Djalma de Melo Carvalho
Membro da Academia Maceioense de Letras.
Adivinhão ou adivinhador é quem tem o dom de descobrir, por meios hábeis, por interpretação, indução ou por intuição, algo oculto respeitante ao passado, presente ou futuro. Pode ser um bruxo, um feiticeiro ou alguém com poderes sobrenaturais. O cartomante também pratica a adivinhação, mas por meio de cartas de jogar.
A prática de adivinhar ou de prever o futuro remonta à Antiguidade, à Grécia Antiga. As sacerdotisas, também chamadas de pítias ou pitonisas, previam o futuro. A pesquisadora Diana Arássad, autora de texto, sobre o assunto, publicado no Google, disse: “No Oráculo de Delfos, a sacerdotisa Pítia previa o futuro, recitando a vontade das divindades. Os gregos preocupavam-se em ter uma visão do futuro e o faziam através de rituais religiosos, donde aparecem os oráculos onde mulheres representantes de alta intuição, conhecidas como pitonisas, faziam revelações.”
Em viagem de ônibus entre Palmeira dos Índios e Santana do Ipanema, lá para o mês de setembro de 1962, salvo engano, surgiu no corredor do veículo um senhor de meia idade, bem corado, com alguns dentes de ouro à vista, falante e com pinta de violeiro repentista. Dizia-se adivinhão ou adivinhador, e aos passageiros pedia para ler a mão, sem nenhum custo ou recompensa.
Viagem por estrada de rodagem ainda sem asfalto, numa tarde de muito calor e poeira, realizada ao longo de 70 quilômetros de distância entre as duas cidades alagoanas.
Depois, cada passageiro que liberara a mão para leitura, discretamente ou não revelava que o adivinhador acertara muita coisa de sua vida.
Sou católico, meio desleixado. Sempre fui arredio a coisas de adivinhos, de bruxos ou feiticeiros, respeitando, porém, crenças e credos exóticos, sem neles acreditar, mas acreditando.
Quanto a mim, recusei dar a mão ao adivinhador. Disse-lhe, de imediato, que estava contente com o meu passado e com o meu presente. Quanto ao futuro, esperava bem administrar o meu destino.
Assim dizendo, fiquei livre de possível insistência do adivinhador. Ele, então, deu uma paradinha e, de dedo em riste, olhou-me sem raiva aparente, dizendo-me: “O senhor é um sujeito de sorte!” A seguir, procurou o passageiro da poltrona vizinha.
Acabo de completar 80 anos de idade, em meio às emoções da festa comemorativa de aniversário, abraçando a esposa, familiares e amigos. Graças a Deus, com saúde e sem percalços. Pensando bem, diria que tudo isso, afinal, poderia ser considerado, com humildade, como processo de se ter sorte na vida.
Maceió, setembro de 2018.
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