TINHA BONITO NOME

Djalma Carvalho

Algumas pessoas são mais conhecidas no ambiente de trabalho e em rodas de amigo pelo apelido que não mais as incomoda. Assim, nada há que fazer com o apelido por elas adquirido no caminhar da vida. Podem ser citados inúmeros exemplos de apelidos já incorporados, oficialmente, ao nome do requerente.
Certo dia, um amigo de infância de Fernando Paraíso chamou-o à porta pelo apelido. A tia que atendeu o amigo, disse-lhe: “Aqui mora Paulo Fernando Paraíso de Carvalho, por sinal um nome muito bonito!” E retirou-se.
Lembro-me, vez por outra, de colegas que passaram pela agência do Banco do Brasil em Santana do Ipanema e deixaram alguma marca de recordação no ambiente de trabalho e na própria cidade. Alguns se integraram à comunidade santanense, ora como professores do Ginásio Santana, ora como membros de clubes de serviço. Outros ficaram conhecidos pelo lado brincalhão, folclórico, boêmio; outros mais, pelo apelido, como legado.
Dia desses, encontrei-me, em clima de festa de confraternização natalina, com antigos colegas de trabalho, abraçando-os, cumprimentando-os. Lembramo-nos de Pedro Aurélio Silva Rocha, arisco jovem procedente do Recife, aprovado em concurso do Banco do Brasil e nomeado para a agência de Santana do Ipanema. Chegou por lá no final da década de 1960, por aí. Magrinho, cabeça fina, rosto afunilado, cabelos curtos e gestos rápidos. O novato colega logo foi convidado para hospedar-se na “República dos Bancários”, assim chamado o alojamento então existente em casa residencial na Avenida Martins Vieira, uma das elegantes vias públicas da cidade.
Ao recebê-lo para posse, disse-lhe: “Você tem nome de batismo de general. Bonito nome.” Referia-me ao general Pedro Aurélio de Góis Monteiro, ilustre personalidade da História do Brasil, após a Revolução de 1930. O general foi ministro da guerra, em 1934, do presidente Getúlio Vargas; em 1945, do presidente Eurico Gaspar Dutra; e senador federal por Alagoas, de 1947 a 1951. Vaidoso por isso, respondeu-me que, embora tivessem residência fixada no Recife, seus pais eram originários de Alagoas. Certamente, seu nome de batismo teria sido escolha inspirada no nome do referido militar alagoano.
Pareceu-me, de início, que o novato Pedro Aurélio – que seus colegas de trabalho logo lhe deram apelido – possuía algo estranho no seu comportamento, em sua personalidade. Deu-me a idéia, para meu governo, de jovem inquieto, meio pirado. Mas começou a trabalhar normalmente.
No primeiro baile de São João que a AABB local promoveu, após sua posse no Banco, Pedro Aurélio lá apareceu enfeitado de palhas de coqueiro a rodopiar, sozinho, no salão de forma descontrolada e fora de ritmo. Parecia que ele havia ingerido bebidas alcoólicas, talvez além do limite. Alguns colegas, percebendo aquele comportamento espalhafatoso, ou estado de embriaguês, procuraram levá-lo de volta à “República”, para descanso, para acomodá-lo adequadamente. Mas nada valeu. Minutos depois, eis o perturbado colega novamente no salão, com a mesma fantasia e com o mesmo rodopiado.
Seu desempenho no trabalho era regular. Mas contestava o horário de início da jornada de trabalho, às exatas 7 horas. Ficava do lado de fora do prédio e somente assinava o ponto na hora exata. Claro que, desse modo, contrariava o regulamento do Banco, que exigia que o funcionário, às 7 horas, já estivesse no seu posto de trabalho, iniciando sua tarefa diária.
Finalmente, não sei a quem atribuir, na agência, o apelido de “Pedro Preá”. Não sei, também, se havia alguma semelhança entre Pedro Aurélio e o conhecido mamífero roedor que vive nos capinzais nordestinos, à beira de rios e lagoas, e sai à noite para alimentar-se. Assim ele era chamado pelos colegas de Banco. Não se incomodava com o apelido. Educado, divertido, nenhum mal fazia a ninguém.
Durante mais de vinte e oito anos exerci funções administrativas no Banco do Brasil (nível médio, subgerente e gerente de agência) dirigindo pessoal. Nesse período, deparei-me com todo tipo de figuras humanas. Pedro Aurélio Silva Rocha, uma delas, ficou em minha memória. Passou pouco tempo em Santana do Ipanema, sendo transferido para Recife, onde faleceu. Certamente, levou consigo o apelido.

Maceió, janeiro de 2019.

Comentários