Há poucos dias, recebi de Nelson Almeida Filho cópia de extensa e bem produzida biografia de Aldemar Paiva, irmão do nosso colega do Banco do Brasil, Alberto Mário Buarque de Paiva.
Alberto faleceu em 1997 e Aldemar, em 2014.
Antes de iniciar a conversa de hoje, devo dizer que nela tratarei, principalmente, de dois motes, que me foram surgindo enquanto digitava este texto.
O primeiro, o da relação familiar e amistosa entre irmãos, pela necessidade de melhor identificação de ambos na sociedade, no meio social e profissional em que vivem.
O segundo mote referir-se-á a ditados, máximas e provérbios, frutos da sabedoria popular, trazida, possivelmente, pelo colonizador português e arraigada na cultura e na vida do brasileiro.
Aldemar Paiva era ator, radialista, jornalista, escritor, poeta, declamador, compositor, publicitário. Além de ícone do rádio, TV e teatro pernambucanos, ele foi um dos fundadores da Rádio Difusora de Alagoas, em 1948. Dirigiu, por 18 anos, o festejado programa “Pernambuco Você é Meu”, da Rádio Clube de Pernambuco. Alagoano de Maceió, Aldemar Paiva viveu sua vida artística no Recife. Conviveu com Chico Anísio, Nelson Ferreira, Capiba e outros expoentes da cultura pernambucana. Uma vida de glória artística que honrou a cultura alagoana. Seu nome deverá figurar, com toda justiça, na galeria das grandes personalidades históricas de Alagoas.
Na relação de irmão com irmão, esclareça-se que nela não haverá a condição de mais ou menos famoso, de superioridade, de maior ou menor status social. Apenas, identificação. Como cada um era conhecido.
Se alguém perguntasse, por exemplo, a Alberto Paiva se ele era irmão de Aldemar, certamente ele diria: “Ele é quem é meu irmão.” Invertendo a ordem de referências, Aldemar faria o mesmo. Claro, tratar-se-ia de clima de gracejos de irmãos. Nada mais.
Assim, também, acontece comigo, quando visito Santana do Ipanema, minha terra natal. Com mais de 40 anos residindo em Maceió, às gerações desse período, sempre respondo: “Sou irmão de Gileno.”
Ainda adolescente, a alguém que me indagava a esse respeito, respondia: “Sobrinho de José e Manoel Constantino.” Pronto. Tornava-me conhecido na praça, ou aonde fosse.
Em evento de Lions Clube realizado em 2003, em Salvador, Bahia, adquiri um dos livros de autoria de Itaberaba Lyra, que escreveu na orelha do exemplar: “Máximas e provérbios à disposição de todos, sabedoria milenar, tesouro de grande valor em pequeno frasco, eis o que representa Já Dizia Minha Avó...”
Deliciei-me com a leitura do livro, já em 2ª edição, recheado de adágios, aforismos, ditos, ditados, refrãos, máximas, provérbios e expressões idiomáticas. Quanto a provérbio, disse o autor: “Trata-se de linguagem metafórica, isto é, de recurso em que há transferência de uma palavra para o âmbito semântico, que não é o do objeto que ela designa.”
Tudo isso contido em 141 páginas.
De espírito empreendedor, Alberto Paiva foi um dos responsáveis pela construção do moderno prédio da antiga AABB de Santana do Ipanema, inaugurado em 7/7/1957. Exerceu a função de contador (hoje subgerente) na agência de Santana do Ipanema, no período de 1955 a 1957, por aí.
Reencontramo-nos em Maceió em 1975. Ele, administrador do edifício da agência Centro de Maceió. Eu, chefe de supervisores.
Inteligência privilegiada, bonachão, alegre, gozador. Tocava violão, era boêmio. Alberto Paiva, em farra, ao lado de colegas, não dispensava um bordão, uma frase-feita, uma piada inteligente. Gostava de repetir: “Vamos opilar?”
Em Santana do Ipanema, estávamos presentes, eu e outros convidados, em animada farra de fim de semana em sua residência. Já um pouco tarde da noite, um dos convidados, ao despedir-se de Alberto Paiva, disse: “Vou chegando.”
Aí, Alberto Paiva não perdeu a oportunidade: “Então, está chegando, sente-se.”
Maceió, fevereiro de 2021.
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