Antonio Machado
Patativa do Assaré escreveu, e o Gonzagão cantou na triste partida: “janeiro passou/ porém chuva não veio/ o sol bem vermelho/ nasceu muito além/ no topo da serra/ só se ouve a cigarra/ ninguém vê a barra/ pois barra não tem”. É assim que está o sertão de cabra da peste, com água nos açudes, porém sem chuva como um fenômeno da natureza, porque neste ano da graça de 2011, ele não disse ainda a que veio até o presente, somente o calor abrasador campeia alto em dias quentes gerando noites mornas, com fins de tardes sem prenúncio de chuva. Aguardavam-se as trovoadas de janeiro no passado era com certeza, como alento dos sertanejos, porém este ano, sequer se formaram deixando sertanejos a ver navios, não fosse, pois, as trovoadas do ano passado, 2010, que foi um ano de muita chuva, o sertão estaria numa situação muito mais caótica do que a que hora vive.
Os carros pipas enfrentam as estradas sertanejas abastecendo as comunidades, como único refrigério, enquanto o gado ainda bebe as últimas reservas nos grandes açudes que armazenam água do inverno passado. Os agricultores já estão concluindo seus roçados, preparando-se assim para o inverno, enquanto os mais velhos, que já vivenciaram situações idênticas, baseados em suas experiências, dizem que este tem cara de ano seco, contudo as previsões ainda são vagas, haja vista o ano ainda está nos três primeiros meses.
Enquanto isto o sertão vem experimentando uma onda de calor exorbitante chegando ao patamar de trinta e oito a quarenta graus Celsius à sombra, as arvores estão perdendo a folhagem vertiginosamente, face a falta de água, e com isto gera a falta de trabalho , e o sertanejo se vê obrigado a praticar o êxodo, emburacando para região de mata ingressando no eito da cana, na busca de sobrevivência, deixando atrás de si a família carecendo de tudo. E até quando este drama vai continuar? São cenas que representam a todo ano, porque a miserabilidade fala alto na casa do pobre. E a fome zero? Isto é uma utopia, estes governos que aí estão, jamais erradicarão a fome do sertanejo, porque eles precisam é de trabalho que gere renda, e não esmolas de bolsa família, porque juntando todas essas bolsas dadas pelo governo, não somam sequer um salário mínimo, a bolsa é somente para colocar os pobres dentro e os enrolados para manter os aloprados no poder. Enquanto isto os sertanejo amarga uma falta de chuva, sem trabalhar e sem nada. Ante todos estes percalços que ora vivencia o sertanejo, o sertão parece viver uma seca “laite”, com seca sim, mas com água, face a tudo isso o poeta Cally Flores, arraigado a sua terra, escreveu esta décima, muito oportuna: “ a seca ta me empurrando/ de minha terra querida, / pois parte da minha vida/ vivi neste pedaço de chão,/ faz parte de meu coração/ aqui estou infincando/ por tudo que é sagrado/ não vou deixar meu torrão/ sem utopia nem ilusão/ não deixo meu torrão amado”.
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