OS TEMPLÁRIOS: SOCIEDADES SECRETAS

Djalma Carvalho

Em setembro de 2005, estive em Portugal pela primeira vez. Compunha o grupo literário alagoano, denominado II Voo Cultural Alagoas-Portugal, quando tive a oportunidade de visitar o Convento de Cristo, fundado em 1162 pela Ordem dos Cavaleiros Templários, localizado na cidade de Tomar. O sítio era, então, muito procurado por turistas e historiadores do mundo inteiro.
Dali trouxe comigo, como relíquia e ainda guardado a sete chaves, um pedacinho de concreto da construção do gigantesco castelo em ruínas.
Quem foram os Cavaleiros Templários?
Segundo o livro Templários: Sociedades Secretas (Editora Universo dos Livros, São Paulo, 2006), de autoria do historiador Sérgio Pereira Couto, os Templários foram estranhos monges guerreiros, homens de fé e de sangue, produtos humanos de origem da Igreja católica daquela época. Criada pelo papa Eugênio III em 1148, a cruz vermelha era usada nos mantos brancos desses guerreiros, acima do coração, como símbolos da Ordem e da Pureza. Doutrinados para ações bélicas, eles empunhavam, por exemplo, a espada como “instrumento de Deus para o castigo de malfeitores e para a defesa dos justos”.
Sabe-se que Jerusalém é uma das cidades mais antigas do mundo. Teria sido fundada pelos povos semitas ocidentais há cerca de 2600 a. C. É considerada sagrada pelo judaísmo, cristianismo e islamismo. Sua história é longa. Destruída duas vezes, sitiada 23 vezes, atacada 52 vezes e capturada e recapturada 44 vezes.
Segundo a história judaica, em Jerusalém estariam guardados tesouros, a Arca da Aliança, o Santo Sepulcro, o Santo Sudário e o Santo Graal, o cálice usado na Santa Ceia. Com toda essa riqueza, tesouros e símbolos sagrados, a Terra Santa teria despertado, ao longo dos séculos, a cobiça e a sanha aventureira dos conquistadores.
Assim, em 1099, por exemplo, a cidade foi conquistada pelos cruzados. “Jerusalém caiu nas mãos dos cristãos, que, não contentes em conquistá-la (...), promoveram verdadeira carnificina, matando os muçulmanos, sem poupar mulheres nem crianças.” Mas, em 1187, a cidade de Jerusalém foi retomada dos cruzados pelos muçulmanos, que dizimaram a população cristã.
A partir daí entram em cena os Templários, ordem fundada em 1119 por Bernardo Clairvaux (1090-1153), pregador da Segunda Cruzada. A Ordem dos Templários era tida como secreta e misteriosa, cujos cavaleiros exerceram verdadeiro fascínio na Idade Média, entre 1119 e 1314.
Templários e Maçons estariam ligados por laços históricos, a partir das construções da época, em particular o gótico, a cargo das Sociedades de Pedreiros-Livres.
Inicialmente, os Templários iriam evitar vinganças das tribos árabes das regiões vizinhas de Jerusalém. Também, ofereceriam segurança aos peregrinos que se dirigiam
à Terra Santa, além de combate aos infiéis.
Os Templários, ao longo de cerca de 200 anos, adquiriram poder e riqueza terrena, fundando sede na Europa, principalmente na França. A riqueza dos Templários cresceu exponencialmente a ponto de dar à Ordem um verdadeiro império mundial. Essa riqueza e as propriedades adquiridas causaram a cobiça de Filipe IV, o Belo, arrogante soberano da França, que reinou entre 1268 e 1314. Esse rei passou, então, a perseguir os papas Bonifácio VIII e Clemente V, obrigando-os a abrir investigação contra Jacques De Molay, o último grão-mestre dos Templários.
Em 13 de outubro de 1307, Filipe IV “ordenou que todos os Templários do reino fossem presos e as riquezas da Ordem confiscadas”.
Entre 1307 e 1377, por 70 anos, a sede da Igreja católica esteve em Avignon, cidade ao sul da França. Filipe IV, por intermédio do seu super ministro Guilherme de Nogaret, perseguira o papa Bonifácio VIII, falsificando suas bulas e pondo os franceses contra ele e demais papas. Forçara Bonifácio VIII a renunciar. Esse papa reagiu: “Aqui está meu pescoço, aqui está minha cabeça: morrerei, mas morrerei papa!” A morte desse papa, envenenado, teria sido obra de Nogaret. O papa Clemente V, ao contrário, pusilânime, cedera ao abuso de autoridade de Filipe IV, permitindo a abertura de investigação contra os Templários, até então a esse papa diretamente subordinados, “acusados de hereges, imorais e praticantes de magia”.
Disse, a propósito, o arrogante e autoritário rei: “Sabeis que o rei da França quer e manda, e que, quando mando e quero, nem o próprio Deus pode opor-se aos seus desígnios!”
O rei Filipe IV aceitou, sem provas, as indignas e falsas acusações do seu influente ministro Guilherme de Nogaret, condenando, inapelavelmente, De Molay à fogueira, em 18 de março de 1314, pondo fim à Ordem dos Templários na França.
Cabe, aqui, a lapidar frase de Karl Marx: “A história se repete, a primeira vez como tragédia, e a segunda como farsa.” Frase atual, embora escrita em 1852.
Antes do seu sacrifício, vaticinou, corajosamente, De Molay: “Intimo o papa Clemente V em 40 dias, e Filipe, o Belo, em um ano, a comparecerem diante do legítimo e terrível trono de Deus, para prestarem conta do sangue que injusta e cruelmente derramaram.”
Antes de morrer, De Molay lançou fatídica maldição contra o papa Clemente V, Nogaret e Filipe IV. Maldição cumprida integralmente. Todos morreram no tempo marcado pelo condenado.
Derrotados e perseguidos, os Templários, afinal, refugiaram-se na ilha de Chipre e na Europa, particularmente na Grã-Bretanha. Segundo o livro inicialmente citado, “a verdadeira sucessora dos Templários, ainda em atividade, tem sua sede em Portugal. Essa Ordem atende pelo nome de Ordem de Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo ou, simplesmente, Ordem de Cristo, da qual grandes nomes da história (entre eles Pedro Álvares Cabral, Dom Pedro I e Dom Pedro II) teriam sido membros”.

Maceió, janeiro de 2020.

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