinho e Marcos Davi, Nego Cid, Doda e Zé Carlos de Evilásio, Leopoldo e Maurício de Seu Dota, Marruá de Lourival, Elias Pisirica (irmão de Benedita a popular nêga), Berruguinha, João de Dona Helena Chagas, Ciço de Tereza, entre outros.

Certa vez, lá vem a irmã Letície guiando sua estranhíssima bicicleta, justamente no momento em que um chute mais entusiasmado de um projeto de jogador, fez a bola rolar pro meio da rua. E lá vai Ciço de Tereza no encalço da pelota. Não deu outra: Tremendo encontrão, entre bicicleta com freira, bola e maloqueiro. A irmã num reflexo invejável pra sua idade, pulou do biciclo e foi em socorro do moleque. As irmãs tinham uma característica interessante, quando ficavam nervosas desaprendiam a língua portuguesa e só falavam em holandês. Pense na bagaceira! A freira preocupada tentando se desculpar em holandês. Ninguém entendia nada. Passado o susto, sobrou uma raladura avermelhada na perna de Ciço de Tereza. E a irmã Letície recuperada a calma e nossa língua pátria, se desculpava repetidamente numa voz carregada de sotaque e um sorriso amarelo.

Fabio Campos 15/02/2011 É Professor em S. Do Ipanema –AL.

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