Logo de manhã, costumo visitar minha roseira preferida no jardim daqui de casa, de perfumadas pétalas cor-de-rosa, chamada de La France, dela cuidando carinhosamente.
Diz-me o confrade João Neto Félix Mendes, consultado e conhecedor de rudimentos científicos de Botânica e de parte da biologia que estuda as plantas, que se trata de roseira rara e presumidamente em extinção.
Lembro-me de que faz muito tempo que adquiri uma muda desta especial roseira em Santana do Ipanema, graças à gentileza da senhora Dolores Dantas, possuidora, à época, de um lindo jardim em sua residência.
Confesso que tenho certa dificuldade em descobrir a diferença dos vocábulos de domínio da Botânica, existente entre flor e rosa. Fico no estreito entendimento de que o primeiro seja produto de plantas especiais, que consiste de cálice, corola, estame e pistilo. De que o segundo seja, então, flor de roseira, sem ramo e folhas, cuja corola se abre em muitas e delicadas pétalas, de agradável aroma, normalmente perfumadas.
Encanta-me tratar de jardins floridos, de canteiros belíssimos. Por onde ando ou viajo pelo mundo afora, estou sempre a admirá-los, porque inspiradores de poetas e compositores. Nunca dispensei uma foto nesses encantadores e históricos canteiros.
Logo à entrada de Garanhuns, Pernambuco, o curioso relógio das flores, que marca horas, serviu de precioso mote ao poeta Ronildo Maia Leite, para escrever poema em louvação ao jardim e a esse recanto turístico de sua cidade natal. Em uma das estrofes, lê-se: “Os ponteiros são galhos de avencas,/ o miolo esbugalha um girassol./ Uma rosa vermelha ao meio-dia,/ violetas à uma hora da tarde,/ hortênsias às quatro,/ Bogaris às cinco./ Rebentam-se lírios às seis da noite,/ na hora da ave-maria.”
Também em Gramado, na Serra Gaúcha, sente-se o respirar da cidade de agradável clima, realmente transformada em um grande jardim a céu aberto, a partir de hortênsias que enfeitam as margens da rodovia de acesso ao lindíssimo e aconchegante sítio turístico.
Flores, jardins e rosas serviram de inspiração, como disse acima, a poetas, compositores e autores de eternas baladas e canções que enriqueceram o cancioneiro nacional e, quiçá, o universal.
Refiro-me, por exemplo, a Angenor de Oliveira (e não Argenor, como ele dizia chamar-se), nosso Cartola (1908-1980), autor do clássico e inesquecível samba “As Rosas não Falam”, composição de quando ele tinha 67 anos de idade.
Vejamos, afinal, um pedacinho do samba:
“Volto ao jardim/ Queixo-me às rosas/ Que bobagem as rosas não falam/ Simplesmente as rosas exalam/ o perfume que roubam de ti.”
Maceió, agosto de 2020.
Comentários